Urbi @Orbi- A UBI foi o motor de arranque para
o desenvolvimento da cidade. Acha que as relações entre a universidade
e a autarquia são suficientemente fortes?
Carlos Pinto- Muito fortes. Estamos a viver um excelente momento de relacionamento.
U@O - Um dirigente associativo dizia há dias que ainda há alguma
separação entre a universidade e a cidade. Concorda com essa afirmação?
CP- A Covilhã é hoje uma cidade muito marcada pela universidade,
pelos seus alunos e professores. O que eu constato é a existência
de um bom clima de entrosamento social entre as duas partes. Apenas oiço
dizer bem do acolhimento que os covilhanenses dão aos alunos universitários
e da saudade com que estes ficam quando partem.
U@O- E porque não se fixam profissionalmente na região depois
de concluírem as licenciaturas?
CP - Esse é um dos nossos grandes objectivos. Ver aqueles que aqui
se formam permanecer por cá. Porém, as universidades são
do País e não das regiões. É justamente por isso que
muitos dos médicos que se formaram em Lisboa, Porto ou Coimbra, se fixaram
por lá, quando deveriam estar espalhados por todo o País. Nesse
caso até é bom que abandonem essas regiões. No nosso caso,
dada a diferença de desenvolvimento entre o litoral e interior, é
bom que as universidades mais recentes, como a UBI possam ter a capacidade de
radicar os licenciados. Mas isso é quase um objectivo de política
nacional, só o voluntarismo não chega. O meu desejo é que
dentro de poucos anos a maioria dos licenciados fique por cá para ajudar
ao desenvolvimento regional.
U@O - Pensa que o curso de Medicina vai ajudar a inverter esta situação?
CP- Eu creio que sim. Primeiro porque se abre um novo campo com a existência
da faculdade e do hospital universitário. Em segundo lugar, porque a aposta
do Governo é também no sentido de aumentar os cuidados de saúde
no interior.
U@O - O que significa para si o dia 30 de Abril (Dia da UBI)?
CP - Significa muito. Este ano, como sempre, vou participar nas comemorações
desse dia. Eu sou um aliado, um admirador e um defensor da UBI. Acredito que a
universidade ainda pode crescer muito mais e tem um futuro extraordinário
à sua frente.
UO- Faz sentido dizer que a universidade vai crescer quando a tendência
é para a diminuição de cursos e de alunos?
CP- Acho que é irreversível. O nosso País precisa de
ser cada vez mais de gente sabedora, com grande formação. Aliás
esse foi o caminho que seguiram os países que se desenvolveram e desse
ponto de vista as universidades estão na primeira linha. Não pode
haver política nacional que não coloque as universidades no centro
das suas preocupações, mesmo no cenário actual de muitas
dificuldades.
U@O- Relativamente à abertura da Casa do Professor, qual o objectivo
que pretende atingir?
CP- Pretendo que seja um espaço de encontro entre uma classe de profissionais
que é extremamente importante para a região e para o País.
A Covilhã é hoje uma verdadeira cidade de ensino e saberes, julgo
que é adequado criar essa estrutura.
U@O- Que graus de ensino vão ser abrangidos?
CP- A comissão já está constituída por professores
de todos os escalões, incluindo o universitário. Estamos à
procura de um espaço para servir de sede à Casa do Professor e de
certeza que vai ser uma grande iniciativa criada na Covilhã.
U@O- Afirmou que um dos factos que mais se orgulha foi o lançamento
do cartão do idoso. Sendo a Covilhã uma cidade universitária,
não acha que seria importante a criação de um cartão
do mesmo género para os jovens, incluindo os que não são
naturais da cidade?
CP- Achava muito interessante se nós tivéssemos dinheiro para
isso, mas não temos. Mesmo para mantermos os benefícios para os
idosos temos que fazer um esforço muito grande.
"Num universo de 300 associações
qualquer desacordo com uma ou duas é insignificante"
|
"A Câmara está aberta ao diálogo"
|
U@O- Qual o principal motivo que originou a polémica entre o Cine Clube
da Beira Interior e a autarquia?
CP- A polémica é a seiva da democracia.
U@O - E isso é
CP- É o princípio de diferença de opiniões, da
diferença de interesses que existe, e quando as associações
têm uma conduta que não é propriamente a mais adequada para
que tudo institucionalmente funcione bem
mas penso que estamos com resultados
positivos para o objectivo que é obter mais cultura na Covilhã e
desse ponto de vista tudo está desenrolar-se normalmente. Aliás,
num universo de 300 associações qualquer desacordo com uma ou duas
é insignificante. O mundo ideal seria que não houvesse qualquer
problema. Contudo deve colocar-se uma questão: porque é que 299
estão bem e dizem bem da Câmara e apenas uma é conflituosa?
