O conhecido académico Adriano Moreira apresentou uma comunicação sobre a problemática das fronteiras
Confronto de posições
Olhar o terrorismo de frente

A UBI foi o palco de um seminário aberto liderado por Adriano Moreira, com o fim de se publicar um livro sobre a interdisciplinaridade do terrorismo.


Por Daniel Sousa e Silva


"A ideia de organização de um seminário aberto decorre de um projecto de Adriano Moreira, que brevemente vai ser transformado em livro", afirma José Carlos Venâncio, docente da UBI. "A problemática do terrorismo hoje. Uma perspectiva interdisciplinar.", seminário organizado pelo Centro de Estudos Sociais da UBI, teve lugar na passada quinta feira no Pólo I da UBI.
"É bom que a UBI tenha adoptado esta iniciativa", afirma Adriano Moreira, reconhecido sociólogo e mentor do projecto. "Um dos serviços da universidade à sociedade é estar atenta à mudança e fazer a análise possível", argumenta.
Adriano Moreira lembra a necessidade de interdisciplinaridade entre as diferentes ciências para se conseguir compreender o terrorismo.
"Há muitas relações ainda mal conhecidas, nomeadamente a relação da informação e a agressão terrorista ou a capacidade de a prevenir, porque ainda se domina mal a relação entre a informação e o acontecimento em si", declara. O sociólogo defende a informação como o elemento fundamental de supremacia neste campo.
Um dos problemas apontados frequentemente ao terrorismo é a inexistência de uma definição, mas as sua características são conhecidas. "As únicas marcas distintivas são a captura e sacrifício dos inocentes para obter os seus resultados", lamenta o sociólogo.
A sua comunicação versou também sobre o fenómeno do desaparecimento das fronteiras. O sociólogo defende que "já não são propriamente os países marca os seus limites territoriais, quem o faz é o adversário." Adianta como exemplos desta "desterritorialização" a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o ataque às Torres Gémeas, em 2001.
O seminário "está a realizar pela primeira vez a ligação com o aspecto religioso e transcendente", avança Adriano Moreira, lembrando que, em muitas teses, se defende que o inimigo actual do terrorismo é o Ocidente.



Inspirações religiosas

Peter Stiwell mostrou como o terrorismo actual pode ter inspiração na Bíblia

Peter Stiwell, docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica, fez uma análise do terrorismo na tradição bíblica. "A religião não pode ser entendida como pacifismo, já que esta reflecte o ser humano na sua totalidade. A revelação bíblica é o desvendar da condição humana, do seu carácter de violência e não-violência", esclarece. O docente encontra na Bíblia dois exemplos que podem servir de inspiração ao fenómeno terrorista: os episódios da fuga do Egipto liderada por Moisés e a luta de David e Golias. No primeiro caso, "Moisés sente-se incumbido de libertar o seu povo e conseguiu-o através da violência bem orientada", conta. A história de David foi ainda mais marcante e deu origem a um desenvolvimento teológico. "David venceu o gigante com uma funda e uma pedra, o que passou a servir de exemplo de actuação dos povos mais fracos contra os povos mais sofisticados e fortes", diz Stiwell.
O teólogo marca este ponto como o aparecimento do messianismo. "A partir daqui, acredita-se que quando se peca é-se castigado por Deus, mas quando há arrependimento Deus envia um libertador".
A religião muçulmana, muito discutida actualmente, também é comentada por Peter Stiwell. "Quando vejo os atentados de Bali ou a petroleiros no Oceano Índico, lembro-me logo de como Maomé, em retaliação da sua expulsão, atacava Meca no seu ponto mais frágil: a entrada e saída de caravanas de mercadores".
O terrorismo sob o ponto de vista policial foi desenvolvido por Luís Fernandes, subintendente da PSP e docente no Centro do Instituto Superior de Ciências Policiais da Universidade Técnica de Lisboa. Luís Fernandes admite a impossibilidade de uma definição exacta de terrorismo, mas adianta uma enunciação operacional: "o terrorismo é a aplicação planeada de violência".
O subintendente recorda que o terrorismo é sempre exercido com dois objectivos: a coacção psicológica e a coacção física. Para exemplificar a sua posição, apresentou o caso de desvio de avião em 1968 pela PFLP (Popular Front for the Liberation of Palestine), o primeiro com o fim de chamar a atenção da opinião pública internacional.
A ameaça terrorista é definida por Luís Fernandes como a força ou acontecimento que pode degradar a situação existente com a finalidade de mudar o status quo.
"Portugal também já foi assolado com a ameaça terrorista, com a FP25 (Forças Populares 25 de Abril), por isso o Estado deve fazer uma rigorosa avaliação das ameaças e riscos de terrorismo".
A Unidade de Coordenação Anti-terrorismo (UCAT) é o organismo de prevenção e combate ao terrorismo no País. A UCAT é integrada pela Polícia Judiciária, os Serviços de Informações Estratégicas de Defesa e Militares e o Serviço de Informação e Segurança.
Luís Fernandes considera o estudo académico do terrorismo importante, porque "pode servir de apoio ás decisões do poder político".