"Ou são incompetentes e enganaram-se
a fazer contas, ou então enganaram o Governo". É assim que o
presidente do Sindicato Têxtil da Beira Baixa, Luís Garra, classifica
a proposta de viabilização apresentada na passada quarta feira, 2,
no Tribunal da Covilhã, por parte de dois dos administradores da Nova Penteação,
António Aguilar e Artur Lã Rosa.
Depois de se apresentarem no Tribunal para a Assembleia de Credores da Nova, os
dois administradores apresentaram uma proposta para a que Nova continue a laboração,
o que fez com a Assembleia fosse adiada para o próximo dia 15, de modo a
que as partes envolvidas possam analisar a mesma. Porém, a proposta, não
agradou ao Sindicato. Foi proposto aos credores uma redução de capital
para cobertura de prejuízos, a que se seguiria um aumento do mesmo em seis
milhões de euros, o que criaria condições para reduzir os débitos
da empresa em 70 por cento, sendo os restantes 30 pagos em 20 anos. Mas a proposta
também pressupõe que os cerca de 300 trabalhadores que tinham sido
postos no programa de formação FACE rescindam os seus contratos. Esta
é, segundo António Aguilar, uma condição para que a
proposta de viabilização tenha pernas para andar. "É a
proposta possível e que nesta fase poderia ser exequível" explica
António Aguilar à Rádio Clube da Covilhã. A ser aceite
a proposta, os trabalhadores ficariam donos do edifício da antiga fábrica,
podendo transacioná-lo e daí retirando o dinheiro para indemnizações.
Depois, seguiriam o curso de qualquer despedido: o desemprego.
Para o sindicalista Luís Garra, a proposta não faz sentido, porque
o facto dos trabalhadores terem ido para a formação pressupunha o
regresso dos mesmos à Nova. Por isso mesmo Garra não entende porque
é que os operários estão a ser formados. "Foi pago um
milhão e 200 mil euros pelo Estado em formação, mas no entanto,
com esta solução, não se livra de ter que pagar susbídios
de desemprego" afirma.
FACE acaba por fracassar
Recorde-se que a situação delicada em que vive a Nova Penteação
se arrasta há já algum tempo. Em Outubro de 99 começava os
sinais da crise, com a empresa a facturar, no período que foi até
Setembro de 2000, menos três milhões de euros que no ano anterior.
Em Dezembro de 2001 a empresa já apresentava dívidas no valor de
seis milhões de contos. Um "lay-off" para os trabalhadores começava
a ser equacionado. As convulsões no seio do Conselho de Administração
sucediam-se e Vasco Lino, presidente do mesmo, depois de tentar um "leasback"
em que o património da empresa serviria para pagar aos bancos credores,
(o que não se concretizou) acabava por demitir-se, sendo meses mais tarde
nomeado administrador do Centro Hospitalar da Cova da Beira. Nessa altura, António
Aguilar e Lã Rosa, dois dos administradores da Nova, interpunham uma Providência
Cautelar à empresa, invocando que pretendiam lutar contra "a delapidação
de património". Os dois signatários diziam que o único
caminho a seguir pela empresa covilhanense era a apresentação aos
credores, ao abrigo do decreto Lei 132, que evitaria "a falência"
e manteria "os postos de trabalho". Os trabalhadores, esses, tentavam
sensibilizar as entidades bancárias para um apoio à viabilização
da empresa. A Nova empregava, nesse momento, 600 pessoas.
Entretanto, de visita à Cova da Beira, o ministro da Segurança Social
e Trabalho, Bagão Félix, apresentava um Plano de Intervenção
para a Beira, com medidas, essencialmente, de carácter social, entre as
quais figurava o FACE. Os administradores da Nova aproveitavam este pacote e mandavam
para formação cerca de 300 pessoas. Ferro Rodrigues, líder
do PS, visitava a fábrica, e acreditava na viabilidade da mesma, exigindo
medidas ao Governo, que acusava de ingorar o desemprego. O secretário de
Estado do Trabalho, Luís Pais Antunes, também vinha à Covilhã,
recusava as acusações de Ferro e destacava as medidas do Plano de
Bagão, que estavam em execução, e que davam resposta aos
problemas. A verdade é que se a proposta de Aguilar e Rosa vingar, o FACE,
na Nova, acaba por fracassar e mais de 300 pessoas vão mesmo para o desemprego.
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