José Geraldes

Negro


Os clubes e as SAD (Sociedade Anónima Desportiva) levam vida de ricos numa situação de verdadeira bancarrota

Uma catástrofe. É a expressão apropriada para classificar o estado das finanças do futebol português, segundo o relatório referente à época 2001/ 2002. Ou seja, o futebol está como o País: de tanga. Com horizonte negro.
As causas da situação são as de sempre. Os clubes fazem despesas acima das suas posses. Contratam jogadores a preços elevados com salários de príncipes que, depois, não podem satisfazer.
O presidente da Liga de Clubes, Valentim Loureiro, com a autoridade do lugar que ocupa, vai mais longe ao dizer que "os clubes estão a pagar aos treinadores e aos jogadores mais do dobro daquilo que seria possível." Resultado : a chamada SuperLiga, na época analisada, teve um prejuízo de 57 milhões de euros. Só em custos de pessoal, foram gastos 134 milhões de euros, o que corresponde a 83 por cento das receitas!
Apesar do futebol ser um espectáculo de massas, a afluência aos estádios deixa muito a desejar. De acordo com os números divulgados pelo Anuário, a média dos espectadores ficou-se por 6 mil e 500 para uma lotação de 20 mil. O que corresponde a um ordem de grandeza de 33 por cento.
Na II Liga, o panorama não se afigura muito animador. As receitas atingiram 30 milhões de euros. Mas, no conjunto, as equipas apresentam um prejuízo de 2,7 milhões de euros. Cada equipa tem um défice de 150 mil euros. Quanto à frequência dos estádios, a média de espectadores por jogo cifra-se em mil.
Os clubes e as SAD (Sociedade Anónima Desportiva) levam vida de ricos numa situação de verdadeira bancarrota. Aliás, há, apenas, duas equipas da SuperLiga e da II Liga com os salários em dia. Das restantes, algumas cumprem com os salários com 11 meses de atraso.
Uma situação destas exige uma terapia de choque. Mas quem tem a coragem de aplicar as medidas que se impõem ? Porque já se apresentaram sugestões para a resolução da crise.
O presidente da Liga de Clubes preconiza que "se firme um acordo de cavalheiros em que os jogadores dos adversários sejam respeitados e em que seja criado um tecto salarial." Fernando Seara, presidente do Conselho Superior do Desporto e autarca de Sintra, apresenta uma solução radical : "Se, porventura, a Liga tomasse a posição de não permitir a inscrição de clubes em competições a que não tivesse pago as remunerações a jogadores e treinadores, o problema resolvia-se."
Miguel Galvão Teles, presidente da SAD do Sporting, toca, de forma cirúrgica, na ferida : "Importa sempre ter presente que o risco de ver aumentar a massa salarial ou o investimento na ilusão de uma melhor performance desportiva pode comprometer o futuro, de forma irremediável. Hoje, devemos todos convencer-nos de que os clubes e as SAD também podem fechar...."
O diagnóstico não pode ser mais claro. Haja, agora, quem seja capaz de fazer a operação final. Que vai ser muito dolorosa. Pois já não existe anestesia que lhe valhe.
O País está mal, o futebol não está menos. Um "bom" aperitivo para o Euro 2004 com dez estádios de ricos para ficarem às moscas. Será esta uma sina portuguesa ?