Por Ana Sofia Cação


No filme é apresentada a história comum da ascensão e queda da inocência política, minada pela corrupção

Inserido no ciclo de cinema comemorativo dos 90 anos do "Notícias da Covilhã", foi exibido, no dia 13, um filme de 1949 "A Corrupção do Poder" ("All the King's Men") de Robert Rossen.
No filme, a preto e branco, é apresentada a história comum da ascensão e queda da inocência política, minada pela corrupção. Willie Stark (Broderick Crawford) é um advogado de uma zona rural que luta corajosamente contra o despotismo daqueles que não se preocupam com o povo. A personagem principal de Willie Stark é acompanhada ao longo do seu percurso, por um jornalista novato, Jack Burden, que se deixa fascinar pelo enredo da luta pela justiça.
Willie Stark chega ao poder com o apoio maioritário do povo e com negócios, pouco claros, de troca de favores. O jornalista é testemunha das boas intenções do advogado que, ao sentar-se confortavelmente na cadeira do poder, se esquece dos seus objectivos, deixando Jack Burden numa luta interior ao pensar nas barbaridades e vícios da nova política de tirania de Willie.
O filme "A Corrupção do Poder" deixa transparecer que a facilidade com que se abusa do poder é muito reconfortante para os espíritos fracos e que traz a fatalidade de um destino trágico para a personagem principal. Esta ideia é representada nos cartazes com a frase: "Ele pensava que tinha o mundo nas mãos, até este lhe rebentar na cara!".
Este clássico do cinema é uma adaptação do best-seller de Robert Penn Warren "A Corrupção do Poder", obra que valeu ao autor um prémio Pulitzer. No livro, a personagem do jornalista é a principal, com os jogos de poder de Willie Strark vistos e analisados através dos seus olhos.
Na sétima entrega dos óscares de Hollywood, "A Corrupção do Poder" teve direito a sete nomeações e arrecadou três estatuetas para melhor actor, para melhor actriz secundária, consagrando ainda Robert Rossen com a estatueta para melhor filme do ano.
Como já é habitual, depois da exibição decorreu um período de debate onde foram discutidas as ideias fortes do filme. Sob a coordenação de Luís Nogueira, docente da UBI, o debate transformou-se numa troca cerrada de ideias sobre a política actual exercida em Portugal e a nível internacional.
Assim como neste filme de 1949, verifica-se que a democracia da actualidade é baseada na mesma perversidade em que vivia a personagem de Willie Stark, onde a ignorância do povo é uma espécie de bênção para o político corrompido.