Fundão
A magia do som dos teares
Um grupo de tecedeiras manuais, cantadeiras
e dois instrumentistas de eleição, produziram um espectáculo
inesquecível. De ver e chorar por mais. Pura magia.
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João Cunha
NC/Urbi et Orbi
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O espectáculo " A Linhar", da responsabilidade da Câmara
Municipal do Fundão (CMF), é um encontro de gentes e vontades que
pretende trocar saberes e sentires decorrentes de um caminho trilhado em conjunto,
emergindo a arte tradicional da tecelagem manual em todas as suas cambiantes.
Noutras ocasiões que presenciamos acontecimentos culturais/ musicais de
qualidade, sentimos alguma dificuldade na adjectivação. Mas desta
vez encontrar adjectivos para definir o espectáculo " A Linhar",
afigura-se-nos uma tarefa ciclópica. De facto, por muito que nos esforcemos,
provavelmente ficaremos aquém da forma adequada para qualificar este momento
de rara beleza a deixar em êxtase o público que no Dia de Portugal,
de Camões e das Comunidades Portuguesas, encheu literalmente a igreja matriz
de Aldeia de Joanes - Fundão.
"Maravilhoso", "encantador", "do outro mundo", "não
me lembro de ver uma coisa assim", foram algumas das palavras que se ouviram
repetidas vezes na boca dos que iam saindo da igreja quando finalizou este "sui
generis" espectáculo, ideia do assessor cultural da CMF, Miguel Rainha,
de "tornar visíveis os sons dos teares e seus cantares" , e do
trabalho dos que encenaram e participaram nele. Uma viagem pela polifonia dos
sons e emoções contidas. O som dos quatro teares de madeira manejados
habilmente pelas tecedeiras de Bogas do Meio ecoava de mansinho. O tear, não
foi mais que um espectador que permanece na expectativa de cada instante e assim
leva a manta por diante. O seu canto é um gemido, são toque-toques
involuntários, quando tece está consigo quem lhe confere as linhas
da sua sina, troca os pentes nos seus cabelos de linho, são as festas da
tecedeira e como o sino que badala dá à lançadeira o seu
destino.
Virtuosismo nas vozes
Encontrados os cantos, são os encantos que se encontram num destino entrecruzado
com as canções que a tecedeira canta nas horas de solidão
interpretadas soberbamente pelas cantadeiras do Paul. Quatro vozes dolentes, harmoniosas
que se juntaram ao "canto" dos teares. Mas como não bastasse
esta polifonia que emocionava o publico, o Bit Ócas na percussão
e o irmão Artur Fernandes na concertina, evidenciando um virtuosismo dos
predestinados, enchiam a igreja de magia dos sons, muito bem acompanhados por
uma iluminação sem reparo. O encerramento deste memorável
espectáculo foi a cereja em cima do bolo. A penumbra tornava "irreal"
a silhueta da cantadeira, entrecortada por feixes de luz muito ténues,
um cenário a condizer com a magistral tecedeira briosa, um tema cantado
com o sentimento que só a Leonor Narciso, consegue emprestar a esta emblemática
canção que conseguiu pôr a todos com "pele de galinha".
Quem estava visivelmente satisfeito era o vereador do Pelouro da Cultura da CMF,
Paulo Fernandes. "Este projecto insere-se na política cultural da
Câmara, que procura preservar os valores, as tradições e as
referências do nosso concelho" assevera Paulo Fernandes, que adiantou
ainda que, " queríamos levar este espectáculo a Lisboa e também
à capital da cultura em Coimbra. Vamos lá ver se conseguimos este
objectivo".
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