A destreza com as teclas serve de disfarce à
deficiência motora de Júlio Cardoso. Sentado em frente ao computador,
este aluno da Associação Cristã da Mocidade (ACM) da Covilhã,
encontra alguma semelhança com os jovens da sua idade. Com 19 anos de idade,
a sua paixão reside na Informática. Está na pequena sala de
Associação de Estudantes da Universidade da Beira Interior (AAUBI),
ainda não sabe bem para que efeito. Foi dito ao Júlio que faria parte
de um programa de contacto entre diferentes gerações de pessoas. Palavras
vagas para o efeito pretendido.
João Carrilho é quem se senta ao lado de Júlio. Os 88 anos
de vida permitiram-lhe aprender muitas coisas, mas a leitura e a escrita não
fazem parte dos seus conhecimentos. De poucas palavras, este idoso que passa os
dias no Centro de Apoio de Cantar Galo, encontrou na iniciativa da AAUBI, uma outra
forma de passar o tempo. Vai olhando com curiosidade para as imagens que aparecem
no écran do computador. Em cada clique que o seu mais recente colega dá
no rato da máquina, novos interesses surgem para este idoso.
São dois intervenientes dos muitos participantes do "InterCresce",
o nome do projecto piloto no nosso País, lançado pela AAUBI. "Desenvolver
acções entre os jovens e os mais idosos com o intuito de todos poderem
ser mestres e aprendizes, uns dos outros", descreve assim esta iniciativa,
Rui Pedro Dias, gestor da AAUBI. A experiência piloto decorreu na passada
quarta feira, 18 de Junho, na sede da associação de estudantes. Um
primeiro contacto onde estiveram presentes idosos do Centro de Dia de Cantar Galo,
estudantes da Escola Secundária Campos Melo e do ACM.
Arranque já em Setembro
Testar as potencialidades desta iniciativa e dar a conhecer às entidades
oficiais o seu propósito foram razões que levaram a esta acção.
O programa vai arrancar nos próximos meses de Setembro e Outubro, logo
após a actual Sala de Exposições da AAUBI estar transformada
em centro informático. O orçamento para esta modificação
ronda os 25 mil euros e será suportado pelas entidades oficiais já
contactadas, como a Câmara Municipal da Covilhã (CMC), o Instituto
Português da Juventude (IPJ) e outras organizações particulares.
Duas sessões por semana vão reunir jovens das freguesias rurais
e urbanas do concelho da Covilhã, com idosos das mesmas áreas. Um
projecto que incluí também as minorias étnicas e os imigrantes.
Possibilitar a aprendizagem de novos conhecimentos entre todos os intervenientes
e "colmatar algumas lacunas, existentes nas instituições estatais,
que deveriam prestar apoio a este tipo de pessoas", são algumas das
possibilidades contempladas por este projecto, refere o gestor da AAUBI.
Desde a consulta da Internet à escrita de uma carta num programa informático,
tudo isso pode ser aprendido por quem não saiba. Por outro lado, "os
jovens têm a possibilidade de contactar com pessoas de outras gerações",
sublinham os responsáveis da AAUBI. Uma mais valia para a iniciativa.
Fernanda Lourenço, auxiliar do Centro de Dia de Cantar Galo é uma
das primeiras pessoas a contactar com "InterCresce". Elogia a acção
e promete continuar a aceder à oportunidade proporcionada pela AAUBI. No
seu propósito está a aprendizagem básica da operação
com as ferramentas informáticas. "Espero que os mais novos possam
explicar-me a trabalhar com os computadores", avança Fernanda, "depois
sempre posso ajudar no trabalho com os mais idosos, lá no centro",
acrescenta.
Concebido para proporcionar o intercâmbio entre pessoas, o "InterCresce"
pode ser alargado a todo o País, através do programa "Geração
Millenium" e "Voluntariado Juvenil", do IPJ. O arranque será
feito na Covilhã e os responsáveis confiam numa boa adesão
por parte de todos os envolvidos. A iniciativa está a ser divulgada pelas
várias escolas do concelho e instituições de apoio aos cidadãos.
Estudo psicológico sobre a memória
A par com este programa vai também decorrer um trabalho de investigação
realizado por Luís Rebelo Maia, psicólogo e docente da UBI. Um estudo
que envolve a população idosa, nas vertentes de recuperação
da memória e reactivação de funções cognitivas.
O facto de os mais velhos estarem em contacto com novas realidades proporciona
um campo de investigação único para este trabalho. A interacção
entre as várias gerações e perspectivas que se tem da sociedade
faz com que a memória e a apreensão de novos conhecimentos seja
possível. Daí, o investigador, passar a seguir esta iniciativa e
os seus intervenientes.
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