As 23 trabalhadoras despedidas da Cramil no passado dia 1 de Maio vão
ter que responder em tribunal por "invasão de propriedade alheia".
O processo foi instaurado pela administração da empresa no seguimento
das manifestações das trabalhadoras entre os dias 5 e 13 de Maio
à porta da fábrica de Aldeia de Joanes.
"É a pouca vergonha ao seu mais baixo nível", diz Luís
Garra, presidente do Sindicato dos Têxteis da Beira Baixa, também
envolvido no processo. Segundo o sindicalista, as ex-empregadas limitaram-se a
protestar à porta da fábrica, "que não tem portão,
nem nenhum sinal a avisar que se trata de propriedade privada". Uma vez que
se trata de um ponto de passagem obrigatório para quem se quer dirigir
às instalações, explica Garra, "qualquer pessoa, por
esta lógica, arrisca-se a levar com um processo igual. Até os cobradores
das dívidas difíceis". De resto, esclarece Garra, "quando
as trabalhadoras entraram dentro das instalações da fábrica
foi com o consentimento da administração no sentido de se discutirem
soluções para o pagamento do montante que a empresa deve às
operárias".
O sindicalista não tem dúvidas e fala em clima de intimidação
da administração para com as empregadas na sequência de uma
greve agendada para o dia 12 de Maio e, entretanto, suspensa para mais uma das
várias rondas negociais entre a empresa e as trabalhadoras.
Para o dirigente sindical, "esta é uma situação vergonhosa
da parte de uma empresa que, não satisfeita com o despedimento ilegal,
arbitrário e desumano de 23 trabalhadoras decidiu instaurar um processo
com a desculpa de que a dita invasão de propriedade daria mau nome à
empresa". O que dá mau nome à Cramil, acusa, "é
a má gestão da gerência que não honra os compromissos
com os trabalhadores, Segurança Social e fornecedores".
Luís Garra, lembra que as 23 empregadas foram despedidas "supostamente
para salvaguardar o emprego e os salários das restantes 140. Mas o certo
é que, passado um mês, os salários do mês de Maio ainda
não foram pagos integralmente". Quanto ao grupo das "despedidas",
continuam à espera de receber salários em atraso desde Abril, bem
como de férias e subsídios de férias.
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