Anabela Gradim
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Tributação do património para
todos
O Governo anunciou, ainda em linhas muito gerais, a sua intenção
de modificar uma série de impostos: Sucessório, que na esmagadora
maioria dos casos extingue; Sisa e Contribuição Autárquica,
os quais, se mais não suceder, mudam pelo menos de nome.
Todos os impostos em causa incidem sobre a tributação do património,
e se considerarmos que a finalidade última de um imposto é tomar
parte da riqueza dos cidadãos, consoante as suas posses, para a redistribuir
em proveito de todos, então esta reforma - que também já
fora anunciada, noutros moldes, precedida de excelentes estudos, no tempo do engº
Guterres, e depois discretamente engavetada - é absolutamente urgente.
O imposto sucessório desaparece na transmissão de bens a cônjuges,
ascendentes e descendentes. Parece-me bem, e programaticamente coerente com as
opções ideológicas do Governo. Se pensarmos que Bakounine
e outros anarquistas defendiam a impossibilidade de herdar,
para que todos os cidadãos desfrutassem de uma verdadeira igualdade de
oportunidades, saúda-se a coerência de Portas e Durão. Já
se percebe menos bem a posição do Bloco de Esquerda, totalmente
a favor, excepto se pensarmos que talvez tenham trocado a agenda ideológica
por ideologia de agenda.
No que toca à Sisa, pelas informações disponíveis,
apenas é certo que mudará de nome. Mas para a Contribuição
Autárquica (CA) prometem-se transformações de fundo e de
monta, e que a efectivarem-se vão gerar uma verdadeira Reforma da Tributação
do Património. Hoje os bens imóveis são tributados pelo seu
valor matricial, gerando-se situações de profunda injustiça.
Um palacete no Restelo, registado por vinte contos de réis, paga nada ou
perto disso; enquanto três assoalhadas suburbanas de construção
sofrível mas recente podem chegar às centenas.
A situação é profundamente injusta porque, mais uma vez,
são os mais jovens e os que adquirirem casa recentemente quem enche os
cofres do Estado na rubrica Contribuição Autárquica, pagando
taxas elevadas a fim de compensar pelos que pouco o fazem. Quando o Governo anuncia
a intenção de baixar significativamente as taxas de CA - actualmente
entre os 0,7 e 1,3 por cento - passando no novo Imposto Municipal sobre Imóveis
a situarem-se entre os 0,2 e os 0,5 por cento; ao mesmo tempo que procede à
actualização do valor matricial dos imóveis mais antigos,
a fim de não perder receita, está a promover a igualdade e a justiça
fiscal, retirando um pesado ónus às famílias mais jovens
e de menos recursos, para o distribuir, como é devido, pela totalidade
dos cidadãos que são simultaneamente proprietários.
A uma coisa, porém, o sr. Primeiro Ministro não respondeu nem lhe
foi perguntado. No caso, se não vai ceder à tentação
de arrecadar receita imediata e já, aos mesmos do costume. É que
todas as casas adquiridas para habitação própria estão
isentas de CA durante 10 anos, o que significa que o grosso dos imóveis
transaccionados na última década, que não são segunda
habitação, não pagam ainda. Seria, de facto, um ovo de Colombo,
pôr milhares de famílias a pagar uma factura que só esperavam
passados 10 anos.
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