José Geraldes

Corrupção e honestidade


Agora, os ricos também são presos e condenados. A caça ao crime de colarinho branco intensificou-se. E tem de continuar

Quem chegasse a Portugal e lesse os jornais nacionais das últimas semanas e visse os noticiários das televisões concluiria que estava num País onde só há corruptos. Para bem de todos nós, tal conclusão seria falsa.
Isto não quer dizer que a corrupção não ande por aí à solta. É um facto indesmentível que ela existe. Agora, está a ser descoberta e revelada na praça pública, mercê da actuação da justiça. Dir-se-ia até que estaremos na fase inicial de outras descobertas de muitos actos de corrupção escondidos.
O que, antes, estava encapotado, surge à luz do dia, com novo vigor, devido à premente atenção dos meios de comunicação social. Claro que, enquanto não houver sentença de julgamento, toda a pessoa se presume inocente. Mas descobrem-se indícios tão fortes que se torna difícil alimentar dúvidas sobre uma possível culpabilidade.
E nem as polícias prendem alguém por "dá cá aquela palha" nem os juízes tomam medidas de coacção, de ânimo leve.
Como seres humanos podem enganar-se. Mas, perante provas mais que evidentes, as decisões a tomar apresentam-se claras. E, evidentemente, sem o labéu da precipitação.
A revelação dos actos de corrupção só traz benefícios para a sociedade. Primeiro porque a corrupção é um verdadeiro cancro social que destrói a verdade das relações humanas. Depois porque põe a nu situações que ninguém pode aceitar, pois vai contra todos os princípios da consciência rectamente formada. E ainda porque desenvolve os mecanismos de correcção e de prevenção para a consolidação da honestidade da convivência social.
As denúncias ultimamente feitas têm o mérito de acabar com o mito de que havia dois pesos e duas medidas na aplicação da justiça. Os pobres eram sempre condenados, os ricos absolvidos.
Quem tivesse dinheiro e "cunhas" altamente colocadas, podia estar tranquilo, pois nunca iria parar às malhas da justiça. Agora, os ricos também são presos e condenados. A caça aos crimes de colarinho branco intensificou-se. E tem de continuar. A impunidade acabou.
Mas ninguém tenha ilusões. Há ainda muita corrupção a medrar em gabinetes alcatifados. E cheques que são passados por debaixo da mesa para "comprar" favores de toda a ordem.
Não foram os sinais exteriores de riqueza que deram o alerta às polícias para a descoberta de actos de corrupção? É tão fácil de ver. Como é possível que pessoas, de um momento para o outro, comecem a viver de uma maneira que o seu estatuto não permite, dados a média dos salários que auferem? Não há heranças por passes de magia.
O País não é corrupto. Mas a tentação da corrupção espreita por todo o lado. Muitos querem ser ricos sem trabalhar. Outros já se habituaram de tal forma a viver do dinheiro fácil que procuram, a todo o custo, as ocasiões propícias para corromper o chefe de repartição, o director-geral, o vizinho, o amigo, o autarca, o presidente do clube de futebol, o banqueiro, o colega de trabalho, o assessor do ministro.
Os escândalos tornados públicos não nos devem admirar. Só se estranha que só, agora, venham a público. Mas vale mais tarde do que nunca. Para um País ter a honestidade como lema de vida.