Pedro Mexia (à esquerda)
afirma-se contra o "dirigismo cultural"
Aula aberta de Sociologia
Espaço de reflexão

Num encontro com futuros sociólogos, José Mário Silva e Pedro Mexia relacionaram política e cultura. O papel que o Estado tem vindo a desempenhar mereceu algumas críticas.


Por Catarina Rodrigues


José Mário Silva, editor adjunto da revista Dna, suplemento do Diário de Notícias, e Pedro Mexia, crítico literário e colunista do O Independente foram os dois convidados para mais uma aula aberta da disciplina de "Sociologia da Cultura". Em cima da mesa esteve a relação entre a política e a cultura.
"Hoje em dia não existe uma política cultural definida no nosso País", refere José Mário Silva. Segundo o editor, esta situação só pode ser alterada "se houver vontade do Governo em elaborar uma estratégia". Discutiu-se também a forma como o Estado deve apoiar a cultura e se esse apoio deve ou não passar pelos subsídios. José Mário Silva considera que "deve existir um apoio do Estado", mas os artistas não podem estar dependentes de subsídios. Segundo o editor "os próprios artistas têm que criar o seu público e formas de chegar aos consumidores de cultura". Mário Silva considera que esta situação não é fácil e por isso "o Estado não se deve demitir da sua responsabilidade".
Pedro Mexia frisa que "a política cultural deste Governo é pouco visível". Para o crítico literário, "numa situação de desenvolvimento a existência do Ministério da Cultura seria mesmo dispensável, o que não se verifica agora". Mexia discorda do "dirigismo cultural" e diz que passámos de uma visão maximalista da cultura para uma visão minimalista. "Nem um conceito nem outro me parece adequado", sublinha.
O crítico defende que numa sociedade bem estruturada o apoio do Estado para a cultura seja diminuto. "Era muito mais interessante que a maioria dos apoios se fizesse através da lei do mecenato, de empresas, de particulares e do incremento de incentivos fiscais", refere.

Novas formas de arte

No encontro com os alunos de sociologia foram também abordadas questões relacionadas com as vanguardas artísticas. Segundo José Mário Silva "hoje em dia não faz sentido falar de vanguarda". O editor adjunto do Dna explica que esta questão está relacionada com "a necessidade de chocar". Com a evolução da sociedade as vanguardas foram sendo integradas na "normalidade".
Silva acrescenta que actualmente faz sentido falar, não tanto de vanguarda, mas sim de "um certo experimentalismo no campo da cyberarte, por exemplo". Uma arte relacionada com as novas tecnologias e com a Internet.
A função das casas de cultura foi também reflectida. O Centro Cultural de Belém, em Lisboa, que no início levantou dúvidas e com o qual muitos discordaram é actualmente um exemplo de sucesso. A Fundação Serralves, no Porto, é para Pedro Mexia "um caso extraordinário que leva centenas de pessoas a interessarem-se por formas de arte, que de outro modo estariam inacessíveis ao grande público".
O encontro com os alunos de sociologia foi para os oradores convidados "muito interessante". Foram partilhadas "várias preocupações", refere José Mário Silva sublinhando a importância do contributo dado pelos alunos.
Nuno Jerónimo é o docente da cadeira de "Sociologia da Cultura". Ao longo do ano foram realizadas três aulas abertas, mas apenas esta teve convidados exteriores à Universidade da Beira Interior. "São pessoas habituadas a discutir cultura", sublinha o docente acrescentando que esta iniciativa é fundamentalmente, "um espaço de reflexão".