Procurar o elo de ligação
entre o rigor da medicina antiga e as ciências médicas da actualidade
foi o objectivo da palestra intitulada "A vitória sobre Trasímaco:
Hipócrates e a Medicina Grega". António Pedro Mesquita veio à
Covilhã apresentar as conclusões das suas pesquisas sobre este assunto.
Uma visão diferente da habitual sobre a medicina.
Manuel Silveira Marques, docente da cadeira de História da Medicina, na UBI,
foi o promotor desta iniciativa. Hipócrates aparece como figura central,
uma vez que foi este médico grego que conseguiu mostrar e garantir a autonomia
da medicina. Uma acção conseguida através da demarcação
do campo religioso e filosófico. Hipócrates não foi o primeiro
médico, como muitas vezes é referido. A ele se deve a introdução
de uma prática persistente de observação semiológica
dos doentes e posterior descrição. Uma prática que deu origem
ao prognóstico. Quem salienta que, "a medicina torna-se ciência
com Hipócrates".
Para além de abrir as portas a uma ciência médica e metodologia
clínica própria, este médico grego que viveu na ilha de Cós,
foi também o criador da deontologia médica. "a deontologia está
muito mais entranhada do que está na prática clínica de hoje
em dia", acrescenta António Mesquita. Actualmente, todos os profissionais
de saúde continuam a orientar a sua profissão pelo Juramento de Hipócrates.
Tecnologia faz a diferença
Uma das teorias de Hipócrates, refere que a saúde de um corpo está
assente no equilíbrio dos seus componentes. O silêncio dos órgãos
traduz o bom estado dos indivíduos. O equilíbrio natural não
deve ser "incomodado". Quando tal acontece e algum dos órgãos
se manifesta, então é porque o corpo está doente.
Esta prática orientou toda a escola hipócratica, a qual se manteve
até finais do século XVIII. A não distinção
das diferentes doenças e parco recurso a alguns avanços manifestaram
resultados desastrosos.
A medicina actual, recorrendo à tecnologia, apresenta uma metodologia bastante
diferente. Para António Mesquita, "a medicina moderna avançou
muito em termos de conhecimento das causas, em termos do tratamento e também
na obtenção de resultados". No entanto, este profissional acrescenta
que, "perdeu-se alguma dimensão humana, fruto da medicina se encarar
como uma profissão igual às outras".
Ensino da medicina na UBI
Na opinião deste profissional, o método de ensino empregue na UBI,
"tem aspectos muito positivos nomeadamente, na parte em que se insiste muito
na participação e na investigação dos alunos".
António Mesquita acrescenta que "é preciso ter em conta que
a aprendizagem dos alunos é feita pelos próprios, mas é preciso
verificar se ela é mesmo feita".
Manuel Silveira Marques, docente no Departamento de Ciências Médicas,
refere que o ensino da medicina, não só na UBI, como no resto do
país, necessita de uma maior aposta política. Este incremento de
esforço deve centrar-se na captação e fixação
de profissionais nos hospitais universitários e centros de saúde
com a vocação de ensino.
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