O problema é de explicar junto dessas associações e não
é a câmara que vai dar justificações.
U@O- E o que correu mal com essa associação?
CP- Eles é que podem responder. Não tenho comentários
a fazer
U@O- Mas há associações que se queixam de discriminação
CP- A atribuição de fundos é feita em função
do interesse que a Câmara atribui a cada uma delas e às suas actividades.
Isto não é um "razor" em que se dá o mesmo a todas.
U@O- Com a eleição da nova direcção, as relações
entre as duas partes vão voltar à normalidade?
CP- Não conheço a nova direcção, mas estimo que
tudo se passe no futuro de forma diferente dos últimos tempos com a anterior
direcção. A Câmara está aberta ao diálogo e
para nós todas as associações são bem recebidas.
U@O- O percurso ou política cultural têm sido correctos?
CP- São excelentes. É só olhar à volta e tirar
conclusões
em alguma cidade da zona se faz o mesmo tipo de promoção
cultural, desenvolvimento cultural e acções como na Covilhã?
Não há problemas na vida cultural do concelho. Essa vida é
magnífica, assim todos os municípios pudessem dizer ter essa animação.
U@O - Como está o processo do Centro de Artes? Disse que só
avançaria com a obra se tivesse a garantia de financiamento de 90 por cento
por parte do Estado, já existe essa garantia?
CP- Ainda não.
U@O- E continua a manter a mesma ideia?
CP- É fundamental, porque os municípios vivem com carências
financeiras e portanto temos que assegurar o financiamento de praticamente todas
as obras, sob risco de ficarmos endividados.
U@O- Falou-se que havia uma proposta que estaria já aprovada para o
Centro de Artes, mas agora surgiu também uma do arquitecto Tomás
Taveira? Isso corresponde à verdade?
CP- Isso é tudo mistificação
quando abrimos o concurso
apareceram duas propostas que ainda estão neste momento em estudo. Nenhuma
ainda foi adjudicada.
"Vamos fazer todos os projectos que estão previstos no Polis"
|
"Espero que neste mandato possamos mandar recuperar centenas de prédios"
|
U@O- Existem prédios em ruínas um pouco por toda a cidade. Como
e quando vai a Câmara resolver esta situação?
CP- Vamos anunciar em breve uma iniciativa muito forte no domínio empresarial,
que eu penso que vai ser um contributo para aumentarmos o ritmo de recuperação
patrimonial do nosso concelho. Até agora estávamos muito dependentes
da acção particular, dos proprietários das casas, algumas
delas muito degradadas. Espero que neste mandato possamos mandar recuperar centenas
de prédios, em vez de dezenas.
U@O- Os Conselhos Municipais de Segurança são uma imposição
da lei, mas na sua opinião, mesmo que assim não fosse justificava-se
a criação deste organismo?
CP - Justifica. Pode trazer alguns benefícios, como colocar as pessoas
a falar sobre questões relacionadas com a segurança, a área
social. Vamos ver o que decorre depois dos trabalhos deste conselho.
U@O- A água da rede pública tem qualidade?
CP- Muito boa, é aquela que eu bebo todos os dias. Na minha casa não
se consome água mineral, só água da torneira.
U@O- Após as exigências do Governo para apresentação
de cenários alternativos, no âmbito do programa Polis, quais são
os projectos que a autarquia resolveu abdicar?
CP- Neste momento não vale a pena falar nesse plano já que estamos
a fazer a gestão de todos os projectos, com excepção de um
outro que ficará adiado para outra altura. No fundo vamos fazer todos os
projectos que estão previstos no Polis. Simplesmente há alguns que
não são prioritários neste momento, mas vão ser abrangidos
pelo actual quadro comunitário de apoio.
U@O- O coordenador do programa Polis, João Esgalhado, afirmou que os
prazos dos projectos de urbanização iriam ser cumpridos integralmente.
Face às limitações orçamentais e o impedimento de
recurso à banca, acredita que cumprimento dos prazos vai mesmo acontecer?
CP- O Polis tem três anos para ser concluído, ou seja, em 2005
e é o horizonte que nós temos. Mesmo com as dificuldades as obras
vão avançar.
U@O- O Complexo Desportivo da Covilhã foi pensado para servir de apoio
ao Euro-2004. Já existe algo de concreto ou contactos feitos para ter uma
equipa a estagiar na cidade?
CP- Não, porque ainda não sabemos quais são as equipas.
A Câmara vai promover a Covilhã como centro oficial de treinos do
Europeu de Futebol. Quando soubermos quais são as equipas que vão
participar no torneio é que vamos para o terreno procurar uma equipa para
se alojar na cidade.
U@O- No entanto houve alguma aproximação à Federação
Portuguesa de Futebol (FPF) nesse sentido?
