José Geraldes
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Comunidades urbanas: senhores
autarcas,
entendam-se
Mas a discussão do problema não pode eternizar-se nem se apresentar
como um figurino do tipo usado em relação ao mapa da regionalização
A constituição das comunidades urbanas instituídas
pela lei nº 24 de Setembro de 2002, como um meio de descentralização
do Estado, está a gerar um debate acalorado na Beira Interior. Aliás,
no editorial do NC da semana passada, já o tínhamos previsto em
análise à proposta da Comunidade Urbana das Beiras subscrita pelos
autarcas da Covilhã, Castelo Branco, Belmonte e Penamacor e com a acordo
da autarca da Guarda.
O texto da proposta foi publicado na íntegra na mesma edição
do nosso semanário.
O tom das reacções dos autarcas faz lembrar as discórdias
sobre o mapa da regionalização em relação às
Beiras, regionalização chumbada em acto eleitoral.
Para que o público esteja esclarecido, a lei nº24 diz o seguinte :
" As áreas metropolitanas são de dois tipos, as grandes áreas
metropolitanas e as comunidades urbanas, devendo, respectivamente, integrar, pelo
menos nove municípios e 350 mil habitantes e, pelo menos, três municípios
contíguos e 150 mil habitantes."
Três posições resumem a opção dos autarcas.
A proposta dos autarcas da Comunidade Urbana das Beiras pauta-se por objectivos
ambiciosos com o aproveitamento da situação fronteiriça,
com horizontes europeus e grande poder face à Administração
Central com a inclusão dos distritos da Guarda e Castelo Branco e outros
municípios contíguos em ordem a abarcar uma população
de 400 mil habitantes.
O autarca do Fundão advoga a criação da Comunidade Intermunicipal
da Cova da Beira com os municípios do Fundão, Covilhã, Belmonte
e Penamacor. Em concreto duas ou três comunidades intermunicipais, uma para
o distrito da Guarda e uma ou duas para o distrito de Castelo Branco.
Outro tipo de comunidade urbana seria formado pela Associação dos
Municípios da Cova da Beira em número de 13 com uma população
de 200 mil habitantes. Este é o modelo proposto pelo autarca de Manteigas
simultâneamente presidente da Associação.
Para debater as propostas, estão agendadas reuniões durante este
mês de Março. Reuniões que pela diversidade de opiniões
se afiguram estimulantes.
Mas a discussão do problema não pode eternizar-se nem se apresentar
com um figurino do tipo usado em relação ao mapa da regionalização.
A usar-se tal metodologia, temos já pela frente a certeza de uma morte
anunciada.
O que deve nortear os debates, é o interesse das populações
ou seja a escolha do modelo que oferece mais-valias para o desenvolvimento do
Interior beirão.
E esperemos que não aconteça a repetição do erro dos
teólogos de Bizâncio que se lançaram numa estéril discussão
do sexo dos anjos quando a cidade era obrigada a enfrentar uma invasão
de exércitos numa declaração de guerra feroz.
Outro perigo que se adivinha, é fulanizar o debate das propostas. Escolher
o caminho da fulanização limita a troca dos legítimos ponto
de vista diferentes. Sem desejarmos o unanimismo, nada saudável em democracia,
tem de haver uma plataforma mínima de consenso.
E importa lembrar a crise económica com o cortejo de despedimentos que
grassa na Beira Interior e que os autarcas não podem nem devem esquecer.
Todos, seja qual for o modelo de comunidade urbana que defendem, carregam responsabilidades
históricas em ordem ao futuro dos distritos de Castelo Branco e da Guarda.
A verdade é, neste caso, só uma. Os autarcas estão "condenados"
a entenderem-se. E o modelo de comunidade urbana a escolher para que o Interior
beirão disponha de meios de um desenvolvimento sustentado, tem de passar
por apostas ousadas, com visão larga. E bem assente no mais fácil
acesso aos fundos comunitários e no desafio da nossa realidade fronteiriça.
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