Ao todo a Mutualista deve, segundo Ramiro Reis, um milhão e 500 mil euros
Crise financeira
Mutualista Covilhanense está em "falência técnica"

O défice da Associação de Socorros Mútuos ronda o milhão e 500 mil euros, entre dívidas à Banca, fornecedores e empresa Constrope. Apesar do cenário "caótico" e "complicado", o presidente da direcção, Ramiro Reis, acredita que a situação pode ser ultrapassada, desde que haja apoios.


Carla Loureiro
NC/Urbi et Orbi


"Estamos numa situação de falência técnica, porque neste momento as dívidas da Associação são de um milhão 499 mil euros, dos quais um milhão 96 mil à Banca". O dado é revelado pelo presidente da direcção da Associação de Socorros Mútuos "Mutualista Covilhanense", Ramiro Reis. O cenário "caótico" das contas agrava-se ainda mais quando a instituição tem até 6 de Agosto para pagar 452 mil euros à Caixa Geral de Depósitos (CGD). Uma verba que Ramiro Reis confessa não saber como pagar. "Já falámos com a directora da CGD no sentido de renegociar esta situação, mas o que ela nos disse é que não é assim tão fácil porque nós temos mais outros dois empréstimos, apesar de serem a longo prazo", avança este responsável. E continua: "Transmitimos-lhe que não temos dinheiro, neste momento, para pagar esta verba e se não for equacionada a hipótese de dilatar o empréstimo, dificilmente ele será pago". Além deste montante, um outro de 20 mil euros que serviram para comprar a carrinha que transporta os idosos da Mutualista e que Ramiro Reis diz estar a ser amortizado mensalmente.
A revelação sobre a saúde financeira da Associação de Socorros Mútuos foi feita durante a Assembleia Geral, realizada no passado dia 30 de Maio, onde os cerca de 70 sócios presentes chumbaram o Relatório e Contas de Gerência de 2002. Documentos que Ramiro Reis afirma não terem sido facultados pelo anterior elenco directivo - presidido por Carlos Mineiro -, mas sim por um gabinete de contabilidade.
Mas as "surpresas" encontradas pela actual direcção não se ficam por aqui. "Há ainda duas letras vencidas e que não foram pagas. Ao todo, 55 mil euros à firma Constrope, a empresa que construiu o Centro Comunitário de Apoio", adianta Ramiro Reis, que confessa igualmente a dificuldade em pagar "porque as verbas disponíveis nem sequer chegam para os compromissos assumidos". "Recebemos cerca de 40 mil euros por mês, mas as despesas rondam os 45 mil", informa o presidente da direcção. Os fornecedores também não escapam, sendo que a instituição lhes deve cerca de 56 mil euros.

Responsáveis podem ter que entregar chaves do Lar

Perante uma instituição "tecnicamente falida", Ramiro Reis equaciona duas hipóteses: "Ou pagamos as dívidas e fechamos o lar, porque depois não temos possibilidades para dar alimentação e cuidados aos nossos utentes e pagar os ordenados aos funcionários. Ou então paramos com as dívidas, mas isto não é possível sem que seja encontrada uma solução de viabilidade económica".
Uma outra situação que complica mais a "débil saúde económica" da instituição é o facto de, segundo Ramiro Reis, "se ter partido do pressuposto de que ainda teríamos a receber da Segurança Social quase 341 mil euros". Uma quantia referente aos 57 por cento de comparticipação daquela entidade para as obras do Centro Comunitário de Apoio. Contudo, esclarece, "essa verba era ía até ao valor de 683 mil euros. Mas como a adjudicação da obra foi de 688 mil euros, a comparticipação, na totalidade, já entrou nos cofres da Mutualista. Por isso, não temos mais nada a receber". "Também chegámos à conclusão de que o IVA foi reembolsado na íntegra, à excepção de cerca de 10 mil euros que ainda não foram", acrescenta Ramiro Reis.
Por tudo isto, prossegue o responsável, foi enviada uma carta ao ministro do Trabalho e Segurança Social, Bagão Félix, onde está exposta a situação porque passa a instituição. Na missiva, os responsáveis pela Mutualista Covilhanense pedem que seja "enquadrada uma proposta de viabilidade ou a atribuição de um subsídio para resolver os graves problemas financeiros", em especial o pagamento das dívidas aos fornecedores e firma Constrope. É que, alerta Ramiro Reis, "porque não há dinheiro em lado nenhum e se não se conseguir acordos para aumentar as valências, entregaremos as chaves na Segurança Social".
O presidente da direcção da Associação de Socorros Mútuos anuncia também o pedido de uma inspecção aos serviços competentes da Segurança Social no sentido de apurar, se for caso disso, os responsáveis pelo "caos financeiro a que se chegou". Confrontado com o facto de ter acesso às contas - recorde-se que Ramiro Reis era presidente da Mesa da Assembleia Geral no anterior elenco directivo -, o actual responsável máximo pela instituição diz que "nos últimos dois anos, com a nova contabilidade, não era muito fácil entendê-las". "O que é certo é que existiam algumas distorções nas contas. Mas nunca me passou pela cabeça que a situação estivesse como está". Ramiro Reis confessa ainda que se tivesse "conhecimento exacto da realidade da Mutualista" não se teria candidatado. "Ficámos com um grande menino nos braços. Talvez fosse mais fácil de resolver a quem o criou", acrescenta. Ainda assim, o presidente da direcção acredita que a situação, apesar de "muito precária e perigosa", pode ser ultrapassada. Ramiro Reis conta ter "apoios mais vantajosos" da Segurança Social, fruto do aumento das camas, de 10 para 40, as quais serão comparticipadas.
Apesar das diversas tentativas, o NC não conseguiu chegar à fala com o anterior presidente da direcção da Associação de Socorros Mútuos "Mutualista Covilhanense", Carlos Mineiro.