Anabela Gradim

Ponto final


As prescrições vão voltar ao Ensino Superior. Entre seis e oito anos como prazo máximo para concluir um curso - dependendo da duração do mesmo - é bastante razoável se atendermos ao desperdício crónico que, nesta matéria, grassa pelas escolas. Estou em crer que a estatística dos sete anos em média para a conclusão de uma licenciatura é agravada pelos auto-denominados veteranos, que as multiplicam sem conta nem medida. Mas mesmo descontando esse factor, são números perfeitamente inaceitáveis para um País de escassos recursos, famílias incluídas. É um verdadeiro luxo asiático explorar, anos a fio, erário público e familiares, para frequentar um curso que não se deseja ou não se tem capacidade para concluir.
O esquema de prescrições, se entrar em vigor de forma rigorosa, como está previsto na lei, poderá contribuir para uma efectiva melhoria da qualidade do ensino, e também do grau de exigência das escolas, responsabilizando docentes e alunos de uma forma inteiramente nova para os padrões destes últimos anos.
Um horizonte de prescrição fará com que os professores dêem melhores aulas, e responsabilizará os alunos pelos seus estudos e sucesso escolar. Depois há um efeito cumulativo a contar em tudo isto: se, em média, todos os alunos se esforçarem um pouco mais - temendo perder demasiados anos - a qualidade geral das turmas será mais elevada; a qualidade da docência, conteúdos e programas, passa a ter margem para aumentar, e o resultado será, no final das licenciaturas, alunos mais bem preparados e com melhor formação, além de que mais jovens porque impossibilitados de se eternizarem nas escolas.
A prescrição traz um limite de realismo e tangibilidade a todos os agentes do processo educativo, susceptível de lhes permitir aperfeiçoarem-se e melhorarem em tempo útil, em vez de transferirem essa difícil tarefa para as calendas gregas, por manifestamente desnecessária. Quando o tempo parece infinito, quando se tem todo o tempo do mundo, não faz qualquer sentido empreender uma acção, por mais ínfima que seja. São, numa pequeníssima escala, os paradoxos da eternidade revisitados: para a criatura eterna, nenhuma acção faz sentido, porque tudo aquilo que ele ainda não fez, inevitavelmente fará, e por isso nada deseja, persegue ou executa. Para o estudante que tem todo o tempo do mundo para fazer uma cadeira, ou o docente que o tem igual para comunicar uma matéria, a quantidade de esforço necessária a dispender para vencer o obstáculo pode nunca chegar a ser gasta hoje. Há sempre um amanhã. As prescrições vêm pôr um ponto final a isto mesmo. E com um ponto final acenando num prazo concreto, a tal pequeníssima dose de esforço vai começar a parecer valer a pena mais cedo. O sucesso escolar aumentará. E os muitos que passada uma década lá desistem do canudo, vencidos pelo cansaço, vão passar a fazer os seus cursos em tempo útil, aumentando o sucesso do sistema.
Parágrafo então, que para o ano começa vida nova nas escolas superiores.