Concelho de Belmonte é dos mais problemáticos da Beira Interior
Começar a consumir droga aos sete anos

O projecto de luta contra a toxicodependência "Sorri à Vida", constata que na Beira Interior, o concelho belmontense é um dos mais atingidos. E revela que há se inicie neste mundo, com apenas sete anos de vida.

João Alves
NC/Urbi et Orbi


Há quem inicie o consumo de droga, em Belmonte, com apenas sete anos de idade. É esta a conclusão de um inquérito levado a cabo pelo projecto de luta à toxicodependência, "Sorri à Vida I", no último ano, neste concelho da Beira Interior.
Recorde-se que este projecto de Prevenção Primária, neste concelho, decorreu entre 4 de Setembro de 2001 e Setembro de 2002, tendo como entidade promotora a Associação Nossa Senhora da Esperança, uma Instituição Particular de Solidariedade Social, o Instituto Português da Droga e da Toxicodependência (IPDT) e a autarquia belmontense. E estas entidades, após verificarem que o problema "vem ganhando novos contornos e nova dimensão no concelho", decidiram prorrogar o projecto por mais um ano.
Segundo a entidade promotora, e depois de analisados alguns dados fornecidos pelo projecto de Luta contra a Pobreza, foi possível verificar que "existem famílias onde o flagelo da toxicodependência foi minando progressivamente a vida destes agregados." O projecto dá conta de famílias destruturadas, por vezes filhos consumidores e dependentes, com carências económicas e sociais, onde a falta de diálogo e de envolvimento afectivo são uma constante.
Segundo o projecto "Sorri à vida II", o concelho de Belmonte é considerado um dos mais problemáticos, no que diz respeito à droga e toxicodependência, tendo em conta o número de habitantes e jovens residentes. De acordo com o inquérito levado a cabo pelo projecto, na escola E.B 2/3 e Secundária da vila, a um universo de 70 alunos com idades compreendidas entre os 10 e 18 anos, 22,9 por cento já tinham consumido drogas ilícitas tais como a cocaína, heroína, anfetamina e similares, cannabis, LSD ou ervas alucinogéneas, solventes inalados e ecstazy. O consumo inicia-se, nalguns casos, aos sete anos. Quanto ao consumo de drogas lícitas, como o tabaco, a cerveja, o vinho ou aguardentes, já constitui "um acto generalizado por parte dos jovens em idade escolar". Segundo os dados revelados pelo inquérito, o consumo de drogas inicia-se essencialmente em casa, na casa dos amigos, na rua, na área da escola, em bares e locais de diversão. O mesmo acontece em situações de lazer, de festa, mas também na solidão, tristeza, quando se está desocupado e quando existe gazeta às aulas. O mesmo documento refere que a aquisição de drogas é facilitada , de alguma forma, pela proximidade da cidade da Covilhã e da fronteira de Vilar Formoso.

Sensibilização e divulgação avançam

Agora, nesta segunda fase, o projecto arranca com três objectivos que considera fulcrais: sensibilizar as famílias para a problemática da toxicodependência, informar os jovens sobre todas as questões associadas à droga e oferecer aos mesmos alternativas para a consolidação de estilos de vida saudáveis. Para concretizar estes objectivos, dispõe de uma equipa constituída por uma socióloga, uma educóloga e uma animadora social. Para implementar o projecto, os espaços disponíveis são as escolas dos vários ciclos do ensino básico, a escola secundária e associações recreativas e culturais. O âmbito geográfico da intervenção irá assim alargar-se a todo o concelho, uma vez que no primeiro ano apenas se tinha restringido à vila, em si.
Durante o projecto vão ser desenvolvidas várias actividades, integradas em três acções fundamentais. A primeira passa pela informação aos pais sobre alguns factores de risco e protecção face à problemática, através da realização de palestras nas freguesias, a dinamização de acções de formação e a realização de círculos de estudo. A segunda acção passa pela informação, no meio escolar, das consequências da droga e a ajuda aos jovens, de modo a que sejam capazes de dizer não a comportamentos de risco. Para isso, também serão lançados concursos nos estabelecimentos de ensino. A terceira acção para a fomentação de estilos de vida e educação para a cidadania. Ateliers infantis de expressão dramática, uma oficina de música, sessões lúdico-pedagógicas e educação físico motora são algumas das actividades a desenvolver. O projecto dispõe de um Centro de Documentação, situado no Mercado Municipal, onde as pessoas poderão ter acesso a todo o tipo de informação acerca deste flagelo da sociedade.