Anabela Gradim
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De mal a pior
Pela primeira vez na história da UBI não apareceram
listas para concorrer aos órgãos de gestão da Associação
de Estudantes, e se a situação não se inverter - o prazo
expirava a 16 de Maio mas foi alargado até princípios de Junho -
os estudantes da UBI podem ficar sem quem os represente e dê continuidade
às actividades que vinham sendo desenvolvidas. Não são só
os estudantes que ficam mais pobres; é a universidade e a academia no seu
conjunto que perdem com o desinteresse e a desmotivação daqueles
para quem o grosso das suas actividades são direccionadas.
É verdade que as associações têm sofrido muitas vezes
uma excessiva partidarização, e que ainda há bem pouco tempo,
nas Academias mais prestigiadas, eram trampolim certo para uma carreira política
se não auspiciosa, pelo menos medianamente "remunerante".
Mas também é verdade que a representação social dos
políticos nunca esteve, provavelmente, tão em baixo como hoje; e
a julgar pelas inenarráveis cenas que episódios como o de Felgueiras
proporcionaram aos portugueses, estou em crer que a tendência ainda possa
ser piorar. Há uns meses, na minha boa-fé, diria que batemos no
fundo. Hoje, nem que fosse a famosa astróloga-quiróloga-taróloga
que em breve a nova taxa de audiovisual cobrada na factura da electricidade vai
financiar, me atreveria a tão ousados vaticínios. É simples:
já não se sabe onde está o fundo, nem onde é que isto
vai parar.
Acresce que os portugueses - que sempre foram um povo com tiques de ciclotímico
- andam deprimidos. É o desemprego imparável. A ex-guerra. São
os opinion makers do alto das suas doutas penas zurzindo-os de preguiçosos,
improdutivos, trapaceiros e sabe Deus que mais. É o défice. A chuva
de lama que se abateu sobre a vida pública. E pior: tão poucas alegrias
para mitigar tanto desalento.
Não surpreende pois que os jovens e os estudantes sigam a tendência
geral de desmobilização. Mas preocupa. Estes deveriam ser os seus
anos de causas e idealismo, antes que as prosaicas condições materiais
de existência se sobrepusessem a outros considerandos - como inevitavelmente,
em maior ou menor grau, sucederá à medida que as responsabilidades
nas suas vidas se avolumarem. E preocupa que o prestígio do associativismo
e da vida pública esteja tão em baixo. Que não haja candidatos
para trabalhar imenso, receber quase nada em troca, e perder um ou dois anos de
curso - e recordo que, mesmo sem associação, eles continuarão
a perder-se numa negra estatística, só não por bons motivos.
Estou em crer que in extremis surgirá ainda uma lista à AAUBI.
Será muito mau se tal não suceder. Mas mesmo que brotem agora como
cogumelos muitas listas, o que seria desejável, todo o episódio
deveria fazer-nos meditar sobre o rumo que vamos imprimindo às nossas vidas,
e que é aquele que a sociedade acaba por tomar.
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