"Um navio naufragado", foi a expressão utilizada por Manuel
Frexes para definir a situação da Eres, empresa fundanense que faliu
no ano passado. O presidente da autarquia fundanense responde assim ao pedido
das trabalhadoras para que a Câmara intercedesse junto do Governo "com
vista a que se encontre uma solução para a empresa".
Cerca de 50 trabalhadoras percorreram, na quinta feira, 6, as ruas do Fundão
numa manifestação com o objectivo de chamar a atenção
para a situação da empresa. "Queremos a Eres a trabalhar"
e "só o trabalho dá riqueza" foram as frases que mais
se ouviram. O protesto abrandou quando Luís Garra, presidente do Sindicato
Têxtil da Beira Baixa (STBB), foi ouvido por Manuel Frexes e por todo o
executivo camarário.
Garra reforça novamente a ideia de que a reabertura da empresa é
a solução. O presidente do STBB afirma que "entre vender por
um preço baixíssimo para especulação imobiliária
e ser vendido para reabertura parece-nos que, mal por mal, vale mais trabalhar
numa solução de reabertura da empresa". O dirigente sindical
lembra que "não sendo possível encontrar ninguém que
esteja disposto a reactivar a empresa e a criar postos de trabalho, nós
esperamos o tempo que for necessário ".
Frexes considera que "não vale a pena continuar a laborar naquilo
que não tem futuro. Não vale a pena continuar a tentar salvar os
despojos do naufrágio, porque, mais tarde ou mais cedo, vai ao fundo".
O autarca fundanense não deixa, no entanto, de manifestar o seu apoio a
todas as desempregadas. "A Câmara tem continuado a desenvolver esforços
no sentido de defender os trabalhadores. Temos em oficinas de formação
e em programas sociais e de reconversão profissional cerca de 150 trabalhadoras
da Eres", explica o autarca.
Os bens da Eres foram recentemente levados a leilão, mas a proposta inicial
de venda da totalidade dos equipamentos não foi satisfeita. Perante a falta
de propostas, a fábrica foi vendida por lotes tendo rendido 60 mil 330
euros. A totalidade do equipamento e a nave industrial ficaram ainda por negociar,
tendo duas empresas feito uma proposta muito abaixo do valor base. Essas propostas
deveriam ser analisadas até à passada terça feira, 11, pela
Comissão de Credores. Mas, Luís Garra afirmava ainda não
ter aparecido mais ninguém interessado na compra da empresa.
Depois do subsídio, que rumo?
Madalena Abrantes, representante das ex-trabalhadoras da Eres, esteve naquela
empresa 20 anos. Agora, sente-se "revoltada". A maior preocupação
das mulheres que deram a sua vida à empresa de confecções
é o que farão depois de o subsídio de desemprego acabar.
Madalena Abrantes afirma que "com 47 anos não vou arranjar emprego
em qualquer lado e para a reforma ainda sou muito nova".
Isabel Santos trabalhou 20 anos na empresa e refere não querer voltar para
lá, mas afirma que "aquilo não é um navio afundado.
Se não pode abrir com 400 trabalhadoras que abra com 20 ou 30. Podem até
fazer várias fábricas". A ex-trabalhadora lembra que "a
Eres acabou, mas poderá abrir noutra situação".
|