José Mário Silva, editor adjunto
da revista Dna, suplemento do Diário de Notícias, e
Pedro Mexia, crítico literário e colunista do O Independente
foram os dois convidados para mais uma aula aberta da disciplina de "Sociologia
da Cultura". Em cima da mesa esteve a relação entre a política
e a cultura.
"Hoje em dia não existe uma política cultural definida no nosso
País", refere José Mário Silva. Segundo o editor, esta
situação só pode ser alterada "se houver vontade do Governo
em elaborar uma estratégia". Discutiu-se também a forma como
o Estado deve apoiar a cultura e se esse apoio deve ou não passar pelos subsídios.
José Mário Silva considera que "deve existir um apoio do Estado",
mas os artistas não podem estar dependentes de subsídios. Segundo
o editor "os próprios artistas têm que criar o seu público
e formas de chegar aos consumidores de cultura". Mário Silva considera
que esta situação não é fácil e por isso "o
Estado não se deve demitir da sua responsabilidade".
Pedro Mexia frisa que "a política cultural deste Governo é pouco
visível". Para o crítico literário, "numa situação
de desenvolvimento a existência do Ministério da Cultura seria mesmo
dispensável, o que não se verifica agora". Mexia discorda do
"dirigismo cultural" e diz que passámos de uma visão maximalista
da cultura para uma visão minimalista. "Nem um conceito nem outro me
parece adequado", sublinha.
O crítico defende que numa sociedade bem estruturada o apoio do Estado para
a cultura seja diminuto. "Era muito mais interessante que a maioria dos apoios
se fizesse através da lei do mecenato, de empresas, de particulares e do
incremento de incentivos fiscais", refere.
Novas formas de arte
No encontro com os alunos de sociologia foram também abordadas questões
relacionadas com as vanguardas artísticas. Segundo José Mário
Silva "hoje em dia não faz sentido falar de vanguarda". O editor
adjunto do Dna explica que esta questão está relacionada com "a
necessidade de chocar". Com a evolução da sociedade as vanguardas
foram sendo integradas na "normalidade".
Silva acrescenta que actualmente faz sentido falar, não tanto de vanguarda,
mas sim de "um certo experimentalismo no campo da cyberarte, por exemplo".
Uma arte relacionada com as novas tecnologias e com a Internet.
A função das casas de cultura foi também reflectida. O Centro
Cultural de Belém, em Lisboa, que no início levantou dúvidas
e com o qual muitos discordaram é actualmente um exemplo de sucesso. A
Fundação Serralves, no Porto, é para Pedro Mexia "um
caso extraordinário que leva centenas de pessoas a interessarem-se por
formas de arte, que de outro modo estariam inacessíveis ao grande público".
O encontro com os alunos de sociologia foi para os oradores convidados "muito
interessante". Foram partilhadas "várias preocupações",
refere José Mário Silva sublinhando a importância do contributo
dado pelos alunos.
Nuno Jerónimo é o docente da cadeira de "Sociologia da Cultura".
Ao longo do ano foram realizadas três aulas abertas, mas apenas esta teve
convidados exteriores à Universidade da Beira Interior. "São
pessoas habituadas a discutir cultura", sublinha o docente acrescentando
que esta iniciativa é fundamentalmente, "um espaço de reflexão".
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