José Geraldes
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Unidade
Os cristãos não podem continuar com o estigma
da divisão num mundo marcado pela globalização
Todos os anos, de 18 a 25 de Janeiro, realizam-se acções
a favor da unidade dos cristãos.
Pode parecer estranho para os não crentes mas a divisão em várias
confissões dos cristãos continua a ser um facto no começo
do séc. XXI. Facto que assume foros de escândalo.
No sentido de remover os principais obstáculos que impedem os avanços
para a desejada unidade, têm sido tomadas iniciativas importantes. Assim,
embora, de forma não oficial, nos anos 20, as conversações
de Malines, na Bélgica, constituíram uma etapa a ter em conta na
aproximação entre anglicanos e católicos. Seguiu-se a formação
do grupo de Dombes, em França, por Paul Couturier, um dos pioneiros neste
trabalho. Integravam o grupo teólogos católicos e protestantes.
Com o tempo, conseguiram-se acordos sobre a eucaristia, formularam-se propostas
para uma reconciliação dos ministérios, o Espírito
Santo, a Igreja e os Sacramentos e o ministério da comunhão na Igreja
universal.
Mas foi a partir dos anos 50 que a abertura ao ecumenismo se tornou mais ampla
depois do papa Pio XII aprovar o movimento. Em 1948, formara-se o Conselho Ecuménico
das Igrejas que agrupa as igrejas reformadas, anglo-católicas, ortodoxas
e outras igrejas não unidas a Roma que procuram também a unidade.
Esclareça-se para quem não saiba que a palavra ecuménico
vem da palavra grega oikoimene que designa toda a terra habitada. O que significa
que o ecumenismo envolve todos os que se reclamam da mesma fé.
O Vaticano II elaborou um decreto sobre o ecumenismo que diz "a promoção
da unidade implicar primeiramente esforços espirituais a começar
pela oração em comum e depois o reconhecimento das incompreensões
e o seu arrependimento." Mais adiante o Concílio afirma que a Igreja
Católica conservou verdadeiramente o depósito da fé. Mas
o decreto também sublinha que "as divisões impedem a Igreja
de exprimir na sua vida a plenitude da catolicidade."
Para ultrapassar tais divisões, o Papa João XXIII criou o Secretariado
para a Unidade dos Cristãos que participou pela primeira vez na Assembleia
do Conselho Ecuménico das Igrejas.
Paulo VI avançou para encontros pessoais com Atenágoras, patriarca
de Constantinopla e visitou o Conselho Ecuménico das Igrejas. João
Paulo II, por sua vez, visitou o Primaz da Igreja Anglicana em Cantorbéry.
E tem desenvolvido enormes esforços nos contactos com todas as igrejas
separadas. Além disso, promoveu o encontro de Assis com todos os chefes
religiosos. E, no ano do Jubileu 2000, apresentou, como um sinal deste Jubileu,
a purificação da memória, com o pedido do perdão de
todas as faltas cometidas pelos cristãos.
O próprio livro-guião das celebrações para Unidade
dos Cristãos é da responsabilidade comum do Conselho Pontifício
para a promoção da Unidade dos Cristão e da Conferência
das Igrejas da Europa.
Em Portugal, nos últimos anos o espírito ecuménico deu um
grande salto em frente. Bispos católicos têm participado em celebrações
em conjunto com membros das igrejas separadas.
Os cristãos não podem continuar com o estigma da divisão
num mundo marcado pela globalização. O facto é mesmo um contra-sinal.
Confiemos que se multipliquem os gestos do caminho para a unidade desejada.
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