"Não temos qualquer plano de emergência ou evacuação.
Há quatro anos que solicitei a sua elaboração à Câmara
Municipal e Bombeiros Voluntários, e há quatro anos que aguardo
uma resposta". A afirmação é da presidente do Conselho
Executivo da Escola Básica do 1º Ciclo nº 1, conhecida também
por Escola de São Silvestre, Ana Bela Ribeiro. Este estabelecimento de
ensino é um dos "inspeccionados" quanto à existência
dos instrumentos legais de prevenção de riscos, a sua actualização
e aplicação.
De facto, a Escola de São Silvestre, das contactadas, é aquela que
não reúne as condições de segurança mínimas.
Uma situação agravada pelo facto de se localizar numa zona onde
os "acessos são muito maus". "Apenas temos dois extintores
por piso, colocados há quatro anos. Mas que são verificados periodicamente",
revela Ana Bela Ribeiro, acrescentando que a porta de entrada no recinto da escola
se mantém sempre aberta e que esta abre para fora, algo obrigatório
por lei. Ao contrário das das salas de aula, que continuam a abrir para
dentro.
Esta responsável já pediu aos Bombeiros da Covilhã a realização
de um simulacro, "mas a resposta tarda em chegar". Refere que a única
entidade que visitou a escola foi a Protecção Civil, "que nos
deixou um CD com informações para elaborarmos um plano". "Arranjei
as plantas do edifício, mas ficou tudo por aí", diz a professora.
Apesar de nunca ter havido "uma situação grave", Ana Bela
Ribeiro tem consciência de que "as coisas podem complicar-se ainda
mais" face à inexistência destes mecanismos de segurança.
"As escolas do 1º Ciclo e jardins de infância são muito
esquecidos", remata.
O levantamento efectuado recentemente pelo Sindicato Nacional e Democrático
dos Professores (Sindep), em conjunto com a Associação Nacional
de Bombeiros Portugueses (ANBP), vem dar razão à constatação
de Ana Bela Ribeiro. A situação verificada em 506 escolas (40 por
cento do total nacional) das quais algumas no distrito de Castelo Branco, é
na, sua maioria, de "alerta vermelho". Em declarações
ao NC, o secretário-geral do Sindep, Carlos Chagas, refere que o que se
vive nas escolas que aceitaram responder ao estudo é de "perigo iminente".
E as do 1º Ciclo e jardins de infância aquelas que se apresentam como
os exemplos mais graves de insegurança e incumprimento das normas.
Questionado, Carlos Chagas não revela os nomes dos estabelecimentos onde
a situação é "quase catastrófica". Mas afirma
que das 11 escolas consideradas "modelo", isto é, onde existem
os instrumentos de prevenção, nenhuma delas se localiza no distrito
de Castelo Branco. Porém, avisa, "se para o ano a situação
se mantiver, divulgaremos os nomes de todas as escolas e responsabilizaremos todas
as entidades individualmente". Ainda que, não queira desresponsabilizar
as escolas, o sindicalista advoga que "a segurança não tem
sido um objectivo prioritário das câmaras municipais". "Este
estudo procura sensibilizar toda a comunidade educativa, autarquias e demais intervenientes
nesta questão", remata Carlos Chagas.
Maria do Rosário Pinto da Rocha, vereadora da Educação na
Câmara da Covilhã, mostra-se preocupada com a situação.
E dos casos apontados, a Escola de São Silvestre. "É realmente
uma escola com acessos complicados. Tem-se tentado evitar o estacionamento nas
proximidades e o portão de entrada foi alargado", diz. Num concelho
onde existem 48 escolas e 34 jardins de infância, a vereadora sustenta que
fazer-se planos de emergência e alterar saídas, por exemplo, "comporta
grandes encargos financeiros para a autarquia". "Aumentam as competências
e responsabilidades das edilidades, mas sem os respectivos recursos", lembra
Maria do Rosário. A responsável pela pasta da Educação
reconhece também que existe um défice no que concerne às
portas de emergência a abrir para fora.
Frei Heitor Pinto e Quinta das Palmeiras com plano; UBI até final do
ano
Desde 1999 que a Escola Frei Heitor Pinto possui plano de emergência. A
informação é revelada por Aníbal de Jesus Mendes,
presidente do Conselho Executivo. "Temos também toda a sinaléctica,
extintores e um encarregado para verificar as condições de segurança
de todos os equipamentos", afirma. O que falta, acrescenta, é um simulacro,
que até à data não se pôde realizar "porque os
bombeiros nos disseram que não tinham condições". Apesar
do cenário a nível nacional, Aníbal de Jesus Mendes assegura
que, em caso de alguma situação grave, os alunos sabem como se comportar
e por onde se hão-de dirigir. O presidente do Conselho Executivo da Frei
Heitor Pinto anuncia também que está em marcha a colocação
de plantas visuais.
Já na Universidade da Beira Interior (UBI) trabalha-se, desde há
meio ano, na elaboração de um plano de emergência, cuja conclusão
se prevê para final de 2003. Margarida Lino, arquitecta e responsável
pela segurança na instituição de ensino, refere que existe
uma certa dificuldade em fazer o plano devido ao facto da UBI estar dispersa por
vários edifícios. "Temos sub-planos, segurança contra
incêndios, saídas de emergência, extintores e barras anti-pânico",
informa Margarida Lino. Apesar de ainda não ter sido realizado qualquer
simulacro, a arquitecta afiança que o será em breve.
Na Escola Básica do 3º Ciclo "Quinta das Palmeiras", o teste
quase que permanente do plano de emergência é uma preocupação.
"Basta mudar o aspecto do edifício, modificar-se alguma coisa, para
nós o testarmos", declara Paulo Mineiro, presidente do Conselho Executivo.
Segundo este responsável, o estabelecimento de ensino possui já
há vários anos um plano, "até antes de ser obrigatório"
e a actualização chega a ser feita várias vezes por ano.
Os acessos são fáceis e o facto da escola ter bastante espaço
ao ar livre facilita a eventual evacuação dos alunos. "Em caso
de emergência, os estudantes não têm qualquer dificuldade em
sair", garante Paulo Mineiro, referindo que o plano da "Quinta das Palmeiras"
já serviu de exemplo para outros estabelecimentos escolares.
Apesar dos exemplos aqui apontados, ainda existem escolas no concelho sem plano
de emergência. Neste ponto, João Esgalhado, vereador da Protecção
Civil na autarquia da Covilhã, revela que a "Câmara, em conjunto
com os responsáveis com conhecimentos e formação na área,
está a analisar e a negociar a elaboração de planos de emergência".
E remata: "Queremos saber quais as necessidades no sentido de garantir as
melhores condições de segurança nas escolas do concelho".
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