Acampar em frente ao tribunal pode ser a próxima forma de protesto, caso os processos não avancem
Protestos podem ir mais longe
Trabalhadores exigem celeridade do tribunal

No próximo dia 20 o sindicato vai reunir com o 3º Juízo do Tribunal da Covilhã. Se os processos em causa não se resolverem, os trabalhadores ameaçam avançar com medidas drásticas de protesto.



Por Catarina Rodrigues


Cerca de uma centena de trabalhadores manifestaram-se na passada sexta feira, 10, junto ao Tribunal da Covilhã. Em causa está o pagamento de salários em atraso e indemnizações provenientes de empresas que faliram há anos. Os trabalhadores queixam-se da falta de celeridade da justiça na resolução dos respectivos processos.
A acção de protesto foi uma iniciativa do Sindicato Têxtil da Beira Baixa (STBB) que já insistiu por várias vezes junto do tribunal, numa actuação mais rápida nestas questões. Luís Garra, presidente do STBB, defende a nomeação de mais um juiz que ajude a resolver os atrasos que existem. O Sindicato Têxtil da Beira Baixa vai reunir no próximo dia 20 com o 3º Juízo do Tribunal da Covilhã. "Vamos ver processo a processo e analisar a sua evolução", assegura Garra. O sindicalista lembra ainda que muitas vezes a culpa não é só do tribunal "mas também dos liquidatários que não cumprem a sua parte para proceder aos respectivos pagamentos". Luís Garra pretende que os processos de falência sejam resolvidos em oito meses como diz a lei.
A opinião dos trabalhadores é unânime. Acusam os tribunais de falta de celeridade. "A justiça não funciona neste País" acusa Jaime Casteleiro, desempregado da empresa Sá Pessoa que encerrou há quatro anos. Afirma que em salários e atraso e indemnizações lhe devem mais de 15 mil euros e está disponível a continuar a luta. Uma opinião partilhada por Patrocínia Gonçalves, que trabalhava na empresa Lanofabril, encerrada há mais de dez anos. Até agora ainda não recebeu o dinheiro a que tem direito, cerca de mil e 200 euros. "O rico é cada vez mais rico e o pobre é cada vez mais pobre", desabafa. Já João Agostinho, desempregado da empresa José Santos Pinto salienta que "caso os pagamentos não sejam efectuados, essa situação só desacredita os tribunais".
As reivindicações dos trabalhadores e do sindicato estão referidas na Moção que Luís Garra entregou no Tribunal da Covilhã e que também será envida ao primeiro ministro, aos ministros da Justiça, Finanças, Trabalho e Solidariedade e aos partidos com assento na Assembleia da República.

Protesto anunciado para Abril

Garra admite que se até Março não houver uma evolução positiva nos processos, os trabalhadores vão acampar em frente ao Tribunal. "Se isso não resultar encaramos a hipótese de ir para a porta do Ministério da Justiça, em Lisboa", assegura o presidente do STBB.
No dia da manifestação foram conhecidos avanços relativamente a duas empresas. O dinheiro referente à Sociedade Têxtil António Roseta encontra-se a pagamento no liquidatário. No caso da Fiação Fiacove as verbas resultantes da venda do património não foram suficientes para pagar aos seus 15 trabalhadores. Uma situação que não agrada ao sindicato, tal como acontece com o arquivamento dos processos referentes à Emprex, onde trabalhavam 60 operários e à antiga fábrica Ernesto Cruz, que empregava cerca de 200 pessoas. Garra lembra que "o tribunal mandou arquivar os processos sem ter notificado os trabalhadores, o sindicato ou o seu advogado". O presidente do STBB faz um apelo ao Ministério do Trabalho e da Segurança Social, para que nos casos em que os processos foram encerrados, os trabalhadores tenham possibilidade de recorrer ao Fundo de Garantia Salarial.
O Sindicato Têxtil da Beira Baixa lembra que ainda estão por resolver os processos das empresas António Matias Batista, Coviveste, Confecções Helsa, Ducalbi, J. Inácio da Conceição, Roque Cabral, J. Santos Pinto, Laniber, Lanofabril, Mamby, Montebela, Sá Pessoa, Sousa Ramos, Texrebe, Têxtil Roseta e Vameca.
Nos últimos 12 meses encerraram ou faliram as empresas Eres, Braz & Neto, Américo de Sousa, Libela, Vaz Morão, António Jorge Paiva, A. D. Lopes e as Confecções Paulense. Garra sublinha que "o recente encerramento de várias empresas pode tornar a situação verdadeiramente insustentável".