O mundo conheceu e apaixonou-se pelos Goldfrapp através de canções
inspiradas como "Human", "Pilots", "Lovely Head",
"Utopia" servidos na estreia do projecto em "Felt Mountain".
O esperado segundo álbum, embora não seja mais do mesmo,
é uma surpresa encantadora.
"Felt Mountain" era um trabalho fortemente inspirado, uma espécie
de trip-hop idílico construído de grandes canções
que obteve a rendição da crítica e do público.
Ciente deste facto, e do impacto deste disco - que por cá abarrotou
a Aula Magna, em Lisboa - a pergunta era pertinente: será uma missão
difícil fazer o disco sucessor? Na altura, Alison Goldfrapp respondia
à Voxpop: "Não, afinal 'Feltmountain' não teve
assim tanto sucesso". Apesar de consciente quanto aos elogios em
torno de "Feltmountain", o futuro era uma incógnita para
Allison Goldfrapp: "nunca se sabe como será [o novo álbum],
poderá não ser tão forte, ou poderá ser ainda
melhor", acrescentando que "o segundo álbum é
sempre difícil de se fazer".
Com a edição de "Black Cherry" acabou-se o suspense,
a dúvida fica desfeita e todos estamos esclarecidos. Este segundo
disco é definitivamentre um volte de face. Atento às recentes
correntes electropop e com os pés bem sincronizados na disco dos
anos 70 e pop dos anos 80, os Goldfrapp gravaram um álbum arrojado
que rompe com a ideia de que Alison Goldfrapp poderia ser a nova Beth
Gibbons.
Com o glamour à flor da pele, a enérgica personalidade de
Alison Goldfrapp está cada vez mais evidente, marcando o tom, a
cor, o ritmo e a intensidade das imagens em "Black Cherry".
Sim, porque a imagem deste disco traduz na perfeição o seu
conteúdo musical.
A potente voz de Alison Goldfrapp e as suas brilhantes canções
escritas a meias com Will Gregory, o outro cérebro do grupo, continuam
a espelhar o caminho da música neste século XXI, com uma
produção cuidada que continua a abrir caminho na música
de dança electrónica actual. Temas como "Train",
"Strict Machine", "Deep Honey", e "Tiptoe"
são algumas das pérolas deste disco. A força e energia
por eles destilada tem um sabor retro-futurista. E o futuro, bem apoiado
no passado, parece sorrir para os Goldfrapp.