Na conferência foi abordada uma visão diferente da actual sobre a medicina
Seminário
A História da medicina

Investigar novos compostos e técnicas empregues na cura de doenças têm ocupado a maior parte do tempo dos cientistas. Outros há que preferem desvendar as bases desta ciência.


Por Eduardo Alves


Procurar o elo de ligação entre o rigor da medicina antiga e as ciências médicas da actualidade foi o objectivo da palestra intitulada "A vitória sobre Trasímaco: Hipócrates e a Medicina Grega". António Pedro Mesquita veio à Covilhã apresentar as conclusões das suas pesquisas sobre este assunto. Uma visão diferente da habitual sobre a medicina.
Manuel Silveira Marques, docente da cadeira de História da Medicina, na UBI, foi o promotor desta iniciativa. Hipócrates aparece como figura central, uma vez que foi este médico grego que conseguiu mostrar e garantir a autonomia da medicina. Uma acção conseguida através da demarcação do campo religioso e filosófico. Hipócrates não foi o primeiro médico, como muitas vezes é referido. A ele se deve a introdução de uma prática persistente de observação semiológica dos doentes e posterior descrição. Uma prática que deu origem ao prognóstico. Quem salienta que, "a medicina torna-se ciência com Hipócrates".
Para além de abrir as portas a uma ciência médica e metodologia clínica própria, este médico grego que viveu na ilha de Cós, foi também o criador da deontologia médica. "a deontologia está muito mais entranhada do que está na prática clínica de hoje em dia", acrescenta António Mesquita. Actualmente, todos os profissionais de saúde continuam a orientar a sua profissão pelo Juramento de Hipócrates.

Tecnologia faz a diferença

Uma das teorias de Hipócrates, refere que a saúde de um corpo está assente no equilíbrio dos seus componentes. O silêncio dos órgãos traduz o bom estado dos indivíduos. O equilíbrio natural não deve ser "incomodado". Quando tal acontece e algum dos órgãos se manifesta, então é porque o corpo está doente.
Esta prática orientou toda a escola hipócratica, a qual se manteve até finais do século XVIII. A não distinção das diferentes doenças e parco recurso a alguns avanços manifestaram resultados desastrosos.
A medicina actual, recorrendo à tecnologia, apresenta uma metodologia bastante diferente. Para António Mesquita, "a medicina moderna avançou muito em termos de conhecimento das causas, em termos do tratamento e também na obtenção de resultados". No entanto, este profissional acrescenta que, "perdeu-se alguma dimensão humana, fruto da medicina se encarar como uma profissão igual às outras".

Ensino da medicina na UBI

Na opinião deste profissional, o método de ensino empregue na UBI, "tem aspectos muito positivos nomeadamente, na parte em que se insiste muito na participação e na investigação dos alunos". António Mesquita acrescenta que "é preciso ter em conta que a aprendizagem dos alunos é feita pelos próprios, mas é preciso verificar se ela é mesmo feita".
Manuel Silveira Marques, docente no Departamento de Ciências Médicas, refere que o ensino da medicina, não só na UBI, como no resto do país, necessita de uma maior aposta política. Este incremento de esforço deve centrar-se na captação e fixação de profissionais nos hospitais universitários e centros de saúde com a vocação de ensino.