O prazo de entrega de listas candidatas à AAUBI termina no dia 2 de Junho
AAUBI sem candidatos
"Universidade não pode ficar sem Associação Académica"

Pela primeira vez na sua história, a Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI) não teve listas candidatas aos órgãos de gestão. A situação deve-se à da falta de interesse dos alunos, reflectindo a situação a nível nacional. As diversas juventudes partidárias consideram que o afastamento dos jovens em relação à política é um mal que afecta toda a sociedade.


Por Sandra Carvalho


"A desmotivação e o pouco dinamismo são as características dos jovens de hoje". É com este desabafo que José Vaz, membro da Juventude Socialista (JS), comenta a situação que se vive na AAUBI e no associativismo em geral.
Nos últimos anos é notória a crescente desmotivação dos jovens perante a política e o associativismo. A escassez de listas concorrentes à Associação Académica tem-se verificado ao longo destes últimos anos, mas houve sempre pelo menos uma lista candidata. O prazo para apresentação de listas à direcção da AAUBI expirou no dia 16 de Maio, sem que aparecesse qualquer candidato. Na Assembleia Geral de Alunos realizada na passada quinta feira, 22, o prazo para a entrega de listas foi prolongado até 2 de Junho. As eleições foram marcadas para o dia 11.
Ana Cruz, presidente da direcção cessante sente-se decepcionada perante a falta de candidatos, consequência da perda do espírito académico, levando a mágoa de não ter conseguido "acordar a alma dos estudantes ubianos", que considera estarem cada vez mais "egocentristas, não conseguindo encontrar algo de bom naquilo que não é uma obrigação".
A dirigente associativa aponta duas possíveis razões para a falta de candidatos à direcção da Associação Académica: "Ou as pessoas estão realmente adormecidas e desmotivadas, ou então não conseguem encontrar na Academia algo de benéfico para a sua vida".
A desmotivação dos jovens foi o principal factor apontado pelas diversas juventudes partidárias, também elas afectadas por este contínuo desinteresse dos jovens: "O desinteresse deve-se ao facto da AAUBI não se saber abrir aos estudantes e de não conseguir erguer bandeiras que unifiquem os jovens por causas comuns", defende José Vaz, membro do secretariado da JS.

Catarina Mendes, coordenadora do Núcleo de Estudantes Socialistas da UBI considera que a sociedade em geral está cada vez mais apática em relação a este tipo de actividades e desinteressa-se pelo mundo político e social. "Em tempos ouvíamos que o movimento associativo nacional estava presente em peso e unido. Os estudantes sentiam-se como uma voz única, firme e com "feedback", mas actualmente encontram-se repartidos", comenta.




Segundo Catarina Mendes "os estudantes não vão permitir que a Universidade fique sem Associação Académica"
Todas as tentativas de organização e iniciativas nacionais que pretendiam unir o associativismo falharam. Em algumas, a participação foi reduzida e houve academias que não se fizeram representar: "Em termos globais e nacionais existe uma forte tentativa de partidarizar em vez de se partir para uma pluralidade de ideias na associação", sublinha Catarina Mendes. "As associações têm-se centrado em determinados grupos fechados com ideais comuns e com uma posição muito particular. A Juventude Socialista é, por isso, contra a instrumentalização das associações", acrescenta.





