Entrevista a José Carlos Diamantino
"Só a pista não resolve os problemas
do Atletismo na região"
Há cerca de 40 anos ligado ao desporto,
grande parte deles ao Atletismo, este funcionário público natural
de Unhais da Serra, vai coleccionando ano após ano, títulos atrás
de títulos. Diz que não é fácil conciliar a actividade
profissional com a desportiva, mas acredita piamente naquilo que faz. Os resultados
estão à vista.
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Por Luis Alberto
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Urbi @ Orbi - Desde quando está ligado ao desporto?
José Carlos Diamantino - Estou ligado ao desporto desde os meus 15
anos de idade, altura em que comecei a jogar futebol no Estrela de Unhais da Serra.
U @ O - Era difícil praticar desporto nessa altura?
JCD - Um pouco. Nessa altura o campo ainda não tinha iluminação.
Quando eu chegava ao campo, a maioria das vezes, já o treino tinha acabado.
U @ O - O que o levou a praticar futebol?
JCD - Naquela altura, a boa carreira da equipa de Unhais da Serra (n.d.r.
na 3ª Divisão Nacional, treinada pelo conhecido Fernando Cabrita),
levou muitos jovens a jogar futebol.
U @ O - Como surge a sua paixão pelo Atletismo?
JCD - Em 1978 tirei o Curso de Treinador de Atletismo, um pouco por influência
da prova "Circuito Internacional de Seia", onde o grande campeão
Carlos Lopes começou a dar nas vistas. Foi graças a isso que impulsionei
o Atletismo no Clube de Unhais da Serra, contando com o contributo do falecido
professor Ilídio Tavares. Mais tarde, fundei igualmente a secção
desportiva da Casa do Povo de Unhais da Serra.
U @ O - Qual o maior momento da sua carreira desportiva?
JCD - Todas as provas conquistadas e marcas registadas foram e são
importantes. Mas não posso de maneira alguma esquecer dois momentos altos:
quando o atleta Vicente da Fonseca (operário de lanifícios) foi
transferido da Casa do Povo de Unhais da Serra para o Sport Lisboa e Benfica
e o primeiro título de Campeão Nacional de Montanha obtido pelo
Grupo Desportivo da Mata.
U @ O - Que grandes nomes do Atletismo Nacional teve a
honra de treinar?
JCD - Já treinei cinco atletas que foram Campeões Nacionais:
Nuno Curto, Luís Leitão, Hugo Alves, Raul Fernandes e Tiago Rato.
E treinei dois atletas que são internacionais: o Orlando Francisco e
o João Serralheiro.
U @ O - Há algum record que se mantenha em vigor
e que queira salientar?
JCD - Destaco os records nacionais que ainda se mantêm do atleta infantil
(iniciado 2º ano) do Grupo Desportivo da Mata, Tiago Rato que foi recentemente
medalha de bronze no "Atleta Completo Nacional".
U @ O - Está no Grupo Desportivo da Mata vai para
seis anos. Tantos anos seguidos são sinónimos de quê?
JCD - São sinónimo de um grupo de trabalho forte do qual faz
parte uma equipa técnica que coordeno. Tenho também tido a sorte
de treinar atletas com muita qualidade. Muitos deles ajudam-me imenso já
que os tenho influenciado a tirarem Cursos de Monitores e Cursos de Treinadores
de 3º Grau São atletas que trabalham diariamente e auxiliam no treino.
Não posso esquecer também o apoio da Direcção e
o massagista José Azevedo que é uma peça importante nos
resultados obtidos.
"Atletas e treinadores podem trabalhar melhor as disciplinas técnicas"
U @ O - A Covilhã tem agora um Complexo Desportivo.
O que espera da qualidade da nova pista de Atletismo?
JCD - É de facto uma infra-estrutura de muita qualidade, ao nível
do que há de melhor e que se espera, fique ao serviço dos atletas
e treinadores. É preferível que se estrague com o uso do que com
a falta dele. Para atestar da qualidade da pista do Complexo Desportivo da Covilhã,
basta ler o que disseram os grandes nomes do atletismo nacional que recentemente
participaram no " I Meeting Internacional da Cidade da Covilhã".
U @ O - Quais as vantagens de ter um Complexo Desportivo
como o da Covilhã?
JCD - A grande vantagem é a possibilidade que se abre aos atletas
e seus treinadores de poderem treinar melhor as disciplinas técnicas:
Corridas (livres e barreiras), Saltos (comprimento, triplo salto, altura e vara),
Lançamentos (disco, peso, dardo e martelo). São disciplinas muito
específicas que para serem treinadas com alguma qualidade tem de haver
condições. Só assim é possível avaliarmos
correctamente a evolução dos atletas.
U @ O - Abrem-se assim boas perspectivas para o Atletismo
na região?
JCD - Só a pista não resolve os problemas do Atletismo. É
preciso que atletas e técnicos melhorem cada vez mais os seus conhecimentos.
É aqui que a Associação de Atletismo de Castelo Branco,
que superintende a modalidade no Distrito, tem uma palavra a dizer, trazendo
para a região cursos e acções de formação
com técnicos especializados.
U @ O - Para terminar, qual o segredo do José Carlos
na obtenção de tantas marcas e títulos?
JCD - O segredo reside em ter amor e acreditarmos naquilo que fazemos. David
J. Schwartz, (n.d.r. famoso estudioso da mente humana, com diversas obras publicadas
sobre a forma para atingir o sucesso), dizia que "as pessoas bem sucedidas
nada mais são do que gente que desenvolveu o poder de acreditar em si
mesmas e naquilo que realiza". E depois acrescentava "jamais se desvalorize".
É por isso que é necessário estar sempre em formação
contínua para se aprender e ensinar sempre melhor. Não é
fácil conciliar a minha actividade profissional de funcionário
público com a actividade desportiva. Tem de haver uma espécie
de casamento entre as duas actividades. Felizmente tenho obtido resultados desta
minha postura.