Raquel Fragata

Estou triste


Passou muito tempo desde a madrugada de 31 de Julho de 2001. Foi nessa noite que fechei o meu último Urbi et Orbi e sobre esses tempos poderia escrever saudades.
Quando me pedem agora que comente o passado tomo a liberdade de desviar o assunto. Penso então no presente e em como estou distante da profissão que quis, e quero.
Com a mesma tristeza olham o presente milhares de jornalistas, jovens jornalistas, recém-licenciados ou não, que não conseguiram ainda levar a bom porto esse sonho.
Outros haverá que, em exercício da profissão, se entristecem diariamente com o trabalho que fazem e vêem publicado.
Num dado momento escolhi não fazer jornalismo sob pena de ressoarem na minha cabeça muitas aspas de cada vez que tivesse que me apresentar em trabalho. Não me arrependo, aliás continuo muito reticente em fazê-lo um qualquer dia.
Eu gostaria de fazer o jornalismo que o José Manuel Barata-Feyo ensinou à Marta Caires. (Li há dias o desabafo desta jovem recém licenciada em Comunicação Social, publicado na Grande Reportagem de Janeiro.)
“Um bom homem será sempre um bom jornalista.” São palavras simples, proferidas nas salas de aula de um dos jornalistas portugueses que me merece maior reconhecimento na actualidade, e eu, pessoalmente, sempre acreditei nelas.
Mas, do lado de lá da porta do anfiteatro, há muito que o mercado se fechou a esses bons jornalistas. Esse jornalismo está preenchido por bons profissionais – bons homens, acredito – que todos os dias, desde há meses, vêem secretárias desertificarem-se mesmo ao lado das suas.
É discutível, admito, mas parece-me sintomática a diferença com que um e outro jornalismo têm sido afectados pela crise económica que Portugal está a viver. Será sintomático de um futuro abundante, colorido e fútil que estamos a preparar. Sorria! Não é o futuro, é o presente.

Parabéns Urbi.