Direcção cessante não cumpriu

A actual direcção da associação académica tinha como lema aproximar a associação dos estudantes, objectivo que para a JS não foi alcançado. "Os alunos da UBI não se reviam no movimento associativo nem na direcção", afirma Catarina Mendes, acrescentando que "a Universidade não pode ficar sem Associação Académica. Os estudantes não vão permitir tal situação".
A Juventude Comunista Portuguesa (JCP) aponta outros motivos para o facto dos alunos da UBI não terem formado listas concorrentes para a direcção da associação. Rui Mota, membro da JCP, aponta como principal razão o factor económico: "70 por cento dos estudantes desta Universidade são de fora, têm a seu encargo despesas como viagens, alojamento e alimentação e isto impede-os de participar no movimento associativo".
Na opinião deste membro da JCP, "para se pertencer a uma associação académica é necessário disponibilidade e muito trabalho, o que impede muitas vezes que os alunos possam acompanhar os respectivos cursos". O empenho por parte dos alunos é fundamental para o bom funcionamento da associação e da academia e esse empenho falta aos jovens. Segundo Rui Mota "se o Governo avançar com o aumento das propinas haverá a uma menor participação dos alunos no movimento associativo e quem vai ficar a ganhar é o Governo, em claro prejuízo para os estudantes que perdem voz e poder reivindicativo".
Luís Franco, coordenador dos jovens do partido Bloco de Esquerda (BE), comenta a actual situação que vive a AAUBI: "O facto de não surgir nenhuma lista para se candidatar à associação académica só demonstra a falta de interesse dos alunos pelo associativismo e a pouca dedicação dos mesmos a certas causas".
Para Luís Franco, a academia encontra-se adormecida e há um total desinteresse por tudo o que esteja fora das aulas. Os alunos não se preocupam com um ensino de qualidade, nem com actividades extra-curriculares, como jornadas e conferências. "Toda esta situação que se está a viver só demonstra um desprezo para com a associação", afirma.
Ana Cruz aponta o lado positivo que pode emergir no caso de não haver qualquer direcção, pois isso irá lembrar "às pessoas que, caso a direcção não exista, uma série de actividades como a Semana Académica, a Recepção ao Caloiro e todas as actividades culturais e desportivas, deixam de existir".


Núcleos devem ser a base

Luís Franco defende que os núcleos de estudantes desempenham um papel fundamental

Particularizando a situação, Luís Franco dá como exemplo o núcleo de Ciências da Comunicação ao qual pertence: "Organizam-se as Assembleias Gerais de Membros (AGM) e ninguém comparece. Este exemplo demonstra a falta de interesse e empenho dos alunos".
Os pilares da AAUBI são os estudantes e os respectivos núcleos, mas nos últimos tempos tem-se vindo a assistir a uma diminuição das actividades organizadas pelos núcleos: "Em termos do associativismo, as pessoas não estão preparadas nem formadas e há aquelas que não querem despender o seu tempo por essa causa", comenta Miguel Madeira, presidente da Juventude Social-Democrata (JSD). Acrescenta que "são os núcleos que fazem movimentar a academia, juntamente com a associação".
O slogan inicial desta direcção era a dinamização da sede, chamando a este espaço os estudantes, mas não foi isso que sucedeu: "A associação limitou-se a pintar o lado negro do associativismo e não cativou devidamente os estudantes", adianta Miguel Madeira. A associação é benéfica para a Universidade e para os estudantes, mas exige muito das pessoas: "É preciso ter capacidade de trabalho. Quando isso falta é difícil ser-se bom líder, e foi isto que aconteceu com esta associação", frisa Miguel Madeira.


Acrescenta ainda que "a academia está adormecida numa sonolência profunda. Vamos ver se despertará para a realidade, para o bem da academia e da Universidade. A Covilhã merece uma academia movimentada, dinâmica, coisa que não se viu com esta associação".

Para Miguel Madeira, a desmotivação dos alunos "talvez se deva por um lado à própria desmotivação desta associação por não saber como dinamizar a academia, e por outro com a Universidade que perante iniciativas como a Semana Académica não se flexibiliza em relação às aulas". Em termos pedagógicos a actuação desta associação foi um tanto ou quanto limitada: "Esta academia pautou-se, no aspecto pedagógico, nitidamente pela fraqueza", sublinhou Miguel Madeira.
As diversas juventudes partidárias encaram a actual situação de desmotivação dos jovens para a vida político-associativa como um possível mal para toda a sociedade. Segundo estes responsáveis partidários, o sentimento geral de desinteresse é unânime, pois um País onde os jovens não têm força de vontade para lutar e reivindicar pelos seus interesses pode levar ao adormecimento geral da sociedade.