Urbi et Orbi- O que o levou a aceitar a proposta
para o cargo de Director do curso de Ciências da Comunicação
?
Paulo Serra- Aceitei esta proposta porque entendo este tipo de cargos no
sentido de prestar um serviço à comunidade. Este cargo é para
exercer durante dois anos. Penso que durante este tempo vou ter de estar mais disponível,
quer para alunos quer para professores. Ao fim desses dois anos, acho ideal que
termine a nomeação e haja uma outra pessoa que se proponha durante
mais dois anos e assim sucessivamente. Acredito que todos os cargos de nomeação
ou de eleição têm que ser rotativos o que implica uma mudança
ao nível de ideias e de projectos.
U@O- O que acha sobre o funcionamento do curso de Ciências da
Comunicação?
P.S.- Penso que o curso está a funcionar bem. Já pedi reuniões
com o núcleo de estudantes, o UBIMédia e até hoje ainda não
houve possibilidade de reunir. Queria fazer uma avaliação, quer
da parte dos alunos quer da parte dos professores. Estou à espera que os
alunos venham ter comigo e me exponham os problemas.
U@O-Quais foram os motivos que provocaram a remodelação do curso?
P.S.-A reestruturação do curso partiu de uma necessidade,
da vontade manifestada pelos alunos nos últimos anos, nomeadamente pelo
UBI Média e pelos alunos do pedagógico para que o curso tivesse
uma componente prática logo a partir do terceiro ano.
U@O-Apesar da reestruturação não pensa que os dois primeiros
anos continuam a ser demasiado teóricos?
P.S.-Há três anos houve uma avaliação externa
e uma das mais valias que a Comissão avaliou foi justamente a forte carga
teórica. É isso que distingue os cursos das universidades dos cursos
leccionados nos politécnicos, onde as pessoas começam logo nos primeiros
anos a ter uma componente prática.
U@O-Esta remodelação também implica especialização.
Concorda?
P.S.-A ideia é funcionar com uma carga teórica geral que
vai estreitando até se especializar. O risco da especialização
é a construção de cursos de banda muito estreita que não
oferecem um número tão elevado de saídas profissionais. Neste
momento já tive queixas de alunos em relação a esta reestruturação,
na medida em que restringe os alunos a um só ramo. A antiga estrutura permitia
que as pessoas com o curso de Ciências da Comunicação trabalhassem
em coisas mais variadas. Existe sempre o problema de perder em determinados aspectos
e ganhar noutros. Nos primeiros anos do curso tem existido um esforço,
por parte de alguns professores, de dar uma componente também prática
às cadeiras teóricas. No entanto, em geral os alunos não
reagem bem a esse tipo de avaliação e preferem que essa seja feita
por teste.
U@O-Qual a sua opinião acerca de uma possível mudança
da cadeira de Economia para uma cadeira de Economia Portuguesa ou História
Económica?
P.S.-Penso que o problema não está no nome da cadeira. A
minha opinião é que uma pessoa que tenha a cadeira de Economia Portuguesa
e ouça falar no Crash da bolsa de Nova York, não entende de que
se trata. Quanto à cadeira de História Económica penso que
uma pessoa que a tenha talvez não consiga interpretar gráficos económicos.
Neste momento não se pode fazer nada, porque a reestruturação
só pode ser feita de quatro em quatro anos, de qualquer modo poderá
colocar-se a hipótese de existir uma possível alteração
no programa da cadeira, se for realmente essa a vontade dos alunos.
U@O-Com a crescente evolução
da Tecnologias da Comunicação, não acha que deveria
existir uma cadeira de informática no curso?
P.S.-Isso foi pensado a nível da reestruturação.
Mas o problema é que não dá para colocar todas as cadeiras
que os alunos precisam. Ao nível do Secundário essa cadeira
vai ser criada, a ideia é a de que um curso superior não pode,
por exemplo ensinar línguas, porque se parte do princípio
que quando um aluno chega à Universidade ele já tem que dominar
a língua. O mesmo acontece com a informática.
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"Existe uma desarticulação entre os programas do Ensino
Secundário e os do Ensino Superior".
