Paulo Serra lecciona na UBI há cinco anos

Entrevista com Paulo Serra
"A UBI já tem um nome feito"

Licenciado em filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Paulo Serra leccionou durante cerca de vinte anos no Ensino Secundário. Doutorado em Ciências da Comunicação na Universidade da Beira Interior (UBI), é há cinco anos docente do Departamento de Comunicação e Artes da UBI.
O novo Director do Curso de Ciências de Comunicação assumiu funções em Janeiro e diz que a vontade dos alunos foi determinante na remodelação do curso. Paulo Serra sublinha que, para aumentar a qualidade do ensino em Portugal são necessários professores e alunos mais exigentes e rigorosos.




Por Elizabete Cardoso


Urbi et Orbi- O que o levou a aceitar a proposta para o cargo de Director do curso de Ciências da Comunicação ?
Paulo Serra- Aceitei esta proposta porque entendo este tipo de cargos no sentido de prestar um serviço à comunidade. Este cargo é para exercer durante dois anos. Penso que durante este tempo vou ter de estar mais disponível, quer para alunos quer para professores. Ao fim desses dois anos, acho ideal que termine a nomeação e haja uma outra pessoa que se proponha durante mais dois anos e assim sucessivamente. Acredito que todos os cargos de nomeação ou de eleição têm que ser rotativos o que implica uma mudança ao nível de ideias e de projectos.

U@O- O que acha sobre o funcionamento do curso de Ciências da Comunicação?
P.S.- Penso que o curso está a funcionar bem. Já pedi reuniões com o núcleo de estudantes, o UBIMédia e até hoje ainda não houve possibilidade de reunir. Queria fazer uma avaliação, quer da parte dos alunos quer da parte dos professores. Estou à espera que os alunos venham ter comigo e me exponham os problemas.

U@O-Quais foram os motivos que provocaram a remodelação do curso?
P.S.-A reestruturação do curso partiu de uma necessidade, da vontade manifestada pelos alunos nos últimos anos, nomeadamente pelo UBI Média e pelos alunos do pedagógico para que o curso tivesse uma componente prática logo a partir do terceiro ano.

U@O-Apesar da reestruturação não pensa que os dois primeiros anos continuam a ser demasiado teóricos?
P.S.-Há três anos houve uma avaliação externa e uma das mais valias que a Comissão avaliou foi justamente a forte carga teórica. É isso que distingue os cursos das universidades dos cursos leccionados nos politécnicos, onde as pessoas começam logo nos primeiros anos a ter uma componente prática.

U@O-Esta remodelação também implica especialização. Concorda?
P.S.-A ideia é funcionar com uma carga teórica geral que vai estreitando até se especializar. O risco da especialização é a construção de cursos de banda muito estreita que não oferecem um número tão elevado de saídas profissionais. Neste momento já tive queixas de alunos em relação a esta reestruturação, na medida em que restringe os alunos a um só ramo. A antiga estrutura permitia que as pessoas com o curso de Ciências da Comunicação trabalhassem em coisas mais variadas. Existe sempre o problema de perder em determinados aspectos e ganhar noutros. Nos primeiros anos do curso tem existido um esforço, por parte de alguns professores, de dar uma componente também prática às cadeiras teóricas. No entanto, em geral os alunos não reagem bem a esse tipo de avaliação e preferem que essa seja feita por teste.

U@O-Qual a sua opinião acerca de uma possível mudança da cadeira de Economia para uma cadeira de Economia Portuguesa ou História Económica?
P.S.-Penso que o problema não está no nome da cadeira. A minha opinião é que uma pessoa que tenha a cadeira de Economia Portuguesa e ouça falar no Crash da bolsa de Nova York, não entende de que se trata. Quanto à cadeira de História Económica penso que uma pessoa que a tenha talvez não consiga interpretar gráficos económicos. Neste momento não se pode fazer nada, porque a reestruturação só pode ser feita de quatro em quatro anos, de qualquer modo poderá colocar-se a hipótese de existir uma possível alteração no programa da cadeira, se for realmente essa a vontade dos alunos.

