"A Ferida no Pescoço" deu início ao Ciclo de Teatro Universitário
VII Ciclo de Teatro da Beira Interior
Artes voltam à cidade

Durante duas semanas o Teatro Cine vai ser palco de várias artes. Teatro, poesia e dança contemporânea prometem deliciar todos os visitantes.


Por Liliana Machadinha


Teatro, tertúlias de poesia e uma Feira do Livro marcaram a abertura do VII Ciclo de Teatro da Beira Interior que decorreu no passado sábado. Este evento reuniu três tipos de artes com o intuito de dar "mais dinâmica ao espectáculo, pois normalmente apresenta-se só teatro, o que se pode tornar um pouco cansativo para os espectadores", explica Rui Pires, membro da organização e actor. Para além de teatro, livros e poesia, irão ainda apresentar-se neste evento dança contemporânea e teatro musical.
"A Ferida na Pescoço" foi a peça escolhida para abrir este ciclo. Este trabalho do Teatr'UBI baseia-se num texto de Heiner Müller que ilustra a "fragmentação e a sua forma de escrita"como refere a encenadora Susana Vidal. O palco foi dividido em dois espaços diferentes, vida e morte, através de uma recriação do muro de Berlim. De um lado uma cidade em ruínas que representa a decadência, confusão e a desorientação do povo e do outro lado uma casa e o seu ambiente de confiança, sexo e recheado de particularidades informais. Para Susana Vidal a escolha desta peça deveu-se ao facto de querer fazer "uma homenagem ao autor" que lhe serviu sempre de referência.
Para Rui Pires, actor, "foi complicado construir a personagem, pois é alguém que perde a pessoa que mais ama durante um bombardeamento e por mais que procure nunca a encontra. Vive completamente alheado à realidade". Segundo o actor, o texto " é de difícil interpretação, tanto que foram necessários dois meses só a estudar a vida e obra de Müller". Afirma ainda que "cada pessoa deve dar o seu próprio significado à peça", mas para ele os elementos cruciais são "o muro, a vergonha, a distância e, no decorrer da representação, a abertura do muro ao público".


Livros e Poesia

A feira do livro decorreu ao longo dos três primeiros dias

A editora Alma Azul é a responsável pela Feira do Livro integrada neste Ciclo de Teatro. Elsa Ligeiro, representante da Editora, afirma que esta feira tem "características muito especiais e que por isso optou-se por trazer livros de arte, como cinema, teatro, fotografia e poesia a preços convidativos". Para Elsa Ligeiro as "expectativas são óptimas" e espera "ter uma boa adesão até porque trabalhou-se e fez-se uma selecção de títulos para um público jovem e interessado, como me parece ser este que vem ao teatro". Nas tertúlias de poesia, igualmente orientadas por Elsa Ligeiro num ambiente informal e familiar, estarão em debate as preferências dos participantes sobre poetas do século XX.


Corda no paraíso


Ontem, segunda feira, 17, subiu ao palco a peça "Corda no Paraíso" também encenada por Susana Vidal com o Grupo de Teatro do Instituto Superior Técnico. Esta peça refere-se fundamentalmente "ao amor e às coisas que nos destabilizam e nos fazem ultrapassar barreiras", como comenta a encenadora. O tema e a linguagem rondam "uma comunicação muito simples". O elemento principal da história prende-se no facto de "um dia se acordar no paraíso onde nunca estamos sós. Mas é apenas uma fantasia, é artificial" diz Susana Vidal. Segundo a encenadora, o motivo que a levou a escolher esta peça foi "a memória que me ficou do filme. As referências de um mundo perfeito e de uma comunicação a partir do amor".