O projecto do acesso norte da Covilhã à Auto-Estrada da Beira Interior
(A23), que liga a Ponte de Álvares ao cruzamento do Parque Industrial do
Canhoso, foi indeferido pela Secretaria de Estado do Ambiente. Em causa, segundo
o administrador-delegado da empressa concessionária da via, a Scutvias,
Matos Viegas, "a necessidade de mais pareceres". "A Comissão
de Acompanhamento não chumbou o projecto de execução. Simplesmente
achou insuficientes as justificações dadas", explica Matos
Viegas. E continua: "O projecto, que já tinha o estudo de impacte
ambiental, quando é feito tem que respeitar certas especificações
mas a Secretaria de Estado do Ambiente defende que essas não são
suficientes". A informação de que o projecto tinha sido indeferido,
afiança Matos Viegas, chegou na primeira quinzena de Maio.
De facto e segundo o que o NC apurou junto da Secretaria de Estado do Ambiente,
"o projecto de execução foi chumbado por não estar em
conformidade com as condições impostas na Declaração
de Impacto Ambiental". Assim, a Scutvias "não cumpriu alguns
dos requisitos", daí que tenha agora um prazo para proceder à
"reformulação" do mesmo. "Passou naquilo que era
mais difícil, que é o estudo de impacte ambiental, mas chumbou no
projecto de execução", confirma uma fonte da Secretaria de
Estado.
Matos Viegas garante, no entanto, que esse indeferimento não coloca em
causa o traçado, já previamente escolhido e aprovado.
Posto isto, as consideradas "zonas críticas" do acesso, apontadas
pela Comissão de Acompanhamento, só poderão ser executadas
depois de feitas as necessárias reformulações ao estudo de
impacte ambiental. Uma situação que, de acordo com o administrador-delegado
da Scutvias, não invalida que a empresa concessionária da A23 comece
com os trabalhos a nascente do Rio Zêzere e perto da EN18. "Quando
tivermos as licenças, imediatamente começaremos as obras",
assegura Matos Viegas.
Quem se mostra preocupado com toda esta situação é o presidente
da Junta de Freguesia da Boidobra. José Pinto teme que, devido ao indeferimento
dado pela Secretaria de Estado, "a obra possa vir a sofrer atrasos".
O autarca deu conhecimento do problema ao presidente da Câmara da Covilhã,
Carlos Pinto, o qual prometeu reunir no local em causa ainda durante esta semana.
No entanto, o edil covilhanense não se furta a tecer algumas considerações
sobre o assunto. "As questões do ambiente, em Portugal, andam aos
zigue-zagues. Não há, neste momento, qualquer seriedade no processo
de decisão ambiental no nosso País", crítica Pinto,
demitindo-se de qualquer responsabilidade na matéria, para quem "o
problema é entre a Scutvias e a Secretaria de Estado do Ambiente".
Acesso directo da Boibobra à Covilhã sem a "miníma
possibilidade"
Uma outra questão, e que ainda não desmobilizou a vontade da população
da Boidobra, é a ligação directa desta à Covilhã
através da A23. Neste ponto, a Scutvias "lava as mãos".
"Não temos nada a ver com isso", refere Matos Viegas. Este responsável
recorda que, no início do processo e na tentativa de responder às
reivindicações, principalmente dos moradores da Quinta Branca, Moreirinha
e Carregal, a Scutvias colocou no projecto a construção de uma rotunda
de acesso. "Mas que não passou", afirma Matos Viegas. Após
este "chumbo", a empresa procedeu à construção
de meios nós de acesso directo pelo lado norte à Auto-Estrada da
Beira Interior e "não à Covilhã". "Não
há a miníma possibilidade de acesso directo à cidade",
reitera Matos Viegas.
A23 na lista das SCUT´s
que mais custam ao Estado
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As auto-estradas sem custos para o utilizador (SCUT), de onde se
destaca a Auto-Estrada da Beira Interior (A23), custaram ao erário
público um valor mínimo que ultrapassa os 15 mil milhões
de euros e que levou a um descontrolo orçamental. Esta é
uma das conclusões da auditoria do Tribunal de Contas (TC)
às concessões definidas pelo Estado entre 1997 e 2002,
revelado pelo Diário Digital.
O estudo - que incidiu sobre seis das concessões SCUT em
Portugal (Costa da Prata, Beira Interior, Beiras Litoral e Alta,
Interior Norte, Algarve e Norte Litoral) - tece duras críticas
às decisões dos governos durante aquele período.
Os Executivos são acusados de "conduzir ao enfraquecimento"
da concorrência e da competividade, descurando quais seriam
as melhores propostas numa lógica do custo/benefício,
levando a que fossem consideradas, por exemplo, as piores propostas.
Os contratos envolvem empresas como a Scutvias, Lusoscut, Euroscut
e Nortscut.
Entre as falhas detectadas pelo TC, a referência a que "apesar
das boas práticas internacionais o recomendarem, o lançamento
do programa de concessões não foi premeditado de uma
avaliação sobre a economia, eficiência e eficácia,
face ao modelo tradicional, via orçamento do Estado".
Para o valor total de custos efectivos destas concessões
para o erário público contribuíram os encargos
contratualizados, resultantes dos pagamentos iniciais e das portagens
SCUT, que ascendem a quase 15 mil milhões de euros. Os contratos
a assumir com os processos de expropriação, avaliados
- de forma pouco rigorosa - em 100 milhões de euros, os encargos
estimados com reequilíbrios financeiros derivados, por exemplo
de atrasos e alterações nos projectos - os quais,
só nas concessões SCUT da Beira Interior e Norte Litoral
- ascendem a 16,3 milhões de euros, são outros dos
exemplos incluídos na contabilização dos custos.
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