As potencialidades do filme documentário
foram discutidas pelos intervenientes nas jornadas "Perspectivar o Futuro,
Novas Tecnologias e Filme Documentário", realizadas no passado fim-de-semana,
na UBI.
O evento, promovido pelo projecto AKADEMIA/LABCOM e pelo Departamento de Comunicação
e Artes da UBI, dividiu-se em três painéis. As principais análises
foram centradas na relação dos novos media com os realizadores, com
as novas linguagens, e com o filme documentário.
Grande parte dos produtos cinematográficos são produzidos na vertente
da ficção. Muitos dos intervenientes partilham da opinião de
Joaquín Jordá, docente na Universitat Pompeu Fabra, Barcelona, segundo
o qual "o filme de ficção está morto". Este realizador
espanhol, refere a falta de novidade e um restrito campo de acção
neste tipo de cinema.
Por sua vez, o documentário é uma área ainda por explorar.
São poucos os que optam por esta vertente cinematográfica. O documentário
não tem vingado nas salas de cinema, pelo que o mercado o remete para a televisão.
Os participantes neste evento referem que o cenário está a mudar,
quer pelas novas tecnologias que conferem à produção cinematográfica
uma melhor qualidade, quer pela falta de novidade na ficção. O documentário
é, para os intervenientes nas jornadas, um tipo de cinema com importância
fundamental na preservação cultural e histórica das vivências
humanas. A elasticidade narrativa, nesta área, "não é
comparável à ficção, que está absolutamente esgotada",
refere Pedro Sena Nunes, professor, argumentista e realizador do documentário
Margens, exibido durante o encontro. Sena Nunes defende que o filme documentário
"goza de uma maior riqueza e frescura, em relação à ficção".
João Mário Grilo, também presente nas jornadas lembrou a questão
do financiamento para o filme documentário que "é ainda muito
reduzido". O realizador português sublinha que o cinema, documentário
ou não, "deve ser considerado um importante documento, na medida em
que deve ser objecto de reflexão".
Durante o encontro foi também, segundo Manuela Penafria, docente da UBI,
"discutido o impacto das novas tecnologias na produção de documentários".
Um efeito que passa, não só pela alteração dos processos
de criação e distribuição dos filmes, mas também
"pela alteração das questões culturais", avança
a docente da UBI.
O assunto conta com diferentes interpretações no mundo da sétima
arte. Na opinião de Pedro Sena Nunes, as novas tecnologias retiram um pouco
do "ver, estar, observar e sentir". No entanto, o realizador de Margens
mostra-se favorável a uma das conclusões destas jornadas. "Há
que saber tirar partido da tecnologia que melhor convém a cada projecto",
acrescenta.
No encontro, os laços com as instituições espanholas ligadas
à área da imagem ficaram mais estreitos. Joaquín Jordá,
da Universitat Pompeu Fabra, Barcelona, Alberto Fijo, da Universidad San Pablo e
membro do Círculo de Escritores Cinematográficos de Madrid, e Jordi
Ballo, Director do Master Documental de Creació, representaram o país
vizinho. A língua de Cervantes também marcou presença nas projecções
dos filmes Monos como Becky, de Joaquín Jordá e En construcción,
de José Luís Guerín.
Nas jornadas estiveram também representantes dos cineclubes de Faro e Viana
do Castelo e do Festival Teleciência, de Vila Real.
Formação é "absolutamente
essencial"
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Ao longo do evento foram exibidos alguns filmes
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A criação de licenciaturas na área do cinema é um
facto que reúne o consenso dos participantes nas jornadas. Manuela Penafria,
lembra que a formação dos jovens na área do cinema "é
absolutamente essencial". O conhecimento mais especializado, "no que
respeita aos filmes do passado e no modo como o cinema foi pensado por diferentes
autores", é para Penafria, "a possibilidade de garantir a qualidade
na realização de novos filmes".
Pedro Sena Nunes, docente na Escola Superior de Teatro e Cinema lembra que esta
é uma área onde "a capacidade criativa de cada pessoa é
muito importante". Mas a formação é um factor que não
deve ser esquecido.
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