José Geraldes

Bom senso e autarcas


À sociedade civil cabe um papel importante como a apresentação de propostas no debate sobre o tipo de comunidade

Bom senso. Esta a dominante que prevaleceu na reunião da Guarda em ordem à escolha do futuro modelo de comunidade para a Beira Interior.
Os autarcas não se precipitaram e votaram por unanimidade pela elaboração de estudo aprofundado e fundamentado que apresente argumentos sólidos para uma decisão no momento oportuno. Decisão a basear-se em argumentos racionais e não em atitudes emocionais de bairrismos limitados.
O assunto é demasiado sério para se tratar com leveza e superficialidade. E ainda bem que os autarcas se compenetraram das suas responsabilidades ao adoptarem um perfil de consenso democrático. Só há que louvar a sua atitude.
O novo organismo de decisão intermédia a ser criado na linha da política de descentralização que o Governo se propõe levar a cabo, vai ter importância capital para o desenvolvimento da Beira Interior. Daí a não se admitirem atitudes à Pôncio Pilatos, fugindo a dar contribuições para o estudo.
Primeiro, a começar pelos próprios autarcas que, a nível individual, podem fazer chegar à Comissão encarregada de elaborar o estudo opiniões pessoais. Depois, à sociedade civil cabe um papel importante com a apresentação de propostas no debate sobre o tipo de comunidade mais adequado para a Beira Interior.
Organismos, instituições, meios de comunicação social têm aqui uma oportunidade de ouro para intervir e dar contributos específicos das suas áreas. Trata-se de mais-valias que não podem ser descuradas. E ninguém é dono da verdade. Um ponto de vista tem sempre um aspecto que enriquece uma discussão. E, segundo o provérbio, da discussão nasce a luz.
A fuga a esta participação na definição do modelo do futuro da nossa vida colectiva corresponde a uma demissão que não se pode admitir.
Todos temos o direito de exercer a nossa cidadania. E aqui se nos oferece uma ocasião única para que a cidadania se afirme por inteiro.
Por isso, a palavra não, no caso vertente, deixa de ser justificação para qualquer desculpa. E a passividade também se pode pagar caro.
O que nós podemos fazer, nunca deve deixar-se a outros. E depois não entremos em críticas fora do tempo.
As propostas apresentadas podem constituir uma boa ajuda para o documento final que a Comissão de autarcas irá elaborar.
Costuma dizer-se que, quando se quer adiar um problema ou não o resolver, se cria uma comissão. Não é o caso desta comissão que tem de apresentar o seu trabalho não só aos autarcas mas também a toda a Beira Interior. Caso a Comissão dos autarcas entrasse num impasse, seria hipotecado o futuro do nosso desenvolvimento colectivo. É uma hipótese absurda que nem sequer prevemos.
Quanto ao modelo de comunidade para a Beira Interior, na linha de editoriais anteriores, temos como convicção que a unidade dos distritos da Guarda e de Castelo Branco deve ser preservada. A realidade Beira Interior é um facto e não há que distorcê-la.
Como elemento forte para acesso a fundos comunitários, transferências directas do Orçamento de Estado e lançamento autónomo de projectos, o modelo da comunidade urbana oferece garantias irrecusáveis.
É a o modelo que, a nosso ver, se perfila, com maiores virtualidades, para o desenvolvimento integrado da Beira Interior. Mas aguardemos o estudo com as propostas fundamentadas.