José Geraldes
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Banco dos Pobres
A quem tem vontade de trabalhar, o modelo oferece uma oportunidade
de desenvolver negócios que vão prover as necessidades familiares
Pode a simples confiança garantir um empréstimo
bancário? Por mais utópico que isso pareça, a resposta à
minha pergunta é sim. E, no caso português, com milhares e milhares
de famílias endividadas aos bancos, a ideia não raia a provocação?
Expliquemo-nos. Os critérios da atribuição de um crédito
bancário por um acto de confiança já foram testados com a
nota positiva de terem conseguido eliminar situações de pobreza.
Com o aumento de desempregados que, neste momento assola o País e a Cova
da beira, esta forma de crédito bancário tem virtualidades para
resolver situações, à primeira vista muito críticas.
A ideia de "um banco dos pobres" partiu da iniciativa de um professor
universitário da Índia, Muhammad Iunus. Vendo as carências
em que viviam muitas famílias na sua cidade, o professor de economia criou
o micro crédito. Ou seja, empréstimos de pequenas quantias que permitam
lançar as bases de um negócio. O lançamento do seu banco
- o Grameen Bank - assentou precisamente na confiança dos mais pobres que
cumpriram sempre os compromissos assumidos. A concessão dos empréstimos
abrange 500 actividades diferentes e exige a formação de um grupo
de, pelo menos, cinco pessoas.
O sistema de reembolso, também baseado na relação de confiança,
faz-se em prestações semanais e por pequenas quantias. O investimento
assim é preferencial em negócios de retorno imediato.
O Banco dos Pobres está implantado já em mais de 100 países
e o objectivo actual é conceder o microcrédito a mais de 100 milhões
de famílias.
E em Portugal? Será possível aplicar, entre nós, o que Muhammad
Iunus pensou para o seu país com características diferentes da Europa?
Com o subsídio de desemprego e o funcionamento do Estado-Providência
e as suas prestações sociais, o modelo não vai destoar para
quem precise de recorrer à banca para um empréstimo? De maneira
nenhuma.
A filosofia é a mesma. Introduzidas as necessárias adaptações,
o banco já funciona em Portugal com resultados satisfatórios, através
da Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC) fundada
em 1998*.
Segundo Jorge Wemans, presidente da ANDC, em regime de voluntariado, ex-fundador
do Público e actualmente director de comunicação da Fundação
Calouste Gulbenkian, o banco destina-se "a pessoas que têm algum grau
de exclusão, ou seja, não têm acesso ao crédito 'normal'".
Neste caso, incluem-se os desempregados. Ao contrário do método
indiano, torna-se sempre necessário um fiador para dar ao empréstimo
o sentido de responsabilidade.
Os empréstimos são concedidos por um prazo de três anos e
devem ser pagos em prestações mensais com taxas de juro inferiores
às da banca. Trezentos pequenos empresários já beneficiaram
dos empréstimos que andam à volta de cinco mil euros. E assim já
nasceram microempresas de produtos alimentares, artesanato, comércio, construção
civil, restauração e serviços diversos.
A confiança é sempre a palavra chave. Quer da parte do empresário,
quer da parte do banco-associação que concede o crédito.
A quem tem vontade de trabalhar, o modelo oferece uma oportunidade de desenvolver
negócios que vão prover as necessidades familiares. E contribuir,
com uma pequena quota-parte, para o fortalecimento do tecido social. E, sobretudo
acaba com o mito de que o subsídio de desemprego é a única
alternativa para os que são objecto de despedimento.
Os desempregados e os mais desfavorecidos têm, agora a palavra.
*Associação Nacional de Direito ao Crédito
- Rua Castilho, 61 - 2. º Dt.º. Lisboa - Telef.: 213 863 699
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