Existem no distrito de Castelo Branco mais de 600 trabalhadores que ainda não
viram liquidados os seus salários de Maio, no sector das confecções.
O alerta é deixado pelo Sindicato Têxtil da Beira Baixa, que revela
haver várias empresas com ordenados em atraso e nas quais se perspectivam
greves.
Segundo Luís Garra, na Beira Interior, e neste sector específico,
os patrões apenas se limitam a actualizar os salários dos trabalhadores
para o mínimo nacional, embora a maioria dos operários, apôs
efectuar descontos para a Segurança Social, acabe por receber uma verba
inferior a isso. "Isto não motiva ninguém a entrar nos quadros
de uma confecção. O Governo, assim, está a matar o sector
e nem mesmo as empresas que se modernizaram irão resistir" acusa o
dirigente sindical, que defende um aumento dos salários para as confecções.
É que, caso isso não aconteça, "as pessoas preferem
ir para o desemprego, pois recebem mais. É necessário atrair as
pessoas a criar riqueza" explica Garra, que acusa o Governo de ser cúmplice
na prática de baixos salários que os empresários do sector
aplicam. O Sindicato diz que o Governo poderia regulamentar os ordenados com a
publicação de portarias, mas que não o fazendo só
poderá ter uma resposta forte dos trabalhadores, pelo que a luta por melhores
salários "está na ordem do dia".
O facto das pessoas ganharem pouco é entendida por Garra como um factor
de desmotivação e que contribui para a fraca produtividade do trabalhador.
Depois, existe a agravante de muitos deles não receberem a tempo e horas.
"Esperamos que os salários sejam pagos a horas. Há empresas
que não o fizeram, no mês de Maio, e ainda hoje (segunda-feira, 23)
as trabalhadoras da Cramil estiveram paradas, dando um prazo até dia 8
para que a administração lhes pague o que deve" explica Garra.
No que toca às confecções, Garra diz que neste momento as
encomendas andam num ritmo muito apreciável, mas que o Governo pouco tem
feito para ajudar o sector. "Apenas foram aplicadas medidas de carácter
social. As económicas continuam por aplicar" afirma o sindicalista,
que refere que a Carveste apenas foi viabilizada pelos credores, sem que "o
Ministério da Economia fizesse algo" e pelas trabalhadoras, que tiveram
"hipótese de fechar a fábrica, mas não o fizeram.
Polis "mata" empresas
O Sindicato Têxtil aborda ainda o facto de na Covilhã estar a fechar
mais uma empresa do sector laneiro, a Campos Melo. Tal como o NC adiantou na passada
semana, a fábrica, devido às constantes multas por razões
ambientais, já que despeja produtos poluentes para a ribeira, irá
encerrar no final do próximo mês. Para Luís Garra, "é
difícil quando uma empresa tem que fazer investimentos avultados em ambiente
e não os faz. Só que a Covilhã viveu numa incógnita
no que diz respeito às ribeiras. Ou se aplicavam ETARES, a melhor solução,
ou se matavam empresas, a solução mais fácil". O sindicalista
diz que neste processo a maior preocupação do Sindicato foi a de
que os operários recebessem ordenados, subsídios e 80 por cento
das indemnizações, já que o empresário se mostrou
irredutível na decisão de fechar a fábrica. "Espero
que haja bom senso para não matar mais nenhuma. É preciso devolver
as ribeiras à cidade, mas não pela solução mais fácil"
afirma Garra.
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