António Fidalgo
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Configurar a região
A quase totalidade dos presidentes de câmara dos distritos de Guarda e Castelo
Branco reuniu-se duas vezes no espaço de poucos dias para pensar e discutir
a forma administrativa de associar os seus municípios. Dia 20 reuniram-se
em Belmonte, por iniciativa da Associação de Municípios da
Cova da Beira, e dia 24 de Março na Covilhã, na sequência
do projecto da Comunidade Urbana das Beiras assinado pelos presidentes de Castelo
Branco, Penamacor, Belmonte e Covilhã. Significativa foi a presença
de Carlos Pinto na reunião do dia 20 e a de Manuel Frexes na reunião
do dia 24.
A este propósito três notas. A primeira é para dizer que o
comboio se encontra em marcha e que os tempos de os municípios magnificamente
isolados estão a chegar ao fim. Felizmente que os nossos autarcas se estão
a dar conta dos tempos de mudança. A riqueza e o bem estar de cada município
vai depender cada vez mais de grandes investimentos só possíveis
e viáveis à escala intermunicipal. Acontece isso com as vias de
acesso, rodo e ferroviárias, com as instituições de ensino
superior e com as grandes unidades de saúde. Um bom hospital na cidade
da Guarda é tão importante para o município da Guarda como,
por exemplo, para os municípios de Almeida ou de Celorico da Beira. Ainda
bem que os presidentes de câmara sentem a necessidade de debater o futuro
e o formato da cooperação necessária e imprescindível.
A segunda nota é para referir que os presidentes das Câmaras do Fundão
e da Covilhã coincidiram nas duas reuniões. Depois das trocas epistolares
no Jornal do Fundão, e que não beneficiaram nem um nem o outro,
cabe registar que esta dupla coincidência parece indicar que provavelmente
compreenderam que mais tarde ou mais cedo terão de chegar a um entendimento.
O Fundão e a Covilhã já tiveram anteriormente muitos outros
presidentes de Câmara, e vão ter muitos mais, e quer os presidentes
se dêem bem ou mal, os dois municípios não deixarão
de ser vizinhos. Juntar municípios dos dois distritos e termos dois dos
municípios centrais às avessas não faz sentido.
Terceira nota. Há municípios das periferias dos dois distritos que
estão a ser aliciados por outros pólos mais desenvolvidos, nomeadamente
o de Seia por Viseu e o de Vila de Rei por Santarém. Será que a
associação, a união, a comunidade da Beira Interior, como
se queira chamar, significará a perda de alguns destes municípios
para outras áreas? É possível. Mas na hora de configurar,
moldar o futuro, há que tomar consciência de que para fazer omeletes
se têm de partir ovos. Para arranjar novas configurações geo-estratégicas
há por vezes que saber concentrar-se no essencial, obter a necessária
homogeneidade, ainda que arriscando certos custos.
Por fim, se os autarcas se vêm reunindo e preocupando com o futuro da região
seria bom que a sociedade civil, a universidade, os politécnicos, os jornais,
as rádios, entrassem também no debate. O que está em jogo
é demasiado importante para se deixar apenas ao cuidado dos políticos.
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