Com a redução da Sisa, o Governo admite avançar com mais impostos sobre o património
Impostos sobre o património
Autarcas continuam a contestar diminuição da SISA

"Odioso", "imponderável", "falta de consideração". São estes os adjectivos com que alguns autarcas do distrito classificam a redução da SISA. Apesar de se preverem algumas compensações, a contestação, ainda que menos dura, mantém-se.


Carla Loureiro
NC/Urbi et Orbi


O próximo mês de Junho vai marcar o início da vigência da nova taxa de SISA. Depois de em Abril o Governo ter decidido substituir este imposto e a contribuição autárquica por novos, apesar de estar prevista a sua entrada em vigor somente em Janeiro de 2004, a ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, anunciou ao Parlamento a sua antecipação. Bem como, depois da pressão exercida pela Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e "pesos-pesados" do seu partido, o PSD, compensações para as autarquias. E a havê-las, só lá para 2006.
Mas as críticas, apesar de terem acalmado, não cessaram. Os autarcas continuam preocupados com esta redução e quando se fala no Interior, a questão toma outras proporções quanto às consequências para as finanças municipais.
O presidente da Câmara Municipal da Covilhã, Carlos Pinto, já manifestou a sua preocupação quanto a uma nova diminuição de receitas, alertando para um cenário "desastroso". O edil covilhanense refere que "se congelam os empréstimos, se não há contratos-programa e e se reduz aquilo que era a SISA e a Contribuição Autárquica, as coisas não serão fáceis". Perante isto, Carlos Pinto afirma que "a autarquia vai fazer um levantamento exaustivo sobre as consequências para o concelho, em matéria de obras, sobre a redução deste imposto". Os previsíveis cortes nas receitas poderão, inclusivamente, implicar a não realização de novas obras. O político social-democrata classifica a decisão do Governo de "falta de respeito, consideração e conhecimento do que é a vida municipal".
Já para o autarca do Fundão, Manuel Frexes, estas alterações "são muito gravosas". "A nossa receita de SISA rondava o meio milhão de euros, mas agora estimo que venha para metade", revela o presidente da Câmara fundanense. Quanto às repercurssões ao nível de obras, Frexes declara que a "política expansionista" do seu executivo poderá abrandar. "É menos meio milhão de euros", recorda. O político confessa mesmo que é uma "angústia tremenda, pois ninguém sabe o que é gerir um município". Manuel Frexes mostra-se descontente com o Governo, cuja cor política é também a sua, defendendo que "só devia ir para o Executivo quem tivesse tido experiência municipal". E vai mais longe na crítica: "O Governo está a lançar o odioso para as autarquias, sacudiu a água do capote e não assume as suas responsabilidade".

Castelo Branco com menos 1,5 milhões de euros

Em Belmonte, poderão haver obras prejudicadas, cuja execução e pagamento vai ter que ser atrasado. Quem o diz é Amândio Melo, presidente da Câmara. Ainda que garanta que essas obras "não vão deixar de se fazer", a decisão do Governo em baixar a taxa de SISA é vista pelo autarca belmontense como "imponderável". Já em relação às compensações que a ministra das Finanças acedeu dar às autarquias, Amândio Melo não fica mais descansado. Isto porque, justifica, "não se sabe qual é a forma nem quando será apresentada".
Quanto à capital de distrito, Castelo Branco, Joaquim Morão já fez as contas e refere que a redução do orçamento deste ano será bastante significativa. A Câmara Municipal albicastrense pode vir a perder perto de um milhão e meio de euros em virtude da transformação da SISA em imposto municipal sobre transacção de imóveis. Para Morão, a "situação é inaceitável" e "há investimentos que terão que ficar pelo caminho".
A descida da taxa máxima de SISA, de 10 para seis por cento, com efeito já a partir de Junho, leva a que as câmaras municipais, ao nível do País, se vejam privadas de parte das receitas que esperavam para este ano e que estariam previstas em orçamento.
De facto, o novo imposto autárquico "vai doer". A maioria dos proprietários terá aumentos superiores a 100 por cento a partir de 2004. Imóveis de 1975 podem chegar a 270 euros em 2008 e o Governo já admitiu avançar com mais impostos sobre o património.
Estima-se que, com todas estas alterações à SISA, os municípios venham a perder mais de 60 por cento de receitas.