Por Mário Ramos


A Praça do Município foi o cenário escolhido para realizar a vigília

O som do alarme e das explosões são hoje uma característica frequente no Iraque. Na Covilhã também foi possível sentir o medo da guerra através de reconstruções sonoras que, por momentos, uniram esta cidade a Bagdad. Aproximadamente 500 pessoas demonstraram a sua indignação e repúdio pelas acções militares desenvolvidas no Iraque numa uma vigília para dizer não à guerra. Nesta iniciativa, organizada com o apoio de diversas associações da cidade, foi aprovado um documento de censura às acções contra o Iraque.
Mariana Morais, principal organizadora da acção, salientou a importância de "erguer a voz, porque hoje há apenas duas forças mundiais: os EUA e a opinião pública". Mariana Morais criticou a posição assumida por Durão Barroso: "a política externa de um país não deve basear-se na subserviência. É frequente sentir-se que, na escola, o mais pequeno junta-se ao mais forte. Mas o mais forte pode ser o mais ignorante e irresponsável e, por isso mesmo, o mais perigoso".
Mariana considera que "a via diplomática ainda não estava totalmente esgotada. Os inspectores criticaram a sua saída do Iraque". Tiago Cunha lamentou o sofrimento do povo iraquiano: "é uma guerra que se iniciou em 1991, prosseguiu com o embargo económico que fez disparar a taxa de mortalidade infantil e que agora termina com esta acção militar". Defende que deve ser uma opção do povo afastar-se de um ditador como Saddam. "São os cidadãos iraquianos que devem exercer essa opção".

Pressões económicas

Muitos dos presentes nesta vigília consideraram que esta guerra apenas se desenvolve por interesses económicos. "Um conflito propiciado pelo dinheiro independentemente das vítimas suscitadas pela acção militar", defende Tiago Cunha.
Daniel Nicolau analisou as consequências para a economia americana se o Iraque passar a transaccionar o petróleo em euros, em detrimento do dólar. Considera que os EUA "receiam o padrão Euro. É suficiente o dólar cair para, a nível dos fundos de pensão, serem transferidos investimentos para empresas europeias valorizadas em euros. Todo o dinheiro que é transferido para empresas mais voláteis americanas, para se alcançar mais facilmente o lucro, passa a ser colocado na Europa", considera, acrescentando que "se tem assistido a quedas enormes nos mercados americanos, nomeadamente, em empresas consideradas seguras como a General Electrics. Os EUA sentem a necessidade de elevar os fundos de pensão porque não possuem a Segurança Social que há na Europa; privatizaram todo o sistema de Saúde e Segurança Social. Nesta perspectiva, é possível que muitas pessoas fiquem sem a sua reforma", concluiu Daniel Nicolau.
A organização solicitou às pessoas presentes na vigília o cumprimento de um minuto de silêncio. No final, foi ainda pedida a continuação das acções de protesto.