Algumas Crónicas
De António
Lobo Antunes
"(...) gosto das pessoas, gosto
que me leiam, gosto sobretudo de conhecer as pessoas que me lêem e me ajudam
a sentir que não lanço ao acaso do mar garrafas com mensagens corsárias
que se não sabe onde vão ter, e gosto dos romances que escrevi. Tenho
orgulho neles e tenho orgulho em mim por ter sido capaz de os fazer".
Por Eduardo Alves
Grandes mensagens e lições de vida presentes num pequeno livro tipo
"colecção de bolso". Uma utilidade que não é
esquecida de todo pelo autor. O mesmo que escreveu "Os Cús de Judas".
Relatos do quotidiano que transformam aventuras fugazes em contos com uma moral.
Episódios de duas ou três páginas cada, onde António
Lobo Antunes leva a que o leitor mais desatento confunda "Algumas Crónicas"
com um qualquer diário.
Este livro e todas as suas crónicas impressas ao longo de 190 páginas
requerem uma atenção especial por parte de quem disponibiliza algum
tempo a exercitar os olhos e a mente numa escrita de características raras.
Lobo Antunes descreve-se e descreve todas as personagens que povoam a sua solidão
interior. Confessa-se um homem triste, por dentro, algo abandonado e esquecido.
Tal como o seu mundo e o seu bairro de Benfica. Aquele lugar onde cresceu e que
agora muda todos os dias. Igual ao mundo que o absorveu.
Poderia também este livro servir de guia turístico para um visitante
da capital portuguesa. Não fossem as ruas que agora só existem nas
recordações. Os fregueses da "Adega dos Ossos" que abandonaram
há muito o dito estabelecimento e tudo o mais ter dado lugar a uma metrópole
atulhada de carros, repleta de prédios com cinco, seis, sete, oito ou nove
pisos.
Desabafos, melancolias e sentimentos de uma solidão infinita preenchem o
ser e as crónicas de Lobo Antunes. Mas este não é um livro
triste, pelo contrário. A escrita de Lobo Antunes está aqui cheia
de humor. As 44 crónicas apresentadas são, acima de tudo, retratos
de um escritor que tenta explicar as suas ideias e o porquê da sua escrita.
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