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U@O-Acha então que os alunos já vêm preparados para isso?
P.S.-O que acontece é que existe uma desarticulação
entre os programas do Ensino Secundário e os do Ensino Superior. A remodelação
do curso fez com que tivessem de ser eliminadas algumas cadeiras teóricas
para a integração de cadeiras mais práticas, como foi o caso
do Francês e do Inglês, que passaram de cadeiras obrigatórias
a alternativas. Mas, rigorosamente nenhuma destas cadeiras deveria existir, porque
apesar de serem precisas não têm directamente a ver com o curso de
Ciências da Comunicação, e já deveriam ter sido aprendidas
no secundário.
U@O-Qual a sua opinião acerca da preparação que os alunos
trazem do secundário?
P.S.-Eu diria que vêm razoavelmente bem preparados. Não acho
que seja um cataclismo, como por vezes se diz, que os alunos vêm mal preparados
sem saber ler nem escrever. Penso que poderia haver uma maior articulação
quanto aos programas e matérias leccionados no secundário e posteriormente
na universidade. Trabalhei muitos anos no secundário e sei que a preparação
dos professores é tão boa como a preparação dos professores
universitários. Por isso, acho que não é esse o problema
para a má preparação dos alunos. Quanto a mim o problema
passa sobretudo por existir um desajuste entre os programas do secundário
e os da universidade.
U@O-O que acha sobre o ensino em Portugal?
P.S.-Acho que se caiu numa certa balbúrdia. Neste momento estamos
a precisar de rigor e de exigência, tanto da parte de alunos como de professores.
Precisamos de alunos e professores mais exigentes, que produzam mais e que tenham
mais rendimento a todos os níveis.
U@O-O que pensa sobre os cortes orçamentais?
P.S.- Apesar de ninguém gostar deles, são uma necessidade
neste momento, e talvez tenham a virtude de nos obrigar a fazer as mesmas coisas
com menos dinheiro. Em relação às universidades o problema
neste momento é que a quase totalidade do orçamento que é
atribuído pelo Estado vai para vencimentos. De qualquer maneira, penso
que nos últimos anos se abusou em termos de abertura de determinados cursos
que não tinham justificação, principalmente em universidades
privadas e politécnicos, que neste momento estão a começar
a pagar uma factura elevada.
U@O-Se alguém lhe pedisse para dar algumas razões, para que
alunos que pensam ingressar no ensino superior escolham a UBI, que razões
apontaria?
P.S.-Encontram-se poucas universidades no País com equipamentos,
a nível informático, salas, biblioteca e electricidade em tão
boas condições como a UBI. Há universidades que, provavelmente
por serem mais antigas, conseguem agora ter melhores condições.
Mas, mesmo universidades privadas têm, por vezes, muito menos condições
que a UBI. Até mesmo em termos de professores, tem existido um esforço
muito grande a nível da qualificação do corpo docente.
U@O-E quanto a cantinas e residências?
P.S.-Nas cantinas e refeitórios há sempre queixas. Eu mesmo
estive em residências universitárias, comi sempre em cantinas, e
sei que a qualidade da comida deixa sempre a desejar, porque a pessoa quer sempre
mais. Porém, temos de ter em conta que o facto de ter uma cantina e residências
a funcionar já é muito bom. Há cerca de dois anos o Diário
de Notícias fez um estudo às universidades de todo o país,
inquiriu alunos e chegou a conclusão que a UBI era a nível nacional,
a universidade que tinha melhores condições de habitabilidade para
os alunos.
U@O-E quanto à afirmação da UBI no contexto nacional?
P.S.- Hoje em dia, no que respeita a Comunicação a UBI tem já
um nome feito, sobretudo na área das Tecnologias de Informação
e ao nível da imagem. A própria criação da licenciatura
em Cinema no próximo ano é produto de um trabalho realizado. Ou
mesmo a criação da Faculdade de Medicina, que foi a grande criação
desta universidade nos últimos anos, é possível porque se
reconhece à universidade capacidade e vontade de trabalho, no sentido de
assegurar esse curso.
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