U@O-Com a crescente evolução da Tecnologias da Comunicação, não acha que deveria existir uma cadeira de informática no curso?
P.S.-Isso foi pensado a nível da reestruturação. Mas o problema é que não dá para colocar todas as cadeiras que os alunos precisam. Ao nível do Secundário essa cadeira vai ser criada, a ideia é a de que um curso superior não pode, por exemplo ensinar línguas, porque se parte do princípio que quando um aluno chega à Universidade ele já tem que dominar a língua. O mesmo acontece com a informática.

"Existe uma desarticulação entre os programas do Ensino Secundário e os do Ensino Superior".

U@O-Acha então que os alunos já vêm preparados para isso?
P.S.-O que acontece é que existe uma desarticulação entre os programas do Ensino Secundário e os do Ensino Superior. A remodelação do curso fez com que tivessem de ser eliminadas algumas cadeiras teóricas para a integração de cadeiras mais práticas, como foi o caso do Francês e do Inglês, que passaram de cadeiras obrigatórias a alternativas. Mas, rigorosamente nenhuma destas cadeiras deveria existir, porque apesar de serem precisas não têm directamente a ver com o curso de Ciências da Comunicação, e já deveriam ter sido aprendidas no secundário.

U@O-Qual a sua opinião acerca da preparação que os alunos trazem do secundário?
P.S.-Eu diria que vêm razoavelmente bem preparados. Não acho que seja um cataclismo, como por vezes se diz, que os alunos vêm mal preparados sem saber ler nem escrever. Penso que poderia haver uma maior articulação quanto aos programas e matérias leccionados no secundário e posteriormente na universidade. Trabalhei muitos anos no secundário e sei que a preparação dos professores é tão boa como a preparação dos professores universitários. Por isso, acho que não é esse o problema para a má preparação dos alunos. Quanto a mim o problema passa sobretudo por existir um desajuste entre os programas do secundário e os da universidade.

U@O-O que acha sobre o ensino em Portugal?
P.S.-Acho que se caiu numa certa balbúrdia. Neste momento estamos a precisar de rigor e de exigência, tanto da parte de alunos como de professores. Precisamos de alunos e professores mais exigentes, que produzam mais e que tenham mais rendimento a todos os níveis.

U@O-O que pensa sobre os cortes orçamentais?
P.S.- Apesar de ninguém gostar deles, são uma necessidade neste momento, e talvez tenham a virtude de nos obrigar a fazer as mesmas coisas com menos dinheiro. Em relação às universidades o problema neste momento é que a quase totalidade do orçamento que é atribuído pelo Estado vai para vencimentos. De qualquer maneira, penso que nos últimos anos se abusou em termos de abertura de determinados cursos que não tinham justificação, principalmente em universidades privadas e politécnicos, que neste momento estão a começar a pagar uma factura elevada.

U@O-Se alguém lhe pedisse para dar algumas razões, para que alunos que pensam ingressar no ensino superior escolham a UBI, que razões apontaria?
P.S.-Encontram-se poucas universidades no País com equipamentos, a nível informático, salas, biblioteca e electricidade em tão boas condições como a UBI. Há universidades que, provavelmente por serem mais antigas, conseguem agora ter melhores condições. Mas, mesmo universidades privadas têm, por vezes, muito menos condições que a UBI. Até mesmo em termos de professores, tem existido um esforço muito grande a nível da qualificação do corpo docente.

U@O-E quanto a cantinas e residências?
P.S.-Nas cantinas e refeitórios há sempre queixas. Eu mesmo estive em residências universitárias, comi sempre em cantinas, e sei que a qualidade da comida deixa sempre a desejar, porque a pessoa quer sempre mais. Porém, temos de ter em conta que o facto de ter uma cantina e residências a funcionar já é muito bom. Há cerca de dois anos o Diário de Notícias fez um estudo às universidades de todo o país, inquiriu alunos e chegou a conclusão que a UBI era a nível nacional, a universidade que tinha melhores condições de habitabilidade para os alunos.

U@O-E quanto à afirmação da UBI no contexto nacional?
P.S.-
Hoje em dia, no que respeita a Comunicação a UBI tem já um nome feito, sobretudo na área das Tecnologias de Informação e ao nível da imagem. A própria criação da licenciatura em Cinema no próximo ano é produto de um trabalho realizado. Ou mesmo a criação da Faculdade de Medicina, que foi a grande criação desta universidade nos últimos anos, é possível porque se reconhece à universidade capacidade e vontade de trabalho, no sentido de assegurar esse curso.