Alexandre S. Silva
NC/Urbi et Orbi


As ex-trabalhadoras manifestaram o seu desagrado junto da Câmara Municipal

As 23 trabalhadoras despedidas da Cramil no passado dia 1 de Maio vão ter que responder em tribunal por "invasão de propriedade alheia". O processo foi instaurado pela administração da empresa no seguimento das manifestações das trabalhadoras entre os dias 5 e 13 de Maio à porta da fábrica de Aldeia de Joanes.
"É a pouca vergonha ao seu mais baixo nível", diz Luís Garra, presidente do Sindicato dos Têxteis da Beira Baixa, também envolvido no processo. Segundo o sindicalista, as ex-empregadas limitaram-se a protestar à porta da fábrica, "que não tem portão, nem nenhum sinal a avisar que se trata de propriedade privada". Uma vez que se trata de um ponto de passagem obrigatório para quem se quer dirigir às instalações, explica Garra, "qualquer pessoa, por esta lógica, arrisca-se a levar com um processo igual. Até os cobradores das dívidas difíceis". De resto, esclarece Garra, "quando as trabalhadoras entraram dentro das instalações da fábrica foi com o consentimento da administração no sentido de se discutirem soluções para o pagamento do montante que a empresa deve às operárias".
O sindicalista não tem dúvidas e fala em clima de intimidação da administração para com as empregadas na sequência de uma greve agendada para o dia 12 de Maio e, entretanto, suspensa para mais uma das várias rondas negociais entre a empresa e as trabalhadoras.
Para o dirigente sindical, "esta é uma situação vergonhosa da parte de uma empresa que, não satisfeita com o despedimento ilegal, arbitrário e desumano de 23 trabalhadoras decidiu instaurar um processo com a desculpa de que a dita invasão de propriedade daria mau nome à empresa". O que dá mau nome à Cramil, acusa, "é a má gestão da gerência que não honra os compromissos com os trabalhadores, Segurança Social e fornecedores".
Luís Garra, lembra que as 23 empregadas foram despedidas "supostamente para salvaguardar o emprego e os salários das restantes 140. Mas o certo é que, passado um mês, os salários do mês de Maio ainda não foram pagos integralmente". Quanto ao grupo das "despedidas", continuam à espera de receber salários em atraso desde Abril, bem como de férias e subsídios de férias.