O gosto pela Beira e a vontade de dar a conhecer
o património cultural da região levaram Maria Antonieta Garcia a publicar
duas novas obras. A apresentação de Lendas da Beira e Festividades
da Páscoa Beirã foi feita na noite do último sábado,
19, no Salão Nobre da Câmara Municipal do Fundão que se tornou
pequeno para o número de pessoas que marcaram presença.
Elsa Ligeiro, da editora Alma Azul, disse que Lendas da Beira resulta da reformulação
de um livro da autora já esgotado, que estimulou a recuperar para os nossos
dias. Mas sublinha que "este é outro livro, completamente remodelado".
Os textos antigos foram revistos e a autora introduziu outros novos. Maria Antonieta
Garcia explicou que esta publicação é "um conjunto de
narrativas que têm em comum o espaço onde se desenrola a acção,
a Beira Interior, e que ainda é possível ouvir contá-las oralmente".
A edição do segundo livro em simultâneo, Festividades da Páscoa
Beirã, foi uma sugestão da editora quando soube que Maria Antonieta
Garcia tinha "mais um conjunto de textos ligados à Beira" para
dar à estampa.
A autora, que é também presidente do Departamento de Letras da UBI,
confessou ainda o prazer que lhe deu fazer estes dois livros, apesar de lhe ter
dado algum trabalho. " Há textos que se têm, mas quando se trata
de publicá-los requerem um outro olhar, um outro cuidado", justificou.
Maria Antonieta Garcia frisou que estas duas obras
têm a ver com o seu gosto pela Beira, "o gosto de viver aqui
e de conhecer cada vez melhor a cultura portuguesa". E acrescentou
que valorizar o património cultural é valorizar a identidade
do nosso País, mas lamentou que muitas vezes não conheçamos
as "coisas excelentes" que temos nos sítios onde vivemos.
|
Lendas da Beira é a reformulação de um livro da autora
já editado
|
Quanto às tradições, Maria Antonieta Garcia reconheceu que
por vezes é inacreditável a forma como perduram. "Locais e
tempos diferentes acabam por introduzir algumas alterações, isso
é inevitável, mas acho excepcional o que nesta zona conseguimos
preservar", observou. E chamou a atenção para sinais de cultos
antigos que ficaram, e que noutros locais, por aculturações várias,
se perderam. Uma situação que disse ser a "face positiva"
do isolamento em que vivemos durante muito tempo.
A recolha do material vem sempre do trabalho no terreno. Maria Antonieta Garcia
gosta de ir aos locais e ouvir as pessoas contar, porque acha que há toda
uma linguagem muito especial e uma forma de fazer sentir as coisas. "Para
escrever qualquer uma das lendas fui aos sítios, estive lá",
salienta, "acho que isso é essencial para sentirmos o pulsar do local,
ver as pessoas, como é que elas contam, o que é que valorizam".
Paulo Fernandes, vereador com o pelouro da Cultura da Câmara Municipal do
Fundão, considerou os dois livros "um tributo a esta região".
O autarca enalteceu também o trabalho da autora pelo seu empenho em "conservar
e reflectir sobre as nossas tradições, sobre as nossas manifestações
e formas de comunicação elementares: inter-geracional e entre classes
sociais".
Elisa Ligeiro fez também referência ao "percurso notável"
de Maria Antonieta Garcia. Disse vê-la como um nome incontornável
da cultura não só da Beira Interior como do País. "Porque
não nos devemos ficar muito em regionalismos quando se trata de apreciar
a capacidade e o estudo de alguém que vive perto de nós, mas que
tem uma dimensão nacional", frisou a editora.
|