Por Mário Ramos


João Aguardela prefere utilizar instrumentos tradicionais portugueses

"Uma rave genuinamente portuguesa com sardinhas assadas e folclore". É assim que João Aguardela descreve os seus espectáculos. Integrado no Festival de Música Étnica, organizado pela Associação Académica da UBI, o projecto Megafone ofereceu ao público presente no Teatro das Beiras a oportunidade de assistir a um agradável concerto. Com um percurso nos Sitiados e Linha da Frente, este músico pretende através deste trabalho envolver as raízes e tradições populares com a moderna música electrónica.
Aguardela realizou um concerto de drum & bass, numa fusão interessante com instrumentos mais convencionais, como o adufe e a viola campaniça. Quando João Aguardela se afastou dos meios electrónicos e, simultaneamente com outros músicos, utilizou esses instrumentos tradicionais, foi possível observar o palco do teatro transformar-se num a serão de aldeia. Ao longo do espectáculo foram projectados vários filmes e fotografias. Uma forma utilizada para apresentar o quotidiano rural.

Procura das nossas características

Antes de Megafone, João Aguardela já tinha demonstrado a sua preferência pela utilização de instrumentos portuguesas, quer nos Sitiados quer nos Linha da Frente. Nos Sitiados, mesmo sem uma abordagem directa destas recolhas tradicionais, João Aguardela confessa que "havia uma influência através do ambiente que se observa. No País do fado e do folclore era um pouco difícil o grupo abstrair-se dessas realidades". Nos Linha da Frente, Aguardela procurou interpretar textos de vários autores portugueses, nomeadamente, Fernando Pessoa, Natália Correia, António Aleixo, mas também, "partilhar as imagens que cada músico trouxe do seu universo português." A característica predominante dos projectos de João Aguardela são a tentativa de estabelecer uma ligação entre a música e a cultura portuguesa.
O projecto Megafone surgiu do contacto de João Aguardela com uma pesquisa de sons, vozes e frases tradicionais organizada por Michel Giacometti e José Alberto Sardinha. Um processo que permite observar um Portugal que talvez já não existe, mas que, paradoxalmente, permanece vivo com o trabalho realizado nas três edições precedentes de Megafone.