Onésimo Siveira sublinhou a boa relação que existe entre Cabo Verde e Portugal
Embaixador Onésimo Silveira em visita à UBI
"Cabo Verde procura um vínculo na União Europeia"

No passado dia 31 de Março, o embaixador de Cabo Verde em Portugal, Onésimo Silveira, visitou a UBI para conhecer de perto a instituição e inteirar-se dos reais problemas que afectam os estudantes cabo-verdianos que estudam nesta universidade.



Por Carlos Borges


O embaixador cabo-verdiano terminou a sua visita à UBI com uma conferência subordinada ao tema "Cabo Verde e Portugal - Diplomacia de Cumplicidade", na qual sublinhou a excelente relação de amizade e de cooperação entre Cabo Verde e Portugal. "Esta cooperação tem contribuído muito para o desenvolvimento económico do país", afirma. "Em 28 anos Cabo Verde cresceu muito, mas não conseguiu aumentar a sua produtividade. O país só produz dez por cento daquilo que consome. O resto vem da cooperação e da ajuda internacional", disse o representante do governo de Cabo Verde em Portugal, Onésimo Silveira. No entanto, "no arquipélago regista-se um elevado índice de desenvolvimento, colocando-o na linha da frente dos Países Africanos da Língua Oficial Portuguesa (PALOP)", sublinha Onésimo Silveira exemplificando que um terço da população frequenta as escolas porque no seu entender "a educação faz parte da estrutura mental e social de Cabo Verde".
De acordo com Onésimo Silveira, Cabo Verde talvez seja, o país mais jovem do mundo. Mais de 60 por cento da sua população está na faixa etária entre os 12 e os 18 anos. Isto é um bom indicador, mas também significa uma responsabilidade acrescida. Esta realidade requer novos desafios para o país que, segundo o diplomata cabo-verdiano, passam pelo aproveitamento dos seus "recursos geoestratégicos" e pelo aprofundamento da sua diplomacia assente na cumplicidade. "Esta diplomacia consistiria na valorização do património histórico e cultural comum e na valorização de aspectos geopolíticos que possam trazer dividendos para a defesa e para diplomacia de uma Europa unida, da qual Portugal faz parte", explica. É assim que Cabo Verde está neste momento "à procura de um vínculo junto da União Europeia com apoio de Portugal, sem contudo pôr em causa a soberania do país. Este vínculo garantiria ao arquipélago uma estabilidade política, social e económica num quadro europeu alargado às nossas ilhas", garante. O representante do governo de Cabo Verde em Portugal, reconhece que "a história de Cabo Verde é caracterizada por um passado de convívio na dor, no sofrimento e nas misérias sociais com Portugal", mas hoje com a independência e uma democracia política instalada, o país procura denominadores comuns à semelhança do passado, para no futuro "entrarmos como homens livres nas mesmas caravelas da ousadia, da tenacidade e da fraternidade que os portugueses", salienta o diplomata. "Não se trata de mendigar. Estamos a tentar a partir de uma análise histórica e de um futuro comum que devemos meditar, construir uma comunidade cúmplice. Porque nos tempos da globalização, Portugal é o nosso melhor parceiro para a prosperidade de Cabo Verde", afirma.

"Cabo Verde está mais vocacionado para Europa do que para a África"

Onésimo Silveira reconhece a relação ancestral com África, embora refira que não sabe onde estão as raízes culturais de Cabo Verde.
Portugal é uma referência segura para a história de Cabo Verde. "Não precisamos abandonar a África, precisamos é escolher o nosso futuro", acrescenta deixando um conselho: "para quem faz a diplomacia e pensa no futuro, a tomada de decisões acertadas é um imperativo". O embaixador admite a especificidade cultural de Cabo Verde, considerando que as relações culturais com a África não existem. "Somos um povo resultante do gradeamento de raças e de culturas", explica, defendendo que Cabo Verde está mais vocacionado para Europa do que para a Africa".
Porém, o diplomata reconhece que o país está representado nas associações regionais africanas, porque sente "um calor fraterno para com o continente. De modo que a esse nível somos africanos e continuaremos a sê-lo. Por dever de solidariedade e universalidade. Mas em termos da política que conduza a um futuro viável para Cabo Verde, recolhemos mais dividendos com os parceiros europeus do que com a África", defende Onésimo Silveira.

Alunos cabo-verdianos reclamam mais bolsas de apoio


Estudantes cabo-verdianos da UBI pedem uma bolsa superior ao salário mínimo existente em Portugal

A visita do embaixador de Cabo Verde à UBI ficou também marcada com um encontro onde esteve presente a comunidade de estudantes cabo-verdianos constituída por mais de quatro dezenas de alunos. Nessa reunião foram levantadas várias questões, nomeadamente o atraso no pagamento das bolsas. Em resposta às perguntas colocadas, o diplomata cabo-verdiano pediu o esforço e a compreensão dos estudantes para que a credibilidade não se desvaneça. Onésimo Silveira disse que "a situação era desagradável antes de Setembro de 2002", altura em que tomou posse como embaixador, mas que a situação agora se encontra ultrapassada. "Aqueles que estudam por conta própria não podem nem devem culpabilizar o governo, porque com estes, não temos qualquer responsabilidade", disse o embaixador. O responsável defende que "há estudantes que têm acidentes de percurso e voltam-se para o governo". Os estudantes, por seu turno, reivindicam o montante da bolsa superior ao salário mínimo nacional em Portugal, dizendo que o valor actual (320 euros) não chega para cobrir as despesas. "É extraordinário Cabo Verde poder dar as bolsas que dá. Se o governo de Cabo Verde não dá mais bolsas é, simplesmente, porque não pode", justifica.
Além de bolsas, os estudantes queixam-se da falta de um espaço de convívio, para a comunidade na UBI e das dificuldades em encontrarem alojamento. "Nas residências não conseguimos entrar porque, em primeiro lugar, estão os portugueses", sublinha Leila Ramos, de 20 anos, estudante de Ciências do Desporto, que foi a porta-voz do grupo e que no entanto constitui uma excepção entre os cabo-verdianos: "Eu consegui entrar na residência, mas os meus colegas não".
Para o reitor da Universidade da Beira Interior, Santos Silva, alguns problemas levantados pelos estudantes são normais. "A legislação portuguesa dá prioridade aos nacionais", afirma, recordando aos cabo-verdianos que o grande investimento feito pela instituição nos últimos anos visa, justamente, proporcionar a todas as comunidades, cabo-verdianas ou não, um melhor acesso aos serviços da Acção Social. "A filosofia da UBI é fazer com que os seus utentes se sintam bem", disse o reitor, que sublinhou ainda o facto da UBI ser "a única instituição do País que tem um pró-reitor para as Relações com os Países Lusófonos. Isto demonstra a importância que dá a Reitoria à comunidade de Língua Portuguesa", concluiu Santos Silva.