António Fidalgo
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Racionalização do ensino superior e repetição de cursos
Em grande entrevista ao jornal Ensino Magazine de Janeiro de 2003 o Ministro da Ciência e do Ensino Superior
refere
novamente o caso da Beira Interior para afirmar a necessidade de racionalizar o ensino superior em Portugal. Diz Pedro
Lynce textualmente: "Não podemos continuar a repetir cursos na Guarda, na Covilhã e em Castelo Branco". E depois
continua: "Ou aceitamos 'acertar' os cursos, sentando à mesa os responsáveis pelas instituições ou, dentro de 3 a 5
anos, duas dessas instituições desaparecerão, só uma persistirá. Será isso razoável? Não é. Significaria prejuízos
graves para a região. Para o Governo, é perfeitamente inaceitável."
Curiosa e paradoxalmente foi o próprio Pedro Lynce que permitiu a abertura em 2002/2003 do curso de Marketing na
Guarda, na Covilhã e em Castelo Branco. Tal nunca ocorrera antes, a abertura simultânea do mesmo curso nas 3 escolas
em causa.
Por outro lado, a repetição de cursos é muito mais gritante em escolas de Lisboa, que distam nalguns casos escassas
centenas de metros, do que na Beira Interior. Dir-se-á que lá os alunos não faltam ao contrário do que acontece aqui.
Mas isso é falso. Por exemplo, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e a Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa repetem cursos que de modo algum preenchem as vagas. Porque é que aí não são
convidados os respectivos reitores a entenderem-se para 'acertar' cursos, nós damos estes e vocês dão esses?
É incontestável que há excesso de oferta no ensino superior em Portugal, é inegável que há desperdício de recursos, e
aqui estamos todos de acordo com o Sr. Ministro, de que é
preciso racionalizar os meios. O que não faz sentido é trazer
sempre à liça a UBI, que tem sido um caso de êxito na captação de alunos e na consolidação de um projecto
universitário com cabeça, tronco e membros.
Que significa 'acertar' cursos? Fechar os cursos com poucos alunos numa instituição? A UBI já o fez, nomeadamente com
os cursos de Engenharia Geotécnica e de Engenharia do Papel, sem para isso acertar nada. E como acertar o quer que
seja relativamente aos cursos relacionados com a agricultura, quando apenas existe a Escola Agrária de Castelo Branco,
que não tem concorrência nem na UBI nem na Guarda? Não estão esses cursos entre os que têm mais dificuldades em
sobreviver?
Ainda bem que é inaceitável para o Governo o fecho dos Politécnicos da Beira Interior, mas isso não pode ser
conseguido à custa da distribuição dos alunos da UBI, a mais pequena universidade pública em Portugal. Muito mais
importante do que ter a presença de ensino superior nas 3 maiores cidades do Beira Interior, é ter na Beira Interior
um ensino superior de grande qualidade que atraia os estudantes do Litoral, nomeadamente da Grande Lisboa.
Abrir simultaneamente 3 cursos de Marketing na UBI e nos Politécnicos vizinhos não é certamente uma medida resultante
de uma visão estratégica para o ensino superior na Beira Interior. Abrir vagas para o Curso de Cinema na UBI, cujos
candidatos viriam na sua grande maioria do Litoral, isso sim seria uma medida de longo alcance, apostando numa área de
futuro, para o país e para a região, e potenciando os importantes recursos já existentes aqui. Oxalá o erro do ano
passado seja corrigido este ano.
O que a UBI tem de fazer é competir no mercado nacional da ciência e do ensino superior, e verdade se diga, que o tem
conseguido, saindo-se bastante melhor que as outras universidades do Interior. Qualidade e inovação são os imperativos
que a UBI tem de cumprir. É tudo. Pela crença de que a qualidade acabará por vir ao de cima.
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