Estão expostos na Livraria D'Ávila, no edifício da Biblioteca
Central da UBI, cinco quadros do pintor cabo-verdiano Manuel Figueira. A exposição
acontece na sequência de um projecto sobre a moderna pintura cabo-verdiana,
levado a efeito pelo Centro de Estudos Sociais da UBI, em colaboração
com o Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto. O projecto tem por
objectivo analisar a obra dos três pintores mais significativos da ilha
de S. Vicente. Assim, para além da obra de Manuel Figueira, sobre a qual
se prepara um livro, analisar-se-á ainda a obra de Luísa Queirós
e Bela Duarte.
A particularidade de S. Vicente enquanto pólo cultural do grupo de ilhas
do barlavento cabo-verdiano, com uma vivência cultural e política
muito própria, de certo modo identificável com um regionalismo,
é um dos referentes analíticos do projecto. Juntam-se-lhe outros,
tais como a especificidade cultural do arquipélago, um caso bem sucedido
de mestiçagem cultural construída a partir de empréstimos
bio-culturais da Europa mediterrânica e da África Ocidental. Partilha,
nessa condição, uma situação comparável a outras
ilhas atlânticas, como sejam São Tomé e Príncipe, e
ao universo caribenho. Ganha assim sentido a comparação, prevista
no projecto, da experiência estética cabo-verdiana com a das sociedades
caribenhas.
De referir que a comparação, em termos antropológicos e literários,
de Cabo Verde com as ilhas de S.Tomé e Príncipe, diferentemente
do que se passa em relação às Antilhas, tem sido, de certa
maneira, recorrente nos estudos sobre os contactos culturais proporcionados pela
expansão portuguesa nos trópicos. Basta lembrar nomes como o de
Mário António e Francisco Tenreiro.
Manuel Figueira é natural da ilha de S.Vicente. Possui o Curso Complementar
de Pintura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. É hoje um dos mais
conceituados pintores cabo-verdianos, com várias exposições
e participações em Cabo Verde, Portugal, Estados Unidos, França
e Brasil.
Os quadros expostos reportam-se à última fase do pintor. Predominam
em alguns os amarelos e os vermelhos fortes de África; noutros predomina
o azul em várias tonalidades. Em ambas as tendências estão
espelhadas preocupações e mundividências inerentes à
insularidade cabo-verdiana.
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