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Design, investigação, desenvolvimento
e outras "boutades"
Entrando recentemente no discurso político,
o design transformou-se em panaceia para a falta de valor intrínseco da
produção industrial nacional.
Relaciona-se assim a qualidade dos produtos com a eficácia dos processos
de projecto. A acentuada lucidez desta premissa levar-nos-ia a supor seriedade
da parte do Estado na definição de um objectivo que, em princípio,
poderia ser uma prioridade: aumentar as exportações, fazendo coisas
que os estrangeiros desejem e queiram comprar.
Vejamos alguns casos práticos que provam o contrário:
a) "ICEP escolhe americanos para promover Portugal".
Título do DN de Sábado (Negócios p.25), dando conta da preferência
do Instituto de Comércio Externo de Portugal (entidade que deveria ser
integrada nos serviços consulares do MNE, de acordo com protocolo público
estabelecido entre Martins da Cruz e Carlos Tavares, em virtude dos seus supérfluos
gastos e iníquos ganhos) por uma agência americana na criação
da marca "Comércio de Portugal". Veja--se o paradoxo: contrata-se
um estrangeiro, que nem representação possui no país, para
defender e promover empresas e identidade nacionais. Simultaneamente, pede-se
auto-confiança aos portugueses, procurando influenciar os consumidores
a darem preferência ao que é nacional.
Lamentamos este facto por duas razões, por não corroborar a auto-estima
e por não estimular a internacionalização das muito premiadas
agências de design de comunicação portuguesas.
b) Mais um lamentável exemplo do descrédito público
nas empresas portuguesas é dado pela MTS - Metro Transportes do Sul (do
Tejo) que, sem salvaguardar o interesse nacional, adquire 24 composições
ferroviárias "Combinos" fabricadas pela Siemens austríaca
- avaliadas em 60 milhões de euros. Negócios deste tipo deveriam
assegurar algumas contrapartidas para os estados, envolver equipas técnicas
na concepção do material electromecânico e circulante e exigir
a montagem dos equipamentos por indústrias locais, formando técnicos
para a respectiva manutenção e minimizando os custos de transporte
(216 mil euros). De novo satisfeitos com a construção civil!
Bastariam estes dois exemplos, se mais não houvesse,
para demonstrar quão esclerosado e alienado anda o meio político.
Lamentamos que os decisores públicos votem os especialistas portugueses
ao ostracismo, ignorem que só há branding sustentado pela qualidade
do produto e que esta se projecta, antecipa-se e prepara-se com conceitos de inovação
e design integrados.
Com exemplos destes, só pode manter-se o pudor de aventar soluções
para a "crise".
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