O alargamento da União Europeia (UE) é
"uma questão que diz respeito a todos", afirma Fernando Paulouro,
director do Jornal do Fundão e moderador do debate realizado, ontem,
dia 16, na Universidade da Beira Interior (UBI).
Uma iniciativa que contou com a presença de várias figuras políticas
com ligações à Comunidade Económica. A UBI, em parceria
com o semanário Jornal do Fundão e com a Associação
de Desenvolvimento Beira Serra, organizaram este evento, no intuito de "divulgar
e informar sobre uma questão que tem estado na obscuridade", explica
Paulouro.
O conjunto de oradores foi composto por José Matos Correia, deputado do Partido
Social Democrata (PSD) e ex-chefe de gabinete de Durão Barroso enquanto ministro
dos Negócios Estrangeiros, Pedro Bacelar Vasconcelos, professor universitário,
Manuel Romano, representante da Comissão das Comunidades em Lisboa, Luís
Fazenda, deputado do Bloco de Esquerda (BE) e Sérgio Ribeiro dirigente do
Partido Comunista Português (PCP) que desempenhou durante dez anos o cargo
de eurodeputado. Todos os intervenientes apresentaram um discurso onde foram abordadas
as vantagens e desvantagens que o alargamento do espaço europeu vai trazer
para Portugal. Uma matéria onde os oradores têm opiniões diferentes.
Na perspectiva de Matos Correia, "o nosso País vai ser o menos beneficiado
com este alargamento", defende. O antigo assessor de Durão Barroso refere
que "este crescimento é feito no sentido de fomentar o espaço
europeu". A entrada de dez novos países para o grupo dos Quinze, medida
que não será acompanhada de um aumento de verbas financeiras, vai
provocar o desequilíbrio em Estados menos fortes, como é o caso do
português. Para este interveniente, o maior problema do crescimento advêm
do facto de os países serem "cada vez mais diferentes entre si".
Um factor que se traduz "numa crescente dificuldade de encontrar medidas que
agradem a todos".
Manuel Romano também defende esta ideia. Para o representante das Comunidades,
"o impacto da passagem da União de 15 para 25 países vai provocar
mudanças estruturais a todos os níveis". Motivo mais que suficiente
"para existirem debates como este" sublinha. Romano diz que os cidadãos
do espaço europeu devem estar mais informados sobre esta mudança estrutural.
A partir de 2006, o cenário "vai sofrer fortes modificações
e os Estados membros devem preparar-se para esta nova situação",
acrescenta. As reformas operadas nas políticas agrícola e regional
foram temáticas utilizadas por Romano, para exemplificar as adaptações
a levar em conta para esta passagem. Transformações que precedem a
chegada de novos elementos ao grupo e que devem ser acompanhadas pelos actuais membros.
Aproveitar "o melhor possível" os fundos disponíveis até
2006, "deve ser a principal acção", acrescenta José
Matos Correia. O deputado do PSD olha para a transformação do espaço
europeu como "uma necessidade que vem favorecer alguns aspectos e trazer grandes
desvantagens noutros".
Evolução dos menos desenvolvidos
Uma mudança que para Pedro Bacelar de Vasconcelos deve assentar "na
noção de cidadania". Criar o sentimento de "cidadão
europeu" vai servir para que "os novos Estados não sejam integrados
só numa perspectiva económica, mas também humana". Este
professor universitário diz que os actuais países que compõem
a UE olham para os novos membros "com alguma desconfiança". Os
fundos estruturais passam agora a ser repartidos por um maior número de
países. Grande parte das verbas vai destinar-se a apoiar "a sofisticação
e a evolução dos menos desenvolvidos", diz Pedro Bacelar. Deste
modo, os actuais membros devem olhar para a instituição europeia,
"de forma mais hegemónica e não desigual" remata.
Sérgio Ribeiro descreve esta ideia de cooperação como uma
medida para "impedir que as assimetrias dos Estados europeus se agravem ainda
mais". Para o antigo eurodeputado, neste momento, o essencial "é
informar as pessoas do que se vai passar". Ribeiro explica que Portugal e
outros países que até aqui têm recebido grande parte dos fundos
estruturais, vão sentir algumas alterações. Lembra também
que o crescimento do espaço europeu resulta de "um processo natural
que acompanha os objectivos da União".
Luís Fazenda, deputado eleito pelo Bloco de Esquerda (BE) apresenta-se
como o maior defensor deste alargamento. Contrariamente ao que foi dito por alguns
intervenientes, Fazenda defende que Portugal e os restantes países da UE
devem "cooperar com os novos membros, no sentido de solucionar problemas
e partilhar aspirações ao desenvolvimento". No entender do
deputado do BE, a pressão económica levou alguns Estados a serem
"voluntários à força" na integração
do grupo europeu. Uma vez que esta entrada é real, devem ter-se em linha
de conta "as diferentes necessidades destes povos que vão ter inúmeras
dificuldades em se integrarem", perspectiva Luís Fazenda.
Os números da
Europa
|
Quinze países integram a União Europeia. Um conjunto
de nações composto por Bélgica, Dinamarca,
Alemanha, Grécia, Espanha, França, Irlanda, Itália,
Luxemburgo, Países Baixos, Áustria, Portugal, Finlândia,
Suécia e Reino Unido. Um total de 375 milhões de pessoas
onde o Produto Interno Bruto per capita (PPC) é de 22 500
euros. Este conjunto vai agora integrar mais dez estados. Bulgária,
República Checa, Estónia, Chipre, Letónia,
Lituânia, Hungria, Malta, Polónia, Roménia,
Eslovénia, Eslováquia e Turquia. Um acréscimo
de 64 milhões de cidadãos que actualmente, entre si,
apresentam um PPC de 10 300 euros.
|
|
|