Nascido no
Estado Novo
de
Fernando
Dacosta
Por Eduardo Alves
"O
Estado Novo desmoronou-se depressa, mas dissolveu-se devagar, tão devagar
que transbordou as dobras do século que o gerou. Para os que nasceram, se
formaram nele, o seu tempo representa a juventude, a identidade, a memória
únicas, irrepetíveis - que não se circunscrevem apenas à
repressão, à opressão dominantes".
Um homem que diz ter nascido num
época especial de um país com quase mil anos de existência.
Fernando Dacosta mostra no seu mais recente livro uma outra face do salazarismo.
Obra de valor histórico inestimável. Cuja autoria pertence a um dos
poucos profissionais da comunicação que privou com António
de Oliveira Salazar.
Dacosta não se ficou pelos factos escritos nos jornais anteriores a Abril.
A Censura ocultou grandes acontecimentos que surgem, pela primeira vez, em "Nascido
no Estado Novo". Depoimentos e episódios daqueles que lutaram contra
o regime.
"Estas memórias - é de memórias que trata o presente
livro - são contadas não como histórias convencionais (com
princípio, meio e fim, entrecho, acção e cenário), mas
como reflexões interligadas por fluxos, ora de semelhança, ora de
continuidade, ora de ruptura".
Fernando Dacosta escreve, em certa medida, uma segunda parte de "As Máscaras
de Salazar" onde apresentava os testemunhos daqueles que privaram com o ditador.
Em "Nascido no Estado Novo" tomam lugar Agostinho da Silva, José
Cardoso Pires, Vergílio Ferreira, Maria Lamas ou Natália Correia.
Relatos evocados e repartidos pelas diferentes estações do ano.
A primavera a surgir com a revolução, o Verão com os acontecimentos
seguidos à queda da ditadura, passando pelo Estio e Outono. Dacosta termina
com o Inverno. Um período em que, segundo este jornalista, termina o colonialismo
e a demarcação do território nacional.
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