"Uma rave genuinamente portuguesa com sardinhas assadas e folclore".
É assim que João Aguardela descreve os seus espectáculos.
Integrado no Festival de Música Étnica, organizado pela Associação
Académica da UBI, o projecto Megafone ofereceu ao público presente
no Teatro das Beiras a oportunidade de assistir a um agradável concerto.
Com um percurso nos Sitiados e Linha da Frente, este músico pretende através
deste trabalho envolver as raízes e tradições populares com
a moderna música electrónica.
Aguardela realizou um concerto de drum & bass, numa fusão interessante
com instrumentos mais convencionais, como o adufe e a viola campaniça.
Quando João Aguardela se afastou dos meios electrónicos e, simultaneamente
com outros músicos, utilizou esses instrumentos tradicionais, foi possível
observar o palco do teatro transformar-se num a serão de aldeia. Ao longo
do espectáculo foram projectados vários filmes e fotografias. Uma
forma utilizada para apresentar o quotidiano rural.
Procura das nossas características
Antes de Megafone, João Aguardela já tinha demonstrado a sua preferência
pela utilização de instrumentos portuguesas, quer nos Sitiados quer
nos Linha da Frente. Nos Sitiados, mesmo sem uma abordagem directa destas recolhas
tradicionais, João Aguardela confessa que "havia uma influência
através do ambiente que se observa. No País do fado e do folclore
era um pouco difícil o grupo abstrair-se dessas realidades". Nos Linha
da Frente, Aguardela procurou interpretar textos de vários autores portugueses,
nomeadamente, Fernando Pessoa, Natália Correia, António Aleixo,
mas também, "partilhar as imagens que cada músico trouxe do
seu universo português." A característica predominante dos projectos
de João Aguardela são a tentativa de estabelecer uma ligação
entre a música e a cultura portuguesa.
O projecto Megafone surgiu do contacto de João Aguardela com uma pesquisa
de sons, vozes e frases tradicionais organizada por Michel Giacometti e José
Alberto Sardinha. Um processo que permite observar um Portugal que talvez já
não existe, mas que, paradoxalmente, permanece vivo com o trabalho realizado
nas três edições precedentes de Megafone.
|