Por
Cátia Calado
Rasgada a capa de plástico
que embrulha Sing me something new encontramos um
álbum de fotografias feito à imagem e semelhança
de um cd introspectivo.
O vocalista da banda de Leiria emancipa-se e lança uma carreira
a solo com um
álbum com cobertura e recheio de boa música. Neste trabalho
a voz de David
Fonseca frequenta tons desconhecidos para os apreciadores de Silence4.
A sua
voz está mais madura, espontânea e livre para se movimentar
nos temas
sentimentais, intimistas e nostálgicos a que já nos habituou.
Um bolo com 30 velas não simboliza apenas os anos que David Fonseca
comemora em Junho. O bolo de anos são as lembranças, as
festas de anos e o passado sempre
presentes neste álbum. O ingrediente principal é a originalidade,
logo
perceptível pela capa naïf e pelo nome do álbum.
A irreverência da juventude em So you want to save the world,
o ritmo
frenético de the 80s, as crianças a gritarem
In love with yourself, a
flauta e o som das teclas da máquina de escrever em you and
I (letter to S.)
vivem da poesia. O amor pousa em cada pauta musical e em cada verso onde
apareçam palavras como pain e believe ou
sinónimos destas.
Desiludam-se aqueles que esperam algum tema em português. O inglês
continua a
ser o melhor meio de expressão para David Fonseca. O álbum
vai buscar alguma
coisa a Only pain is real (2000) como mostra o primeiro single
Someone that
cannot love, ainda que se queira afastar um pouco desses tempos.
A esse
propósito é curiosa a quadra de the 80s:
I came in here just for the music
for all that it makes me feel
I came to exorcise my demons
To bury those days when only pain was real
Mais uma vez as letras dão que pensar. David Fonseca tocou quase
todos os
instrumentos na realização deste trabalho e foi o autor
de muitas das
fotografias. As passagens entre faixas estão muito bem conseguidas.
O início de uma faixa parece completar sempre o fim da faixa anterior.
Um trabalho com 12
fatias/faixas para saborear. Os ouvidos agradecem.