CP- Sim, porque é a FPF enquanto participante da sociedade Euro que
esteve com os seus técnicos a ajudar à selecção do
próprio centro de treinos. Temos trabalhado activamente com a Federação.
U@O - A construção das novas acessibilidades, nomeadamente a
A-23 e a modernização da linha ferroviária são suficientes
para diminuir o fosso de desenvolvimento existente entre o interior e o litoral?
CP - Só as estradas não resolvem esse problema, mas são
um elemento muito poderoso para dar melhores condições de desenvolvimento.
"Nesta Câmara há muita descentralização"
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"Este ano está a ser particularmente complicado"
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U@O- Que condições faltam para que a Covilhã se imponha
como a grande cidade do interior?
CP- Já é neste momento a grande cidade. Por razões de
localização de equipamentos e infra-estruturas, produto interno
bruto do ponto de vista concelhio, diversificação económica,
potencial de grandes projectos. Vamos ter praticamente o único grande aeroporto
do interior do País, o aldeamento turístico das Penhas da Saúde
e a UBI como a base económica da cidade.
U@O- Fala-se que existem várias empresas interessadas em investir na
Covilhã e instalarem-se no Parkurbis. Há ou não empresas
interessadas?
CP- Quanto à montagem e estruturação da própria
empresa no Parque de Ciência e Tecnologia acabámos agora de fazer
a contratação do director executivo. Esperamos até ao mês
de Julho fazer a adjudicação do primeiro núcleo de lanifícios
na zona do Tortosendo e a partir daí estarão criadas as condições
básicas para que se comece a desenvolver a procura de investidores. Ao
mesmo tempo pretendemos estabelecer parcerias e protocolos com universidades e
centros de investigação e desenvolvimento. O Parkurbis só
entrará em velocidade cruzeiro dentro de quatro ou cinco anos.
U@O- Mas já há empresas neste momento?
CP- Há contactos gerais, no âmbito da localização
de investimento que nós procuramos para a Covilhã.
U@O- Falou do aeroporto, a situação é como em Beja onde
se fala muito e o projecto avança pouco?
CP- Não. No nosso País estamos habituados a ser precipitados
julgando que basta falar para as coisas aparecerem logo feitas. Em qualquer país
desenvolvido é preciso planear bem, procurar os parceiros para montar as
operações e depois a obra é uma coisa que se faz rapidamente.
U@O- E em que fase está o Aeroporto da Covilhã?
CP- Neste momento fizemos o projecto, estamos à procura dos financiadores,
porque a câmara não tem dinheiro para executar estas obras que custam
muitos milhões de contos. Seguramente a obra aparecerá.
U@O- Existe uma grande polémica em torno das Comunidades Urbanas. Qual
é a diferença entre estas e a regionalização?
CP- Enquanto a regionalização supunha a existência de
um quadro de autonomia política e administrativa, no caso das Comunidades
Urbanas nós estamos apenas no domínio administrativo. Tendo sido
rejeitada a regionalização nos moldes em que foi proposta pelo Governo
anterior, a ideia das Comunidades Urbanas tem valor, porque permite reformar o
quadro político-administrativo, que está obsoleto. Assim poderão
ser alcançadas algumas metas que a regionalização também
pretendia, isto é, o reforço da capacidade aglutinadora dos municípios
e de uma região que tem virtualidades para esse efeito. Em simultâneo
vai permitir uma negociação com o poder central através da
transferência de recursos do Orçamento de Estado.
U@O- A Comunidade Urbana pode servir como alavanca para o ambicionado projecto
dos túneis da serra?
CP- Sim, entre outros. Uma Comunidade Urbana como eu imagino será uma
instituição capaz de negociar com o Governo e com a União
Europeia projectos de grande dimensão. Capacidade negocial que um ou dois
municípios não têm. É evidente que estas estruturas
são o que as pessoas que as dirigem fazem delas.
U@O- Concorda com a limitação de mandatos políticos?
CP- Não.
Significa que se vai recandidatar?
CP- Não, não significa nada
U@O- Mas vai recandidatar-se em 2005?
CP- É uma questão precoce, ainda é muito cedo para decidir.
U@O- E se tivesse que tomar uma decisão neste momento?
CP- Não me candidatava. Se me dessem uma hora para decidir dizia que
não.
U@O- Porquê?
CP- Porque é muito extenuante esta função. Este ano está
a ser particularmente complicado, mas também o acumular de anos nesta função
leva-nos à exaustão, porque é um trabalho que me ocupa quase
24 horas por dia.
U@O- A exaustão poderá ser explicada pela centralização
de todos os processos somente na figura do presidente?
CP- Nesta Câmara há muita descentralização. Costumo
dizer aos vereadores que na autarquia há seis presidentes, porque eles
têm capacidades de acção e de decisão. Só me
trazem aquilo que não é possível resolver sem a minha opinião.
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