O embaixador cabo-verdiano terminou a sua visita
à UBI com uma conferência subordinada ao tema "Cabo Verde e Portugal
- Diplomacia de Cumplicidade", na qual sublinhou a excelente relação
de amizade e de cooperação entre Cabo Verde e Portugal. "Esta
cooperação tem contribuído muito para o desenvolvimento económico
do país", afirma. "Em 28 anos Cabo Verde cresceu muito, mas não
conseguiu aumentar a sua produtividade. O país só produz dez por cento
daquilo que consome. O resto vem da cooperação e da ajuda internacional",
disse o representante do governo de Cabo Verde em Portugal, Onésimo Silveira.
No entanto, "no arquipélago regista-se um elevado índice de desenvolvimento,
colocando-o na linha da frente dos Países Africanos da Língua Oficial
Portuguesa (PALOP)", sublinha Onésimo Silveira exemplificando que um
terço da população frequenta as escolas porque no seu entender
"a educação faz parte da estrutura mental e social de Cabo Verde".
De acordo com Onésimo Silveira, Cabo Verde talvez seja, o país mais
jovem do mundo. Mais de 60 por cento da sua população está
na faixa etária entre os 12 e os 18 anos. Isto é um bom indicador,
mas também significa uma responsabilidade acrescida. Esta realidade requer
novos desafios para o país que, segundo o diplomata cabo-verdiano, passam
pelo aproveitamento dos seus "recursos geoestratégicos" e pelo
aprofundamento da sua diplomacia assente na cumplicidade. "Esta diplomacia
consistiria na valorização do património histórico e
cultural comum e na valorização de aspectos geopolíticos que
possam trazer dividendos para a defesa e para diplomacia de uma Europa unida, da
qual Portugal faz parte", explica. É assim que Cabo Verde está
neste momento "à procura de um vínculo junto da União
Europeia com apoio de Portugal, sem contudo pôr em causa a soberania do país.
Este vínculo garantiria ao arquipélago uma estabilidade política,
social e económica num quadro europeu alargado às nossas ilhas",
garante. O representante do governo de Cabo Verde em Portugal, reconhece que "a
história de Cabo Verde é caracterizada por um passado de convívio
na dor, no sofrimento e nas misérias sociais com Portugal", mas hoje
com a independência e uma democracia política instalada, o país
procura denominadores comuns à semelhança do passado, para no futuro
"entrarmos como homens livres nas mesmas caravelas da ousadia, da tenacidade
e da fraternidade que os portugueses", salienta o diplomata. "Não
se trata de mendigar. Estamos a tentar a partir de uma análise histórica
e de um futuro comum que devemos meditar, construir uma comunidade cúmplice.
Porque nos tempos da globalização, Portugal é o nosso melhor
parceiro para a prosperidade de Cabo Verde", afirma.
"Cabo Verde está mais vocacionado para Europa do que para a África"
Onésimo Silveira reconhece a relação ancestral com África,
embora refira que não sabe onde estão as raízes culturais de
Cabo Verde.
Portugal é uma referência segura para a história de Cabo Verde.
"Não precisamos abandonar a África, precisamos é escolher
o nosso futuro", acrescenta deixando um conselho: "para quem faz a diplomacia
e pensa no futuro, a tomada de decisões acertadas é um imperativo".
O embaixador admite a especificidade cultural de Cabo Verde, considerando que as
relações culturais com a África não existem. "Somos
um povo resultante do gradeamento de raças e de culturas", explica,
defendendo que Cabo Verde está mais vocacionado para Europa do que para a
Africa".
Porém, o diplomata reconhece que o país está representado nas
associações regionais africanas, porque sente "um calor fraterno
para com o continente. De modo que a esse nível somos africanos e continuaremos
a sê-lo. Por dever de solidariedade e universalidade. Mas em termos da política
que conduza a um futuro viável para Cabo Verde, recolhemos mais dividendos
com os parceiros europeus do que com a África", defende Onésimo
Silveira.
Alunos cabo-verdianos reclamam mais bolsas de apoio
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Estudantes cabo-verdianos da UBI pedem uma bolsa superior ao salário
mínimo existente em Portugal
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A visita do embaixador de Cabo Verde à UBI ficou também marcada
com um encontro onde esteve presente a comunidade de estudantes cabo-verdianos
constituída por mais de quatro dezenas de alunos. Nessa reunião
foram levantadas várias questões, nomeadamente o atraso no pagamento
das bolsas. Em resposta às perguntas colocadas, o diplomata cabo-verdiano
pediu o esforço e a compreensão dos estudantes para que a credibilidade
não se desvaneça. Onésimo Silveira disse que "a situação
era desagradável antes de Setembro de 2002", altura em que tomou posse
como embaixador, mas que a situação agora se encontra ultrapassada.
"Aqueles que estudam por conta própria não podem nem devem
culpabilizar o governo, porque com estes, não temos qualquer responsabilidade",
disse o embaixador. O responsável defende que "há estudantes
que têm acidentes de percurso e voltam-se para o governo". Os estudantes,
por seu turno, reivindicam o montante da bolsa superior ao salário mínimo
nacional em Portugal, dizendo que o valor actual (320 euros) não chega
para cobrir as despesas. "É extraordinário Cabo Verde poder
dar as bolsas que dá. Se o governo de Cabo Verde não dá mais
bolsas é, simplesmente, porque não pode", justifica.
Além de bolsas, os estudantes queixam-se da falta de um espaço de
convívio, para a comunidade na UBI e das dificuldades em encontrarem alojamento.
"Nas residências não conseguimos entrar porque, em primeiro
lugar, estão os portugueses", sublinha Leila Ramos, de 20 anos, estudante
de Ciências do Desporto, que foi a porta-voz do grupo e que no entanto constitui
uma excepção entre os cabo-verdianos: "Eu consegui entrar na
residência, mas os meus colegas não".
Para o reitor da Universidade da Beira Interior, Santos Silva, alguns problemas
levantados pelos estudantes são normais. "A legislação
portuguesa dá prioridade aos nacionais", afirma, recordando aos cabo-verdianos
que o grande investimento feito pela instituição nos últimos
anos visa, justamente, proporcionar a todas as comunidades, cabo-verdianas ou
não, um melhor acesso aos serviços da Acção Social.
"A filosofia da UBI é fazer com que os seus utentes se sintam bem",
disse o reitor, que sublinhou ainda o facto da UBI ser "a única instituição
do País que tem um pró-reitor para as Relações com
os Países Lusófonos. Isto demonstra a importância que dá
a Reitoria à comunidade de Língua Portuguesa", concluiu Santos
Silva.
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