Ponto de Passagem




Vilar Formoso









Por Eduardo Alves



As fronteiras vão desvanecendo com a interiorização do conceito de comunidade europeia. Lugares limítrofes que outrora demarcavam o território nacional vão perdendo esse significado. Prevalecem, no entanto, as marcas culturais e algumas, muito poucas, físicas, desse papel importante, o de fronteira.
Vilar Formoso é um lugarejo que se estende ao longo de um importante eixo rodoviário, o Itinerário Principal 5. As poucas ruas que compõem esta aldeia, albergam um casario onde o comércio está presente em quase todos os recantos. Uma identidade que vai desvanecendo ao ritmo da globalização. O frenesim de tempo passados abandonou este lugar de passagem para o outro lado, também de forma abrupta. Deixando as suas gentes órfãs, sem sentido. Vilar Formoso cresceu à sombra da burocracia das alfândegas, das taxas, da circulação de pessoas, das passagens "a salto" de tantos que durante as décadas de 60 e 70 do século passado, encontravam fora do rectângulo português, melhor fado.
Aqui termina, ou começa, Portugal. As antigas casernas da Guarda Fiscal ainda permanecem na linha geográfica que divide o solo luso do espanhol, meramente simbólica. Estão desertas, tal como o antigo edifício que albergou a PIDE/DGS e serviu de alfândega. Uma solidão alargada às lojinhas onde os caramelos e as barras de chocolate com amendoim permanecem há longa data. Já não se vende o café, a loiça branca ou o tabaco contrabandeado. Rotas comerciais feitas à margem de qualquer legislação que tantas aventuras originaram, e riqueza em similar quantidade.
O tráfego fluí num vai e vem constante, assim como os olhares. A única atenção é dispensada aos postos de abastecimento de combustível, onde a língua de Camões é misturada com a de Cervantes. Vilar Formoso guarda uma outra história. Esta comunidade humana está fortemente ligada aos caminhos de ferro. A sua estação é um ícone para todas as restantes no nosso País. Um edifício imponente com as fachadas preenchidas por azulejos retratando as paisagens campestres e as ligações à Europa.
Um edifício que tem vindo a ser preservado, apesar da sua pouca actividade. Nos carris desgastados ainda passa o mítico Sud-Express. Agora mais desafogado de emigrantes, também estes já sem as malas de cartão a caminho de terras de França.
Para os amantes dos comboios, Vilar Formoso guarda ainda um outro tesouro. De costas voltadas para Espanha, uma locomotiva BA101. Trabalhou para a CP desde 1931, ficando depois de muitas voltas pela linha da Beira Alta, arrumada no último cantinho português. Ou será no primeiro?

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