Os intervenientes nas jornadas falaram sobre as novas formas do cinema
Novas tecnologias e Filme Documentário
A sétima arte na cultura do Homem

Um encontro que serviu, sobretudo, para trocar opiniões e experiências na área do cinema. A importância do filme documentário e as potencialidades dos novos equipamentos de produção cinematográfica também marcaram presença no grande écran.


Por Eduardo Alves


As potencialidades do filme documentário foram discutidas pelos intervenientes nas jornadas "Perspectivar o Futuro, Novas Tecnologias e Filme Documentário", realizadas no passado fim-de-semana, na UBI.
O evento, promovido pelo projecto AKADEMIA/LABCOM e pelo Departamento de Comunicação e Artes da UBI, dividiu-se em três painéis. As principais análises foram centradas na relação dos novos media com os realizadores, com as novas linguagens, e com o filme documentário.
Grande parte dos produtos cinematográficos são produzidos na vertente da ficção. Muitos dos intervenientes partilham da opinião de Joaquín Jordá, docente na Universitat Pompeu Fabra, Barcelona, segundo o qual "o filme de ficção está morto". Este realizador espanhol, refere a falta de novidade e um restrito campo de acção neste tipo de cinema.
Por sua vez, o documentário é uma área ainda por explorar. São poucos os que optam por esta vertente cinematográfica. O documentário não tem vingado nas salas de cinema, pelo que o mercado o remete para a televisão.
Os participantes neste evento referem que o cenário está a mudar, quer pelas novas tecnologias que conferem à produção cinematográfica uma melhor qualidade, quer pela falta de novidade na ficção. O documentário é, para os intervenientes nas jornadas, um tipo de cinema com importância fundamental na preservação cultural e histórica das vivências humanas. A elasticidade narrativa, nesta área, "não é comparável à ficção, que está absolutamente esgotada", refere Pedro Sena Nunes, professor, argumentista e realizador do documentário Margens, exibido durante o encontro. Sena Nunes defende que o filme documentário "goza de uma maior riqueza e frescura, em relação à ficção".
João Mário Grilo, também presente nas jornadas lembrou a questão do financiamento para o filme documentário que "é ainda muito reduzido". O realizador português sublinha que o cinema, documentário ou não, "deve ser considerado um importante documento, na medida em que deve ser objecto de reflexão".
Durante o encontro foi também, segundo Manuela Penafria, docente da UBI, "discutido o impacto das novas tecnologias na produção de documentários". Um efeito que passa, não só pela alteração dos processos de criação e distribuição dos filmes, mas também "pela alteração das questões culturais", avança a docente da UBI.
O assunto conta com diferentes interpretações no mundo da sétima arte. Na opinião de Pedro Sena Nunes, as novas tecnologias retiram um pouco do "ver, estar, observar e sentir". No entanto, o realizador de Margens mostra-se favorável a uma das conclusões destas jornadas. "Há que saber tirar partido da tecnologia que melhor convém a cada projecto", acrescenta.
No encontro, os laços com as instituições espanholas ligadas à área da imagem ficaram mais estreitos. Joaquín Jordá, da Universitat Pompeu Fabra, Barcelona, Alberto Fijo, da Universidad San Pablo e membro do Círculo de Escritores Cinematográficos de Madrid, e Jordi Ballo, Director do Master Documental de Creació, representaram o país vizinho. A língua de Cervantes também marcou presença nas projecções dos filmes Monos como Becky, de Joaquín Jordá e En construcción, de José Luís Guerín.
Nas jornadas estiveram também representantes dos cineclubes de Faro e Viana do Castelo e do Festival Teleciência, de Vila Real.

Formação é "absolutamente essencial"

Ao longo do evento foram exibidos alguns filmes

A criação de licenciaturas na área do cinema é um facto que reúne o consenso dos participantes nas jornadas. Manuela Penafria, lembra que a formação dos jovens na área do cinema "é absolutamente essencial". O conhecimento mais especializado, "no que respeita aos filmes do passado e no modo como o cinema foi pensado por diferentes autores", é para Penafria, "a possibilidade de garantir a qualidade na realização de novos filmes".
Pedro Sena Nunes, docente na Escola Superior de Teatro e Cinema lembra que esta é uma área onde "a capacidade criativa de cada pessoa é muito importante". Mas a formação é um factor que não deve ser esquecido.