António Fidalgo
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Marketing das Cidades
Nas últimas edições do jornal Expresso
foi noticiado o eixo
Guarda-Fundão como uma das áreas mais
dinâmicas
de Portugal. De facto, é visível à vista desarmada o espantoso
desenvolvimento que se tem verificado na zona. O ensino superior, universitário
e politécnico, as acessibilidades, em particular a auto-estrada da Beira
Interior, a pujança da construção civil, os eventos culturais,
são factores indesmentíveis de um crescimento, notável a
todos os títulos.
Porém, muito mais importante do que aquilo que salta aos olhos é
o que se passa nos espíritos. Para lá do desenvolvimento visível
a olho nu, há uma transformação de mentalidades que faz toda
a diferença. Uma tese de doutoramento em sociologia urbana, feita muito
recentemente na UBI, mostra bem o quanto os tempos que aqui vivemos são
de franca mudança. Sob o título "Tempos Cruzados na Covilhã.
Representações Urbanas e Acção Colectiva" Domingos
Vaz investigou as transformações operadas nas últimas décadas
na realidade e no imaginário da Covilhã.
Uma nova abordagem se impõe sobre o pensar as cidades médias, uma
abordagem que não se circunscreva apenas à dimensão demográfica,
mas sobretudo ao posicionamento estratégico. Passo a citar directamente
o investigador na introdução à tese: "Admite-se que
as cidades médias possuem um posicionamento importante a dois níveis:
a existência de uma rede densa de
circulação de informação
e uma proximidade identitária propícia à cooperação
empresarial e industrial. O desafio que se coloca, então, a estas cidades
é o de criarem e evidenciarem as vantagens competitivas no domínio
dos novos factores de localização de investimentos e de actividades
que estimulem um ambiente local propício à inovação
social e à iniciativa empresarial."
Mas só isso não basta. Tem de haver um marketing, um saber vender,
a cidade. "As estratégias activas, ofensivas, de um projecto de cidade,
num contexto de voluntarismo selectivo e de participação dos protagonistas
no espaço urbano, necessitam de ganhar visibilidade externa. A construção
de uma imagem de cidade enquanto lugar de atracção com determinadas
vantagens locativas (acessibilidades, redes de transportes, espaço infra-estruturado,
sistemas de telecomunicações, qualidade dos recursos humanos, ambiente
e qualidade de vida), a par da programação de um conjunto de operações
de promoção com resultados visíveis num curto período
de tempo, é justamente, o contributo resultante do recurso a técnicas
de marketing urbano."
Para quem quiser pensar estrategicamente
a região ou ser um actor político,
social, cultural e mesmo económico, a investigação de Domingos
Vaz é um instrumento essencial de saber como se inserir na dinâmica
em curso. A autarquia deveria apoiar a divulgação deste estudo.
Reconheça-se que o Presidente da Câmara Municipal da Covilhã
soube inflectir o seu discurso de acordo com o desenvolvimento da cidade. De um
bairrismo extremado em 98 e 99 passou para um discurso de conciliação
e de cooperação com os municípios vizinhos nos últimos
dois anos. A imagem de uma cidade não pode ser a do bairro reivindicativo,
mas a do cosmopolitismo aberto e abrangente. Mais uma vez: a melhor maneira de
vender a Covilhã como metrópole é louvar todas as iniciativas
(louváveis) das cidades mais próximas.
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