Ao ouvir-se o homónimo álbum de estreia dos Audioslave fica-se,
pelo menos, com uma certeza: o movimento grunge está bem entregue.
Andou pelas ruas da amargura a chorar a morte de Kurt Cobain, mas vai
reaparecendo, aqui e ali, em manifestações mais revivalistas,
como em "Degradation Trip", de Jerry Cantrell (ex-Alice In Chains),
ou com energias renovadas como é o caso presente.
Audioslave, a banda, é o providencial casamento entre o cantor
Chris Cornell (ex-Soundgarden) e os músicos dos Rage Against The
Machine, que não ficaram muito tempo a lamentar a saída
do vocalista Zack de la Rocha. "Audioslave", o disco, é
o feliz cruzamento entre o pessimismo grunge, e o inconformismo rap-metal.
O resultado desta osmose é uma nova estirpe de um velho som. Igualmente
arrojado e soturno, mas muito mais complexo e sedutor. "Audioslave"
abre com "Cochise", um pandemónio de guitarras em distorção
e percussão primária à boa velha maneira de Seattle,
e termina quase uma hora depois com "The last remaining light",
uma ode cantada em jeito de exéquia ao movimento que no início
da década de 90 revolucionou o rock americano. Pelo meio ficam
mais 12 faixas fenomenais, como "Like a Stone", "Gasoline",
"Set it off" ou "Shadow of the Sun", que nos trazem
o melhor de dois mundos distintos.