Vasco Valdez considera que a informatização dos serviços tributários é essencial para combater a evasão fiscal
Economia em debate na UBI
Lutar contra a fraude

Perspectivar estratégias na luta contra a evasão fiscal foi o principal objectivo da conferência organizada pelo Departamento de Gestão e Economia da UBI. Vasco Valdez, secretário de Estado dos assuntos Fiscais foi um dos convidados e na sua intervenção frisou que é necessário criar "mecanismos repressivos" eficazes para combater a fuga ao fisco.


Por Mário Ramos


O departamento de Gestão e Economia da UBI realizou na última segunda feira, dia 16, uma conferência sobre o tema "Combate à Evasão Fiscal", inserida no âmbito do ciclo de conferências "A Economia em Debate na UBI". Um encontro que contou com a presença de Vasco Valdez, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.
No início da conferência, Vasco Valdez referiu os principais objectivos da sua intervenção, nomeadamente, verificar a "magnitude do fenómeno no nosso País e as políticas que devem ser adoptadas para solucionar a questão da evasão fiscal". O governante identificou um problema estrutural da nossa sociedade, "a questão da mentalidade presente nos países do sul da Europa, e a sua dificuldade no cumprimento das regras instituídas." Referiu, como exemplo, o desrespeito pelas normas de viação. Nesta linha, defendeu, "a luta contra a evasão fiscal é uma necessidade para respeitar valores de equidade, porque quem não paga obriga os contribuintes honestos a pagarem mais para os cofres do Estado".
Para lutar contra este fenómeno "não é suficiente a constituição de campanhas de dissuasão". É necessário, simultaneamente, que sejam elaborados "mecanismos repressivos" eficazes. Vasco Valdez considera que hoje se vive uma perspectiva "mais activa da administração pública e dos tribunais perante as fraudes", sendo a legislação portuguesa "bastante avançada, semelhante à dos EUA". O problema é que, mais importante do que possuir legislação avançada, há que "aplicá-la no quotidiano".
Para melhorar a luta contra a evasão fiscal é, em sua opinião, essencial proceder à informatização dos serviços tributários, "por exemplo, adoptar o modelo espanhol e permitir a progressão do sistema. "Quando há divergências entre aquilo que o contribuinte entrega e a sua real situação económica o registo informático denuncia imediatamente essa irregularidade."
Um passo importante no campo das medidas dissuasora seria "investigar empresas que apresentam prejuízos sucessivos durante três anos", algo que indicia a possibilidade de estarem a apresentar declarações falsas.
Relativamente ao perdão fiscal, Valdez referiu como um avanço o facto de muitos contribuintes que não tinham a sua situação fiscal regularizada não terem tido acesso a benefícios fiscais, "nomeadamente privilégios através de contas poupança reforma ou habitação".

"É necessário uma estratégia na administração fiscal"

O professor Xavier de Basto, docente na Universidade de Coimbra, referiu que a evasão fiscal "é um problema universal. Antigamente era uma questão de honra declarar o património, mas entretanto, houve uma transformação de mentalidades, e actualmente é prática habitual a fuga aos impostos". Basto considerou impossível fiscalizar todos os contribuintes, lutando dessa forma contra a evasão fiscal. Em sua opinião, é necessária uma "estratégia na administração fiscal. Apenas se deveriam fiscalizar as declarações que apresentam discrepâncias grandes. Observar aqueles que têm uma probalidade estimada de incumprimento grande, e não o pequeno contribuinte". Quem não contribui encontra sempre uma razão moral para o seu incumprimento, normalmente porque "não acredita na viabilidade do apelo ético ou cívico." Mas Basto refere que existem características no sistema fiscal que ajudam à evasão, nomeadamente, a sua enorme complexidade. "A complexidade atrai dificuldades que, por sua vez, geram insegurança."
Paulo Seguro, docente na UBI, centrou a sua intervenção na questão da natureza dos cidadãos. Considerou essencial proceder a "um adequado nível de razão que demonstre que os impostos são um dever do cidadão na sociedade. O Estado devia realçar o seu papel de educador, e estes procedimentos educacionais deviam ser instituídos em todos os níveis de ensino". Segundo este, "persiste na sociedade a ideia de que as normas nasceram para serem violadas. O mau cidadão é normalmente um exemplo para os contribuintes". Seguro frisou ainda ser "necessário transmitir à sociedade a ideia de que o risco de ser detectado é muito grande".
Pina Moura, ex-ministro da Economia, cuja presença chegou a ser confirmada nesta conferência, acabou por não comparecer, devido à realização de uma reunião sobre o novo Código de Trabalho na Assembleia da República.