José Geraldes
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Compreender
Saber o mínimo do património religioso completa a formação
dos jovens
O "facto religioso" está na ordem das
preocupações dos governos europeus. Em Espanha, a aula já
foi introduzida nas escolas como alternativa aos alunos que não optem pela
Religião e Moral Católica. De França, o estudo encomendado
pelo Ministério da Educação atribui ao "facto religioso"
uma importância fundamental na formação geral. E com uma argumentação
filosófica e histórica da disciplina da Religião Moral Católica.
Em Portugal, do 1º ciclo ao 12º ano, os pais são os responsáveis
pela inscrição dos seus filhos nesta aula.. Com uma excepção
: a partir dos 16 anos pertence aos jovens tomar a opção de se inscrever
na disciplina.
Contrariamente ao que muita gente pensa, esta aula não tem o objectivo
específico da catequese nas paróquias. É diferente. Ou seja,
não impõe directamente a adesão à fé católica.
Pretende, sobretudo, dar aos alunos uma visão cristã do mundo e
critérios de base para avaliação dos acontecimentos e uma
formação para os valores fundamentais da vida. Daí a sua
importância na educação.
Também por esta razão, é dever do Estado criar as condições
para que as aulas possam ser ministradas em horários correctos e tenham
condições de igualdade com as restantes disciplinas.
A frequência desta aula só pode trazer benefícios para os
alunos. Até por uma questão cultural.
Saber o mínimo do património religioso completa a formação
dos jovens. Um documento francês diz, a este propósito, que há
"professores que se queixam de que os alunos ou estudantes são incapazes
de identificar os temas bíblicos numa obra literária ou numa obra
de arte". E observa que "os responsáveis pelo património
têm de ensinar aos visitantes os princípios da liturgia cristã
em função da qual este ou aquele edifício foi construído".
Aparece, aqui, o problema do "facto religioso" não poder ser
dissociado do contexto geral da educação.
A contribuição de Régis Debray, em França, deita por
terra preconceitos imbuídos de laicismo. Guerrilheiro na Bolívia,
companheiro de Che Guevara, doutorado em Filosofia pela célebre École
Normale de Paris, Régis Debray aceitou, em 2001, um convite de Jack Lang,
ao tempo ministro da Educação, para elaborar um relatório
sobre o lugar do "ensino do facto religioso" nas escolas.
É interessante saber as conclusões a que chegou este filósofo
não-crente.
A primeira verifica que as mesmas carências são comuns ao ensino
público e privado. Depois anota que o religioso surge como "transversal"
na actividade humana. Finalmente, Régis Debray assume que chegou o tempo
da "passagem de uma laicidade de incompetência (o religioso não
interessa) para uma laicidade de inteligência (é nosso dever comprender
o religioso)". E distingue, então, o religioso como "objecto
de cultura" e o religioso "como objecto de culto". O seu relatório
enquadra-se na "laicidade de inteligência".
Desafiado pela revista Études a explicar o conceito de "facto religioso",
Régis Debray assinala que o "facto é um ponto de partida irrefutável".
E cita "as centenas de milhares de peregrinos, espíritos evoluídos
de grande craveira intelectual, em Lourdes e Santiago de Compostela em pleno século
XXI". E sublinha que, se é normal explicar os feriados civis na escola,
o Natal e a Páscoa não podem ser relegados" para meras datas
contingentes". Estas datas religiosas impõem-se na nossa memória
histórica. E "a sua explicação está para além
do Bem e do Mal".
Assim um não- crente justifica a existência da aula de Religião
e Moral Católica no sistema de ensino.e também do "facto religioso".
Nada é mais preciso dizer aos pais e educadores. Sejam crentes ou não.
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